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Melô do PC

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O ladrão besta e o ladrão sabido

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Embolando na embolada

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Caju e Castanha
Crônicas do embolado dia-a-dia brasileiro

por Gilson Oliveira



"Dizem que o ladrão sabido / só anda bem arrumado, / o seu relógio é de ouro, / o seu carro é importado, / passa no meio da polícia / e ainda é cumprimentado./ Você vê o ladrão besta, / anda igual a um bacurau, / não pode ouvir um alarme, / pensa que é um au-au, / sai ca peste na carreira, / qué pra não morrer no pau". Lançada em 1993 pelo selo recifense Polydisc, a música "O Ladrão Besta e o Ladrão Sabido" fez aterrissar o primeiro disco de ouro na carreira da dupla de emboladores Caju e Castanha.

Além da irreverência e da simplicidade da letra, a canção composta pela dupla de cantadores Pinto e Rouxinol tinha outro ingrediente que garantia o sucesso popular, proporcionando a Caju e Castanha a oportunidade de se apresentarem em alguns dos principais programas do Centro-Sul: captava e exprimia o que estava se passando na cabeça da maioria das pessoas naquela época em que escândalos se sucediam , culminando com um episódio inédito na história do País - o impeachement de um presidente.

Autores da maioria das músicas gravadas ao longo de 13 discos (seis long-plays e sete CDs), Caju e Castanha desde o início da carreira se comportam como irreverentes repórteres do louco, embolado, dia-a-dia brasileiro, figurando entre seus sucessos outras sátiras políticas, como "Melô do PC", e de costumes, a exemplo de "Eu Já Mamei no Peito da Sua Mãe". Em fase de conclusão, o 14º disco terá o título de "Casa de Corno".

Nascidos em Matriz da Luz, em São Lourenço, distante cerca de 30 quilômetros do Recife, os irmãos José Albertino da Silva (Caju, 34 anos) e José Roberto da Silva (Castanha, 31 anos) começaram a "ganhar a vida" em 1973, cantando no Mercado de São José, Pracinha do Diário e outros conhecidos logradouros da capital pernambucana.

Tocando pandeiros por eles mesmos confeccionados, com latas de doce vazias e tampinhas de garrafa, os dois pequenos emboladores utilizavam o dinheirinho arrecadado para ajudar os pais na manutenção da casa. O apelido foi colocado por um freguês de um bar em Jaboatão dos Guararapes, que, ao vê-los ingressar no ambiente, os saudou, elevando um copo com aguardente: "Oba! Um caju e uma castanha..."

 

UMA "PONTE" COM LENINE
A existência dos pequenos e irreverentes artistas chegou ao conhecimento da cineasta Tânia Quaresma, que em 1979 estava no Recife para a produção de Repente, Nordeste e Canção. A dupla foi inserida na trilha sonora do filme, exibido em todo o Brasil e em vários países. Além de Caju e Castanha, participaram da trilha Milton Nascimento, Zé Ramalho, Elba Ramalho, os repentistas Cego Aderaldo e Otacílio Batista e o ilustrador e poeta de cordel J. Borges. Quase 20 anos depois, Lenine encontraria o disco no Japão e samplearia um trecho da embolada interpretada pela dupla. O sampler seria utilizado em "A Ponte", uma das vencedoras do Prêmio Sharp de 1998.

Repente, Nordeste e Canção rendeu alguns trocados aos mini emboladores, mas não o suficiente para que deixassem o palco das ruas, feiras e praças. E foi num desses espaços que produtores do selo Jangada, da Odeon, os descobriram. Batizado Embolando na Embolada, o primeiro disco sairia em 1980. Com todas as músicas compostas por Caju e Castanha, o vinil conseguiu emplacar um pequeno sucesso: "Vou Passear em Olinda".

Embora em situação bem diferente da vivida no início da carreira, Caju e Castanha continuam se apresentando nos mais diversos lugares e espaços. No início de 1998, por exemplo, participaram, no Teatro Vanucci, do Rio de Janeiro, da peça "Memórias de Embornal", de Íris Gomes. O espetáculo, que tinha como protagonista o ator Jackson Antunes e diretora a cineasta Tizuka Yamazaki, era aberto com a apresentação dos maiores sucessos da dupla.



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