Home Page





Pergunte aos Pros




Macmania Test Drive

Macmania 108 - junho de 2003

Chega um momento na vida de uma tecnologia em que aparece um produto que "levanta a barra" da competição, e a partir dele todos os concorrentes são julgados. No mundo dos celulares, esse momento chegou e o produto de referência é o Sony Ericsson P800.

Já faz um bom par de anos que os fabricantes de celulares vêm alardeando os "celulares inteligentes" ou smartphones. Aparelhos que, além de pegar email, acessar a Web, rodar aplicativos, tirar fotos, exibir filmes etc., também podem ser usados para fazer ligações telefônicas... Faz muito sentido. Em vez de carregar um Palm, um celular, uma câmera digital e um tocador de MP3, você carrega um aparelho só.

O problema é que, entre dizer "o futuro é por aqui" e desenvolver um produto que realmente atenda às necessidades do consumidor, há um longo caminho.

A Macmania testou vários desses celulares inteligentes na sua histórica edição 104. Alguns eram trambolhos tão frankenstênicos que acabaram nem sendo citados na matéria. Outros, como o Nokia 7650, chegaram bem perto do desejado. Mas agora a conversa é outra. O mundo dos smartphones está dividido entre "antes do P800" e "depois do P800".



Fotos tiradas na resolução fixa de 640x 480. Não têm uma qualidade assombrosa, mas dá pra se divertir

O sistema operacional Symbian básico e sem complicação, incluindo aplicativos para música e vídeo . O browser de Web reproduz o visual original dos sites, o que não é muito prático na tela pequena. O Opera encolhe as páginas para que façam mais sentido. O cliente de email do telefone suporta múltiplas contas. Existe ainda uma versão do Mame, o maravilhoso emulador de jogos arcade

Nas costas do telefone, ao lado da câmera, você pode ver o orifício do falante para viva-voz. Apesar da localização inusitada, funciona bem




Do tamanho certo

Um dos principais problemas dos primeiros celulares inteligentes era o tamanho da tela. Como conciliar uma tela de PDA e um teclado numérico para discagem, sem o aparelho ficar com a cara de um celular tijoludo dos anos 80? O teclado virtual é uma solução, mas pode ser um transtorno para quem precisa digitar rapidamente um número de telefone.

O P800 traz uma resposta salomônica ao problema, simples e capaz de agradar a todos. Um tecladinho de plástico que, quando fechado sobre a tela, coloca o aparelho no modo celular. Aberto, libera as funções de PDA. O teclado não inclui nenhum componente eletrônico: ele apenas ajuda a clicar os números no teclado virtual - o que é bem mais confortável e, de quebra, protege a tela. Quem pretende usar o aparelho mais como PDA que como celular pode optar por retirá-lo completamente e colocar no lugar uma tampinha básica. Sem o teclado, o P800 vira um "Palm minimalista". De um lado ficam o botão de ligar e uma rodinha de scroll. Do outro, o botão da câmera e outro que aciona o browser. E só. Menos é mais.

A tela de 208 x 320 pixels é grande o suficiente para Palm nenhum botar defeito, perdendo apenas para a do Palm Tungsten (320 x 320). Dá para ler, navegar e escrever com grande facilidade. Sensível ao toque, ela utiliza o Jot, um sistema de reconhecimento de escrita bem bolado que divide a tela no meio: a parte de baixo para letras e a de cima para algarismos. Quem já utilizou o Graffiti do Palm vai se sentir em casa (aliás, o sistema foi licenciado pela Palm e rebatizado para "Graffiti 2" nos novos modelos de Palm). No começo dá um certo estranhamento ter que pingar todos os ii e cortar todos os tt, mas em pouco tempo você se acostuma. Somente em raras ocasiões utilizei o mini-tecladinho virtual para escrever "catando milho".

A tela tem uma camada de filme flexível bem mais resistente a riscos que a do Palm. Em duas semanas de uso ela permanecia sem nenhum risquinho, como nova. O P800 só não possui T9, uma tecnologia que traz um dicionário embutido e "adivinha" a palavra que você está escrevendo.

Como celular, o P800 tem bom desempenho. Alguns interlocutores se espantavam quando eu dizia que estava falando de um celular. Em lugares muito barulhentos, no entanto, o microfone (situado na parte inferior traseira do aparelho) pode pegar muito ruído ambiente. De maneira geral, a única preocupação que você deve ter antes de comprar é saber se a área em que você transita tem uma boa cobertura da operadora GSM.

A bateria dura bem menos do que o propagandeado pela Sony Ericsson, principalmente no modo standby. Mas mesmo em uso intensivo e apesar da tela grande e brilhante, ela segura bem o tranco. Com um uso regular das funções de PDA, ele aguenta perfeitamente dois ou três dias sem recarregar.

Symbian

O P800 é o primeiro aparelho a utilizar a última versão do sistema operacional Symbian, a 7.0. O Symbian OS é como um Windows (no bom sentido) dos celulares, sendo adotado pela grande maioria dos fabricantes. É bastante estável, rápido e fornece a base para que cada fabricante desenvolva sua própria interface. A do P800 foi desenvolvida em conjunto com a UIQ, empresa specializada em interfaces para computação móvel. Além de rodar aplicativos Symbian, o P800 também roda programas escritos em Java.

