 Por Márcio Nigro Um é pouco, dois é bom  Já que estava difícil acompanhar os PCs na corrida dos gigahertz, a Apple decidiu que o negócio era enfiar dois processadores em toda a linha de Macs G4 torre. Para efeitos de marketing, talvez não seja a mesma coisa dizer que um computador tem dois processadores de 1,25 GHz em vez de um de 2,5 GHz. Mas a solução funciona muito bem e tem tudo a ver com o OS X, que é um sistema operacional capaz de dividir a carga de trabalho de forma praticamente igual entre os processadores. Assim, um Mac Dual oferece - em certas tarefas - desempenho até duas vezes maior ao de um correspondente com apenas um processador. Porém, não é apenas o fato de ter dois processadores monstros que faz essa máquina ter uma velocidade estonteante. Dos modelos novos de G4, esse é o único que traz memória cache nível 3 de 2 MB (em vez de 1 MB), o que acelera bastante o seu desempenho.  Novo encanamento Temos também maior velocidade de barramento (transferência interna de dados) em relação aos modelos anteriores: 167 MHz, o que equivale a cerca de 1,3 GB por segundo fluindo entre a RAM e o processador. Com a melhoria do barramento, a Apple pôde implementar um tipo novo (e mais caro) de memória RAM, já bastante conhecida no mundo pecezista, chamada Double Data Rate (DDR) SDRAM. Ela dobra a performance de leitura em relação ao tipo de RAM usado anteriormente. O Dual 1,25 GHz utiliza pentes de memória DDR SDRAM de 333 MHz, também chamados de PC2700 (o nome se refere à velocidade de transmissão de dados, ou seja, 2,7 GB por segundo). E não esqueça que é possível colocar até 2 GB de DDR SDRAM nessa máquina, já que a Apple trouxe de volta o quarto slot de RAM no G4, que andava sumido desde a primeira geração de Macs Dual. Ele vem com 512 MB de fábrica, pois seria até um insulto vir com menos. Pois bem: some os dois processadores, mais cache, melhora na velocidade de barramento e memória RAM mais rápida, e veremos que o que a Apple fez foi instalar um "encanamento" mais largo e eficiente no Dual 1,25 GHz. No Mac, diversos subsistemas ("canos") entram e saem da RAM. Como a DDR trabalha ao dobro da velocidade do barramento, mesmo que o tráfego desse sistema esteja bem carregado, outros dispositivos como discos rígidos, interface FireWire e placa de vídeo poderão ser atendidos prontamente com os dados contidos na RAM, pois encontrarão seus "canos" livres. Para quem trabalha com vídeo e áudio digital, nem é preciso dizer que isso é uma ótima notícia. Tudo isso incrementa sensivelmente a performance do Mac OS X. Não tanto no Finder, que tem só uma pequena melhora de agilidade em relação a outros Macs mais recentes; afinal, com o Quartz Extreme, é a placa de vídeo que executa o redesenho de tela. A interface Aqua é fluida, mas sem diferença notável para outros G4s. A grande diferença está na hora de usar os aplicativos. O Photoshop 7, por exemplo, é um programa "envenenado" para funcionar melhor em qualquer G4 Dual. Ele efetivamente executa no Dual algumas operações a aproximadamente o dobro da velocidade obtida na nossa máquina de referência (um Quicksilver com um chip de 867 MHz). Mas em operações que envolvem principalmente a memória, como a conversão RGB/CMYK, a máquina dispara e chega a ser três vezes mais rápida. Só não tive a oportunidade de testar no OS X o Logic 5.4, da Emagic, e verificar sua performance. Mesmo assim, o desempenho da versão 4.7.3 no OS 9 é ótima: deu para abrir 22 plug-ins de reverb (PlatinumVerb) ao mesmo tempo. No OS X, certamente será possível abrir bem mais, o que é perfeito para quem depende de plug-ins VST, RTAS e outros do gênero. Na média dos outros aplicativos, dependendo de sua eficiência particular no processamento paralelo, a melhora geral de performance é mais modesta, variando entre 20% e 60%. Ou seja, não chega a ser exatamente dois Macs em um, mas talvez um e meio na maior parte do tempo, com surtos eventuais de dois e meio.   Cabe tudo! O G4 Dual 1,25 GHz vem com um belo HD da IBM de 120 GB, o que é pelo menos o dobro do que a maioria está acostumada a ter em seus Macs. Esse disco está conectado a um barramento ATA/100 que, como se pode suspeitar pela sigla, pode transferir 100 MB por segundo. Porém, há também um barramento ATA/66, um pouco mais lento. Ao todo, você pode conectar quatro HDs no G4. Para quem trabalha pesadamente com vídeo digital, por exemplo, a possibilidade de contar com até 480 GB disponíveis internamente em sua máquina não é nada mau. A Apple recomenda que, na hora de instalar um segundo disco rígido, ele seja instalado ao ATA/66, a fim de balancear a carga dos drives entre os dois barramentos. O feliz proprietário desse G4 também poderá usar dois drives ópticos internos. A máquina vem com o já conhecido SuperDrive, capaz de gravar CD-RW e DVD-R. Porém, o dispositivo ainda limita a gravação de CD-R à velocidade de 8x - uma lerdeza ridícula para os padrões atuais da vanguarda tecnológica. Assim, a Apple permite que você adicione, por exemplo, um CD-RW veloz sem precisar se livrar do SuperDrive, que reserva-se o charme de gravar DVDs. Ninguém vai querer ficar sem isso.
