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Macmania Test Drive


Se você faz questão de deixar translúcidos de inveja todos os pecezistas por onde passa, este é o seu Mac

texto e fotos: Mario AV

Design

O novo iBook confirma que em Cupertino a ordem passou a ser "acabar com as curvas e com as cores". Logo quando a maior parte da indústria de informática tinha abraçado, em formas reconhecíveis ou não, o arrojo visual da Apple desde o iMac, Steve Jobs aparentemente decidiu: "é hora de dar um despiste nesses copiões". Por essa ninguém esperava. Assim, o novo iBook produz um choque visual que só não é ainda maior porque o PowerBook G4 Titanium veio antes, e antes dele o G4 Cube.

No entanto, não dá para confundir os dois portáteis. O casco externo do iBook é em plástico transparente com sua superfície interna branca, parecendo feito de mármore liso. Isso lhe dá uma aparência mais "quente" e "suave" que o metal nu do Titanium, além de ter um tato escorregadio. Por ser liso por fora, o novo iBook apresenta os mesmos problemas que já vimos no Cubo: ele é louco por impressões digitais e gosta de ficar riscado por qualquer bobagem.

Na Internet vi escrito que a parte interna metálica do iBook, que tem enorme semelhança com a do Titanium, é feita de alumínio. Engano: segundo a Apple, metal é usado somente no esqueleto interno e na dobradiça. As partes "metálicas" são de policarbonato claro pintado de prateado. Parece mesmo alumínio, ligeiramente fosco e claro, mas não é. É o mesmo material das televisões Wega da Sony e da minha câmera Canon EOS. Parece bem resistente, mas certamente é mais delicado que o plástico texturizado do iBook antigo. Como os outros produtos com cobertura prateada que conheço fatalmente ficam com marcas permanentes do repetido contato com as mãos, não ponho a mão (sem trocadilho) no fogo pela durabilidade do novo acabamento.

Combinando-se as considerações "internas" e "externas", temos a seguinte conclusão: as texturas estão trocadas. O iBook novo deveria ser liso dentro e fosco fora - como, aliás, era seu predecessor. E nenhuma espécie de pintura seria melhor.

Quanto à cor branco-dentista, não me incomoda. Sempre dá para colar adesivos por fora, o que tem a vantagem adicional de proteger a parte externa contra riscos. Sobre a robustez, apesar de todo mundo achar que um gabinete menor para o mesmo peso (OK, menos peso: 2,2 kg) implica fragilidade, não vi nenhum problema. Certamente o novo iBook é muito mais rígido, por exemplo, que o G4 Titanium, e bem mais que a maioria dos PowerBooks de antigamente.

Uma mudança que só pode ser vista como retrocesso é a substituição do sistema de fechamento limpo e sem travas do iBook original por um tradicional com trava. Toda vez é preciso apertar o botão e quase machucar o dedo tentando agarrar a aresta extremamente afiada da tampa. Inacreditável marcação de bobeira dos designers da Apple.

Entradas e saídas

No novo iBook, todas as entradas e saídas ficam juntas no lado esquerdo do aparelho. Isso elimina a confusão mental, especialmente o velho vício de confundir [1] modem e [2] Ethernet. A [3] porta FireWire está lá, assim como - não uma, mas - duas [4] [5] portas USB. A [6] porta de monitor serve para video mirroring, isto é, repetir o vídeo da tela em outro monitor através de um [7] cabo conversor para VGA. Como na geração anterior do iBook, a [8] porta AV, além de servir como plug de fones de ouvido, pode enviar sinal de vídeo do DVD para a entrada RCA de uma TV, usando um cabo conversor tipo P2/3xRCA, que vinha com o iBook antigo mas agora deve ser comprado à parte. A porta AV ainda serve como saída de áudio para um aparelho de som. Um pequeno [9] botão de reset completa o painel.

