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Macmania Test Drive

Um grande iBook

Apple estica o "portátil para o resto de nós"

Em janeiro de 2002, durante a Macworld de San Francisco, todos os olhos estavam voltados para o iMac G4 e seu design revolucionário. Mas esse não foi o único lançamento da feira. Despercebido por quase todos, surgiu também um iBook maior, com tela de 14 polegadas. Considerado um sacrilégio por alguns e uma bênção para quem não gosta de ter que ficar com a cara enfiada na tela do computador, o iBook 14 foi uma daquelas novidades que pegaram muita gente de surpresa (inclusive a gente). O sucesso do modelo original ainda era recente; tanto que, durante o lançamento do iBook grandão, Steve Jobs avisou que haviam sido vendidos 36 mil iBooks para uso educacional no estado de Maine - a maior venda de portáteis para escolas de todos os tempos. Então, por que mexer em time que está ganhando? Isso é o que vamos ver.


Grande avanço… ou não?

Quando foi lançado, em maio de 2001, o iBook branco causou um choque ao abolir as cores e curvas psicodélicas da linha anterior. Mas, rapidamente, os macmaníacos viram a vantagem desse novo design: o iBook ficou menor, mais prático de carregar e mais leve (abaixo de três quilos).

Agora ele ganhou um irmão maior, que se não traz nenhuma inovação visual como seu antecessor, deixou aqueles que gostam de telas espaçosas com mais uma opção de compra. Com mais memória (256 MB padrão), um HD maior (20 GB) e o Drive Combo (a grande sacada introduzida no lançamento do iBook de 12"), o iBook de 14" encanta à primeira vista. Mas existem alguns pontos que devem ser ressaltados, pois podem deixá-lo menos atraente. Sigamos.

Se a diferença entre as medidas dos dois portáteis parece pequena (veja a tabela), quando colocados lado a lado a coisa muda de figura. O modelo de 12" parece de brinquedo perto da magnitude da tela de 14". E, que me perdoem os puristas, o tamanho da tela é, sim, importante. As razões disso, visualmente falando, são óbvias: maior área útil, melhor resolução... opa, não é bem assim. O tamanho das duas telas em pixels é exatamente a mesma: 1024 por 768. Por quê? Provavelmente, por questão de custo.

O acabamento dos dois iBooks é idêntico e compartilha o mesmo problema: a tampa é facílima de riscar. Para ela não ficar nojenta em uma semana, o transporte deverá ser feito numa mala forrada de flanela, veludo, pelúcia... No quesito "esquentar" também não há diferença. A dissipação de calor é boa e não atrapalha a digitação. O teclado é muito macio - uma constante nos portáteis da Apple - o que é reconfortante. O trackpad é bem posicionado, mas quem está acostumado com os modelos antigos (tanto o iBook colorido como o PowerBook G3) leva um certo tempo para se adaptar à posição mais para dentro do botão.

Agora, o que mais impressionou, colocando os iBooks lado a lado, foi como eles são parecidos. Bem... o teclado tem o mesmo tamanho! Os falantes também são os mesmos e estão nas mesmas posições, assim como o botão de ligar. E o microfone fica na mesma altura da tampa em relação à dobradiça.

A impressão que se tem é que só fizeram um gabinete maior e encaixaram a parte interna de sempre na nova caixa. Por causa disso, sobra um bocado de espaço no iBook - o principal motivo de estranheza naqueles que acham o modelo menor mais atraente. No iBook de 12" o design parece mais bem resolvido, justamente porque tudo parece encaixado no lugar certo, sem sobras.

Bugs resolvidos, novos bugs

Na avaliação do iBook 12", encontramos alguns problemas: o cabo da fonte de força trombava na gaveta do drive óptico, foi abolida a luz indicadora de recarga no plug e a dobradiça era difícil de abrir - detalhes que chateavam, mas não eram tão importantes assim. Pois bem: alguns deles foram resolvidos na versão maior.

Com o aumento óbvio do gabinete, a bandeja do drive já não bate mais no cabo de força. Ainda bem, pois esse defeito era mais do que irritante. Outro problema resolvido é a dificuldade para abrir. No modelo de 12", as dobradiças duríssimas deixavam alguns macmaníacos cabreiros. No novo iBook, o abrir e fechar da tampa é macio, como sempre deveria ser.