Memória

Instalar programas e joguinhos no celular pode virar uma atividade extremamente viciante. Com 12 MB de memória interna e um cartão de 16 MB como expansão, o P800 tem um transatlântico de memória quando comparado com outros celulares, a maioria com 1 ou 2 MB. É espaço de sobra para programas, a maioria deles na casa das centenas de KB. O problema surge quando você começa a querer guardar fotos, filmes e músicas em MP3. O P800 utiliza o cartão Sony Memory Stick Duo, novo formato proprietário da Sony, que só é encontrado no mercado com a capacidade máxima de 64 MB - o suficiente para uma hora de MP3 e olhe lá. Cartões de 128 MB estão começando a chegar nos EUA, e formatos maiores devem aparecer com o tempo, Mas o preço desses cartões é alto e não deve cair a curto prazo. No Brasil, nem a própria Sony vende o Memory Stick Duo.


Software

É impressionante ver como em um par de meses de vida já existe uma enorme quantidade de joguinhos, programas financeiros, utilitários e o escambau para o P800. Obviamente, não dá para comparar com o que existe para Palm; os programas não são tão numerosos nem têm o mesmo nível de refinamento. A maioria é paga e possui demos com funções desabilitadas. Você pode muito bem se virar com os programas que vêm com o celular, mas se está atrás de algo mais sofisticado, vai ter que procurar por software de terceiros.

O aparelho vem recheado de programas, além de vários aplicativos e joguinhos extras em um CD (dois deles muito bons, com gráficos 3D à la Super NES: MIB 2 e Stunt Car), que podem ser instalados pelo Bluetooth File Exchange do Mac OS X. Além do browser e do cliente de email, há um player de filmes MPEG-4, um jogo de xadrez e um leitor para arquivos de Word, Excel e PDF. Não dá para editar esses arquivos, como no Documents To Go do Palm, mas você pode até utilizar seu celular para carregar arquivos de um Mac para outro (desde que ambos possuam conexão Bluetooth).

O P800 só deixa a desejar ergonomicamente no quesito games. Usar a rodinha de scroll para controlar naves ou dar tiros não dá muito certo, mesmo ela tendo três tipos de clique (para dentro, para frente e para trás), além do scroll vertical e horizontal. Alguns jogos utilizam também um "joystick virtual" controlado pela canetinha, com resultados igualmente lastimáveis. Nesse aspecto, o Nokia 7650 com seu "joystick-mamilo" dá de dez. Mas para navegar pela interface com uma mão só, a rodinha multifuncional é, literalmente, uma mão na roda.

Google na mão

Vou deixar bem claro: eu odeio celular. Me incomodam profundamente aquelas pessoas falando em seus aparelhinhos nos restaurantes. Ou pior, alguém falando sozinho no meio da rua e deixando você em dúvida se é algum fugitivo do Pinel até ver o fonezinho enfiado no ouvido. E se não estou em casa nem no trabalho, prefiro não ser encontrado.

Mas eu tenho um sonho geek de consumo: um Google de mão. Poder acessar a Web de qualquer lugar, baixar e responder meus emails... Durante anos alimentei a esperança de que a Apple lançasse algum brinquedinho do gênero. Hoje já não acredito muito nisso, mas não tem tanta importância. O que eu queria já existe.

Configurar email e web no P800 é dois palito. O programa de email (POP3 e IMAP4) é bem básico, sofrendo com a falta de alguns detalhes importantes, como quotes (marcas de citação) no Reply. Mas você pode cadastrar quantas contas quiser.

O browser embutido funciona bem, tem um contador que mostra quantos segundos uma página demora para carregar (genial!), mas é incompatível com JavaScript e frames. O ideal é instalar também o Opera, para ampliar as opções de navegação. A velocidade, em média, é semelhante à de um modem de 56k. Dá até para blogar pelo celular. Se existisse um tecladinho Bluetooth para ajudar na digitação de textos longos, eu poderia muito bem parar de levar meu PowerBook em viagens.

Não existe Web de graça

É bom lembrar que, durante nossos testes, essa brincadeira de acessar a Internet pelo celular era a festa da fruta. A TIM não estava cobrando pelo acesso de dados em sua rede. Mas estava previsto para começar em junho o início do serviço pago, que pode tornar a coisa inviável para os geeks menos abastados. Nos EUA, o acesso via GPRS é bem caro, girando entre US$ 20 e US$ 40 por mês, em alguns casos com limites de volume em MB de transferência. Atualmente, os serviços de dados via celular disponíveis no Brasil têm preços variando do exorbitante (Vivo: 120 MB/mês por R$ 179, fora o provedor) ao caro (Vésper: R$ 75/mês, sem limite de MB). A TIM anunciou um modelo em que irá cobrar R$ 12 por 5 MB, o que é meio salgado. Para se divertir tanto quanto a gente em nossas três semanas de testes com o P800 (42 MB baixados no total), você gastaria por volta de R$ 100.