Só não dá para perdoar a colocação infeliz da entrada de força, milimetricamente colada à bandeja de CD/DVD, o que faz o cabo ficar entrando no caminho da bandeja o tempo todo. É o preço a se pagar por um gabinete tão compacto. Outra piora foi no próprio [10] cabo de força, que teve o pino para prender na fonte trocado por uma argolinha de plástico. Quantos centavos de dólar por unidade terão economizado com tal mudança? Além disso tudo, não acende mais luz nenhuma no plug quando se conecta a fonte. Em compensação (ou não), apertando-se um botão na bateria acende-se brevemente uma fileira de luzes indicando a carga.

Queimando e assistindo

O drive "combo" da Pioneer, que lê DVD e queima CD-RW, é motivo mais que suficiente para vender o fígado e adquirir de uma vez o iBook topo de linha. É de uma praticidade que mal dá para imaginar sem ter usado a máquina.

Tudo bem que a telinha e o sonzinho do iBook não são veículos ideais para a apreciação de filmes em DVD, mas sempre tem a saída de vídeo para TV na porta AV.

Quanto a queimar... é simplesmente um luxo. Para quem, como eu, trabalha primariamente em Macs de mesa ligados a redes, é o fino do fino poder plugar o iBook na rede e usá-lo para fazer backups remotos dos meus HDs enquanto sigo trabalhando novamente. Claro que a maioria das pessoas nem precisa de toda essa parafernália; basta um único portátil que substitua a própria máquina de mesa. O novo iBook, com suas duas portas USB e uma FireWire, mais o drive "combo" e 10 GB de disco, é bem apto a isso.

Autonamia

O novo iBook tem um processador G3 de 500 MHz. Seria de esperar que ele consumisse a bateria mais rapidamente que a geração anterior. Mas o portátil branquinho consegue manter marcas confortáveis e impressionantes de autonomia.

Dizem que o Mac OS X, por "chupar" muito mais o processador, consome a bateria mais depressa. Mas não notei diferença, pois a carga imposta pelos programas é extremamente variável, o que pode ser comprovado pela grande variação do prognóstico de energia da bateria, visível no Dock.

Uma dica para aumentar a autonomia do iBook é pedir para instalar nele a maior placa de memória que você puder comprar (a configuração básica vem com apenas 64 MB e a "combo", com 128 MB). Além de acelerar substancialmente o Mac, em especial no Mac OS X, você diminuirá o uso da memória virtual, que aciona massivamente o disco rígido.

A autonomia não chega às cinco horas prometidas em uso regular e constante, mas uma só carga de bateria basta para queimar cinco CDs seguidos pelo Disc Burn, o que é bastante surpreendente.

Uma coisa digna de nota é que, conforme anunciado pela Apple, no Mac OS X o iBook branco volta do "sono" de forma praticamente instantânea - ao redor de dois segundos, contra os 8 (em média) do Mac OS 9. Uma delícia.

O iBook felizmente não sofre do sério problema de hiperaquecimento do G4 Titanium, mas fica morno quando em uso. Somente o lado que não contém a bateria esquenta. Como a localização da bateria (do lado direito) é inversa em relação ao Titanium, a parte que esquenta - a esquerda - também é inversa.

Áudio e Vídeo

Andar sempre provido de um bom par de fones de ouvido é altamente aconselhável a um proprietário do novo iBook. O som dos microfalantes é exatamente isso: "micro". O ponto positivo é que agora o iBook possui dois falantes separados e tem a grande virtude de ser extremamente silencioso, muito mais do que o modelo antigo.

A tela finalmente aumentou para algo mais adequado para um laptop pequeno: diagonal de 30,6 cm (12,1 polegadas) e resolução de 1024 por 768 pixels. É quase tudo que pedi a Deus. Essa dimensão resulta em uma resolução ligeiramente apertada demais para o Mac OS 9, mas fica na medida para o Mac OS X, onde a maioria dos elementos de interface é um pouco maior.

Quanto à fidelidade de cor, ainda não é desta vez que dá para "fotoxopar" sem receio numa tela LCD. Ela tem boa fidelidade de cor (na medida em que isso é possível numa tela LCD), mas a dispersão de luz é estranha e bem diferente da tela do iBook antigo. Olhando-se bem de frente ou mais de cima, a imagem fica "lavada". É preciso incliná-la sempre para trás para enxergar as cores corretamente. Quanto? Quase impossível determinar.

