Gisele Alquas
“O canto dessa cidade sou eu, o canto dessa cidade é meu”. Este poderoso refrão foi um dos responsáveis pela inclusão de um gênero musical no Brasil: o axé. O Canto da Cidade, com estrofes como “gueto a rua a fé, eu vou andando a pé pela cidade bonita. O toque do afoxé e a força de onde vem ninguém explica, ela é bonita”, honrou sua intérprete, Daniela Mercury, o título de rainha do axé music no País.
A canção completa 20 anos. É uma homenagem ao povo simples da cidade de Salvador. Os versos da canção mostram que a “cultura da cidade é definida por uma gente que encontra nos seus costumes uma forma de resistência, uma resposta à discriminação”.
Daniela Mercury se tornou internacionalmente conhecida por essa música, tornando-se um de seus grandes hits. Ela não só marcou o início da carreira da cantora como também uma geração. A canção estourou na época do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e da crise político-econômica que assolava o país. No livro Noites Tropicais, o produtor musical Nelson Motta afirmou que O Canto da Cidade foi “responsável por resgatar um pouco da alegria e autoestima do Brasil na época da crise”.
Em entrevista exclusiva ao Terra, Daniela, que completa 47 anos neste sábado (28), falou da importância dessa canção para ela e o cenário musical. “Lembro-me quando ouvi, pela primeira vez, o samba-reggae, um ritmo criado por Neguinho do Samba, mestre de percussão do Olodum. Decidi que eu queria fazer aquilo, que seria uma base para minha obra. O Canto da Cidade chegou pra mim em uma fita cassete, sendo batucada na porta de uma geladeira, sem nenhuma produção. Quando ouvi alguns dos versos, achei a coisa mais linda do mundo”, se emocionou.
Este ano, a cantora ganhou uma homenagem da escola de samba Portela em comemoração aos 20 anos da música. Artistas que surgiram no cenário pós O Canto da Cidade como Ivete Sangalo e Michel Teló também falaram ao Terra sobre o significado da canção para a cultura do País.