Syncar ou não syncar

Apesar de o iSync da Apple ter sido desenvolvido em conjunto com a Sony Ericsson, o P800 não faz parte do grupo seleto de celulares que conseguem sincronizar dados com a Agenda do Mac OS X e com o o iCal. Aqui a culpa toda é da Apple, que gerou muita expectativa com o iSync, mas até agora não tornou seu programa de sincronização compatível com o padrão SyncML, utilizado por todos os telefones Symbian. Esperamos que isso seja resolvido no próximo update do iSync. Pelo menos já há sinais de que a Apple está se preocupando com isso. Na versão 10.2.5 do Mac OS X, o P800 (e também o Nokia 7650) foi mencionado como um dos aparelhos que ganhou "melhorias de compatibilidade". Hoje, é possível apenas trocar arquivos pelo Bluetooth File Exchange e enviar contatos diretamente pela Agenda. Discar e mandar SMS pelo Mac ainda não é possível.

O P800 vem com um berço (cradle) de conexão USB que só funciona para sincronizar dados com o Outlook em PCs. Mas os macmaníacos não precisam ficar tristes: relatos dão conta de que a transferência de dados via berço é lenta pra danar. Pelo Bluetooth é muito mais chique.

Som

O P800 é um brinquedinho caro, mas se você descontar o preço de um Palm, uma câmera digital e um tocador de MP3, ele começa a fazer sentido. Obviamente, como qualquer produto que tenta fazer muita coisa ao mesmo tempo, ele faz tudo um pouco pior que um aparelho dedicado a apenas uma tarefa.

Como tocador de MP3, seu som (no fone de ouvido) é ótimo, e ele é inteligente o suficiente para parar uma música quando recebe uma ligação e continuar de onde parou quando ela termina. O único problema, como já foi dito, são as limitações de tamanho e custo do Memory Stick Duo. Saber que pelo preço de três cartões desses você compra um iPod faz a gente pensar...

Imagem

A câmera fotográfica embutida tira fotos de 640 x 480 pixels, uma qualidade mais para webcam do que para uma câmera digital. Seu desempenho em condições de pouca luz é sofrível. Mas, de maneira geral, é a melhor câmera de celular que já testamos, com ajustes de brilho, contraste, backlight, balanço de branco e até timer. O P800 ainda tem um player de vídeo MPEG-4, mas sua câmera não grava filmes; apenas fotos. O único jeito de colocar filmes no celular é baixando da Web ou pegando de um computador. O problema é que, depois de inúmeras tentativas de salvar um vídeo em MPEG-4 no QuickTime 6, não foi possível encontrar um formato de compressão que o P800 entendesse. O mais estranho é que a arquitetura multimídia utilizada pela Sony Ericsson é baseada no QuickTime. Vá entender...

Os pequenos lembretes de voz que podem ser gravados no P800 também foram motivo de frustração. Embora sejam arquivos WAV, não foram reconhecidos pelo QuickTime Player no Mac.

Quanto vale o show?

Se você também é desses que só estavam esperando sair o tal aparelho que juntasse Palm e celular e não se importa em sair por aí com um brinquedo de mais de R$ 3 mil no bolso, meu amigo, pode ir sacando o talão de cheque. Até o fechamento desta matéria, o P800 não tinha sido oficialmente lançado no Brasil e, portanto, não estava sendo oferecido pelas operadoras GSM. Mas o seu lançamento estava previsto para acontecer ainda no mês de junho.

O P800 não é perfeito: sua interface, principalmente no que se refere à troca de dados entre os programas, ainda tem algumas inconsistências. Mas é o primeiro equipamento a satisfazer as exigências de quem estava atrás de um aparelho de mão que proporcionasse uma experiência de conexão semelhante à de um computador. Lógico que ele é apenas o primeiro, e daqui a seis meses várias outras empresas estarão com produtos semelhantes no mercado. Mas mesmo assim, é um produto suficientemente maduro para agradar as pessoas mais exigentes. Até as que odeiam celular.

PróPrimeiro aparelho a concretizar o sonho da Internet no bolso


Contra Incompatibilidades nos formatos de áudio e vídeo; não "synca" com o Mac OS X (ainda); cartão Memory Stick Duo é caro e pouco difundido

Data de lançamento Fevereiro de 2003
Tecnologia GSM Triband ("2G e meio")
Tempo de conversa 13 h (estimado)
Tempo em standby 400 h (estimado)
Campainha Polifônica (não toca MP3)
Expansão de memória Memory Stick Duo
Conexões Bluetooth, IR, USB (só em PC)
Sistema operacional Symbian OS 7.0
Funções Gravação de voz, viva voz,
Voice mail, reconhecimento de escrita, câmera embutida, memória expansível, antena interna
Acessórios Berço USB, alça de transporte, adaptador do Memory Stick Duo, caneta, teclado numérico externo , fone de ouvido estéreo, carregador
Dimensões 6 x 2,8 x 11,9 cm
Peso 160 gramas
Sony Ericsson www.sonyericsson.com.br
Preço R$ 3.499 (sugerido)

Heinar Maracy
*Colaborou Oswaldo Bueno
Fotos: Clicio