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Chão e Chinelo A rabeca encontra a guitarra na Loa do Boi da Meia Noite
Quem já dançou forró num terreiro sabe o que tem de especial o contato do chão de terra batida com o chinelo dos pés. As pessoas balançam no barro, marcando o ritmo da música com o atrito do calçado no solo e levantando a poeira que machuca os olhos, mas alegra o espírito. Pois é exatamente esta imagem de arrasta-pé que simboliza o som de uma banda, velha conhecida das festas de universitários e de bares pernambucanos. O nome do grupo não podia ser outro: Chão e Chinelo. Formado em 95 por três estudantes dos cursos de história e psicologia, o Chão e Chinelo foi criado para uma apresentação numa calourada. Festa acabada, os percussionistas Guilherme Medeiros e Gustavo Vilar e o sanfoneiro Chiló continuaram a se apresentar em shows na universidade até que o grupo foi aumentado por dois novos integrantes: o percussionista Caçapa, saído do Boizinho Alinhado e o maracatuzeiro Maciel Salu, filho de mestre Salustiano que aprendeu a tocar rabeca para entrar na banda. Com a saída de Chiló e a entrada de Márcio Costa e de Nilton Jr, este último ex-integrante do grupo de música indígena Alma em Água, a formação atual do Chão e Chinelo estaria pronta, com integrantes originários das mais diversas raízes de música pernambucana. O sexteto se tornou famoso graças às apresentações nos bares de Recife, principalmente as memoráveis temporadas na Soparia e no Pernambuteco. Foi nessa época que eles aumentaram com composições próprias o repertório de forrós, cocos e cavalos-marinhos tradicionais. "Interpretar músicas dos outros é um excelente laboratório", diz Guilherme. "MAS CHEGOU UMA HORA QUE ESTÁVAMOS QUERENDO EXPRESSAR COM CRIAÇÕES NOSSAS TODOS AQUELES ELEMENTOS MUSICAIS QUE HAVÍAMOS INCORPORADO DURANTE A NOSSA FORMAÇÃO". Os mais novos elementos juntados ao maracatu-coco-forró-cavalo-marinho-toré do Chão e Chinelo foram a viola de Caçapa, na música Chã de Camará, e a guitarra de Nilton Jr. "Achávamos que o resultado do uso de um instrumento elétrico talvez ficasse estranho, numa banda tão acústica como a nossa", diz Nilton Jr. "Mas o resultado foi bastante interessante, porque mesmo sendo um instrumento elétrico, a linha melódica que eu sigo é totalmente nordestina". O contraste do som da guitarra com o da rabeca é apenas uma das características especiais do Chão e Chinelo. A BANDA, APESAR DE TER SEU SOM TODO BASEADO NA MUSICALIDADE DA ZONA DA MATA, COM ELEMENTOS MUSICAIS PRIMITIVOS, TEM UMA ATITUDE URBANA, O QUE PODE SER VISTO NA INDUMENTÁRIA DA BANDA NOS SHOWS. "Sempre usamos nossas próprias roupas quando tocamos", diz Nilton Jr, ressaltando que a exceção aconteceu durante o carnaval quando vieram direto das "brincadeiras" tocar. "Foi o único momento em que nos permitimos a usar roupas típicas, porque era a coisa autêntica". O conjunto dessas composições próprias resultou em Loa do Boi da Meia Noite, primeiro cd do grupo, gravado e lançado de forma independente que traz 10 faixas que variam entre cocos e forrós incrementados com características de outros ritmos, principalmente o toré. Os destaques do disco são o pé-de-serra Lá no Forró de Zé Dantas, a bela Coco de Fulo Rodado e Loa do Boi da Meia Noite, um perré de boi muito influenciado pelo toré. "O cd vem em boa hora", acredita Caçapa. "Com ele pretendemos consolidar o nosso público e conquistar pessoas que ainda não nos conhecem". Os integrantes da banda estão conscientes das comparações que serão feitas entre o som deles e o de grupos já consagrados, como MESTRE AMBRÓSIO e CASCABULHO. "O que mais chateia é o pessoal dizer que um imita o outro, mas não tem nada a ver já que todos nós somos contemporâneos", reclama Nilton Jr. É verdade que essas bandas têm como base os mesmos elementos de partida da tradição musical pernambucana, mas o resultado do trabalho de cada um é bastante próprio. |
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