Quartzo ao extremo Com o Mac OS X, a placa de vídeo passou a ter um papel muito mais importante do que na época do falecido-pero-no-mucho Mac OS 9. Isso porque a tecnologia Quartz Extreme do Jaguar acelera o desempenho do sistema direcionando para a aceleradora gráfica tarefas triviais de redesenho de tela que antes ficavam sob a responsabilidade da CPU, afetando a capacidade de "pensar" do computador. Para funcionar, o Quartz Extreme requer uma placa de vídeo com pelo menos 32 MB de VRAM. Tendo isso em vista, dá para imaginar que a nVIDIA GeForce4 MX com 64 MB de memória RAM que acompanha o Dual de 1,2 MHz ajude a acelerar ainda mais esse já poderoso Macintosh. E para quem é fanático por jogos, então, a vida fica bem fácil. Um teste rápido com o Medal of Honor: Allied Assault mostra que você pode ajustar as configurações de vídeo para a maior resolução disponível e com todas as opções ativadas sem que o jogo jamais dê qualquer soluço. No Quake III, a taxa de quadros por segundo (frame rate) no G4 Dual 1,25 GHz é mais que o dobro da obtida no G4 867 MHz. Como se não bastasse todo esse poder gráfico, você pode plugar dois monitores na mesma placa de vídeo, que vem com um um conector ADC (Apple Display Connector) e outro DVI com um adaptador VGA. Trabalhar com um Apple Cinema Display de uma lado e um monitor CRT convencional do outro (infelizmente, não tínhamos um modelo DVI à mão para o teste) dá aquela sensação de que você faz parte de uma elite tecnológica de acesso reservado a seres humanos especiais, que têm mais espaço de desktop virtual do que em suas mesas reais. Não é preciso sugerir que o comandante dessa elite deve possuir dois Apple Cinema Displays de 23 polegadas conectados ao seu G4.
A volta do filho pródigo Do lado de fora do gabinete, houve algumas mudanças estéticas. Entre as menos perceptíveis, a tonalidade cinza é um pouco mais clara e menos prateada que a da linha QuickSilver. O gabinete é um centímetro e meio mais largo que o de seus predecessores, como bem observaram os olhos atentos de Sérgio Miranda. Na frente, fora as quatro inusitadas tomadas de ventilação, o alto-falante único saiu de baixo e foi para cima, posicionado como se fosse o olho de um ciclope (e a proteção de acrílico vem à parte para aqueles que, como eu, a desprezam). Aliás, ainda é uma incógnita por que a Apple insiste em não colocar dois minifalantes (gostamos de música em estéreo, seu Jobs!). As baias dos drives ópticos agora contam com espelhos que justificam seu nome. São cromados, bonitos e elegantes. E não combinam nada com o resto da torre. O botão de força também é metálico, como o do PowerBook G4 Titanium. Mas cuidado com a pontaria ao apertá-lo, ou o cromado ficará sempre cheio de marcas de dedos. Mas peraí: cadê o botão de restart? Sumiu! Tudo bem que o OS X não costuma travar - e, de fato, não descobrimos nenhuma maneira de travar esse G4 - mas sempre resta o risco de um kernel panic. E, meu Deus, quem ainda usa o OS 9, como viverá sem o botão de restart? Mas tudo bem: numa emergência, ainda funciona o velho truque de forçar o desligamento do Mac apertando o botão de ligar por uns 5 segundos. Na parte traseira pode-se ver, entre as dezenas de buracos de ventilação, os quatro slots PCI livres, nos quais você pode conectar uma variedade de placas - interfaces SCSI, de áudio, de captura de vídeo etc. Abaixo dos conectores de vídeo há duas portas USB, duas FireWire, os conectores de Ethernet Gigabit e o do modem 56K (se bem que conectar essa máquina à Internet via modem chega a ser uma profanação). Por fim, temos a saída de áudio tradicional, o conector de áudio digital para os alto-falantes Apple Pro Speakers e a volta da entrada de áudio, que finalmente foi melhorada e é capaz de gravar em qualidade estéreo com resolução de 24 bits. Certamente, é um avanço considerável, mas não seria hora de optar por conectores mais "profissionais"? Em vez da entrada P2 ("bananinha"), seria melhor usar os bons e velhos conectores RCA, ou, num mundo ideal, plugues P1 (banana). E, quem sabe, acrescentar ainda entradas e saídas digitais S/PDIF? Quem sabe nos próximos modelos...
Uma paulada Não há dúvida de que praticamente todas as mudanças que a Apple fez no G4 Dual 1,25 GHz vieram para o bem de todos. Com as possibilidades de expansão de RAM, disco, placas PCI e a maior velocidade de barramento, esse Mac certamente tornou-se uma opção muito poderosa para profissionais de criação de mídia e arte. No entanto, com a recente alta do dólar, você precisará desembolsar uma grana sarada para botar as mãos nesse objeto do desejo: R$ 20.900. Em outras palavras, é bom ter certeza de que um bom iMac usado não seria uma opção razoável.
Márcio Nigro | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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