Assim como no G4 Titanium, é recomendável ajustar o ColorSync no iBook para remover o característico color cast ("puxada") para o azul. Melhora bastante a "esquizofrenia de cor" da tela LCD, especialmente em relação às sombras cinza que permeiam todo o visual Aqua do Mac OS X.

Trackpad e teclado
Uma das coisas mais marcantes para quem só conhece laptops Wintel e experimenta um da Apple é o trackpad: bem situado, confortável e bastante espaçoso.

Aparentemente, o trackpad é mais para dentro para permitir a inclusão da travinha de abrir e fechar, o que na verdade não é justificável. Sua posição é a fonte de veementes reclamações de quem usa PowerBooks há tempos, mas (isso é só uma opinião pessoal) não chega a incomodar, pois ela faz apoiar a mão inteira mais para dentro também. Em relação aos modelos anteriores, o botão de clicar felizmente não é mais tão duro.

O teclado é o mesmo do iBook anterior, com a tecla [F12] alterada para [Eject]. A bandeja do drive de CD/DVD não tem botão de abrir. É preciso usar a tecla [Eject], o que não seria nada de mais se não fosse pela estranha demora em abrir a bandeja. Sempre parece que o Mac não vai mais querer devolver seu disquinho. A tecla [Fn] continua no canto inferior esquerdo, confundindo tudo na hora de usar [Option] e [Control], mas dá para acostumar.

Software

O iBook branco vem com Mac OS X 10.0.3 e 9.1 pré-instalados. Se você der um Restore, utilizando a série de quatro CDs fornecidos com a máquina, ele volta a ter o sistema 9.1 e os aplicativos originais de fábrica, mas não o OS X, que deve ser instalado à parte a partir do seu CD (também fornecido com o aparelho). O Mac vem com o iTunes, 600 MB de músicas em MP3 no HD e CDs de instalação separados do iMovie para o OS 9 e para o OS X. Para completar o pacote, vem junto o disco de teste de hardware da Apple.

iBook x G4 Titanium

Fora a abismal diferença de preço, o que realmente pode fazer você decidir por um PowerBook Titanium em vez de um iBook? Em duas palavras: tela e G4. Só quem precisa de muito poder de processamento e a maior tela que um portátil pode ter (leia-se: quem mexe com áudio ou vídeo digital) vai precisar de uma máquina que custa o dobro.

Em termos de velocidade, o PowerBook G4 leva vantagem não só pelo processador, mas também no bus (barramento) interno: 100 MHz contra 66 MHz do iBook. Em compensação, o iBook apresenta taxas de transferência mais rápidas pelo FireWire, graças a mudanças na arquitetura de controle dessa porta.

A Apple está trazendo inicialmente apenas dois dos quatro modelos de iBook disponíveis nos EUA. Com chegada no país no início de agosto, os modelos "básico" (com drive de CD-ROM) e "combo" (que grava CDs e toca DVDs) deverão custar, respectivamente, R$ 4.990 e R$ 6.800.

Segundo a Apple Brasil, está nos planos da empresa trazer também o modelo com CD-RW, mas ainda não fixaram o seu preço.

Veredito Pela piadinha do fígado que fiz há pouco, é de adivinhar que, entre defeitos e qualidades, sobressai-se de longe um defeito que não é técnico nem de design: o preço. Nos EUA, o iBook foi criado para ser o "Titanium para o resto de nós". Aqui, com o câmbio e os impostos, infelizmente ainda é só para quem é rico ou trabalha com a coisa. Não que a Apple possa fazer muito acerca disso (fora abrir a prometida montadora no Brasil - cadê?). E, de toda forma, todos os laptops Wintel que podem ser (mal) apontados como concorrentes do iBook têm óbvios recursos faltando e design inferior, e ainda conseguem custar o mesmo ou mais. Caro por caro, fico com o Mac. Afinal, a Apple - de uma forma meio inesperada, agora com designs enxutos - novamente está liderando o ramo dos portáteis.

Mario AV
Ainda arranca suspiros de admiração da galera ao andar com um venerável PowerBook 520c. Colaboraram Sylvio Pinheiro e Heinar Maracy