Além disso, a fonte de força "iôiô" foi substiuída por outra igual à dos PowerBooks G4, trazendo de volta a luz indicadora de recarga (âmbar quando carregando, verde com a bateria cheia). Mas nem tudo saiu como a Apple queria: o modelo de fonte M8482 depois de algum tempo simplesmente esquece que tem a luz laranja e fica apenas com a verde, mesmo quando carregando a bateria. O modelo que testamos já apresentava esse problema. A reclamação é geral e a Apple nos EUA troca a fonte com problema. Infelizmente, algumas dessas que foram trocadas também apresentaram defeito. A Apple Brasil também troca a fonte (desde que o aparelho esteja na garantia). Ligue para o AppleLine (5503-0090 se você morar em São Paulo, 0800-27753 para o resto do país) e informe o problema. A Apple irá buscar o iBook na sua casa (isso é chamado de "procedimento de coleta") e o levará para testes num Serviço Autorizado de portáteis. Se ficar constatado o defeito, a fonte será trocada e o iBook devolvido em casa, sem qualquer custo adicional. Se você não quiser esperar (esse leva-e-traz todo demora cerca de uma semana), o jeito é comprar uma fonte nova numa revenda.

Outro problema que existia no iBook de 12" e persistiu no novo modelo foi o... ahã... sistema de som. Os falantes têm um som abafado demais (para se ter uma idéia, o PowerBook G3 Wall Street de 1998 faz mais barulho que o iBook). Assistir a um filme no iBook de 14", visualmente, é bem melhor do que no 12" (apesar de a tela não ser tão brilhante quanto a do iMac G4), mas você vai precisar de um bom fone de ouvido.

A regra de ouro dos laptops diz que, quanto maior o iBook, maior a duração da bateria. A Apple jura que no iBook de 14" o tempo de duração da carga é de 6 horas (se você acredita nisso... bem, tenho um terreno interessante para vender no Vale do Anhangabaú). Isso, é claro, não foi o que vimos durante o teste. No máximo, a autonomia é de pouco mais de quatro horas (isso, é claro, vai depender do que você faz com seu portátil). Mas esse tempo é ótimo para um laptop. Dá pra ver o DVD de "Apocalypse Now Redux" e ainda sobram uns minutinhos.

O iBook vem com o trio de programas do Hub Digital previamente instalados: iTunes, iMovie e iPhoto. Porém, não espere encontrar um CD com esses aplicativos em separado. Se acontecer algum problema e você precisar reinstalar os softwares, terá que usar os discos de Restore (são quatro ao todo). Ainda bem que o drive Combo com gravador de CD ajuda na hora do becape.

O preço... ah, o preço

O iBook de 14" tem, assim como quase todos os produtos da Apple, um problema crucial e que o impede de ser um sucesso por nossas terras: o preço. Lá fora, ele custa US$ 1.799. No Brasil, com as nossas taxas e outros encarecedores, o valor sobe para expressivos R$ 7.990. Para um computador doméstico, isso é proibitivo. Façamos uma comparação - injusta, é verdade, mas que exprime bem essa questão: por menos dinheiro, R$ 6.690, é possível comprar um iMac G4 com a mesma quantidade de memória, o mesmo drive Combo, uma tela de cristal líquido de 15", maior e bem mais brilhante e duas caixas de som decentes. Uma diferença de mais de R$ 1 mil para muito mais vantagens.

Certo, não dá pra ficar levando o iMac G4 de um lugar para o outro (eu disse que a comparação não era justa). Quando colocado ao lado do PowerBook G4 Titanium (que também tem drive Combo. tela maior e um processador muito melhor), ele até faz sentido: modelo mais barato atualmente (G4 de 667 MHz) custa R$ 10.600.

Outro ponto que "pega" no iBook é o seu processador. Os chips G3 já não são a melhor pedida há algum tempo, principalmente com os avanços do Mac OS X. Por ser um portátil para os mercados educacional e doméstico, o iBook carrega o velho ranço de que "a turba não precisa mais do que isso". Mas um chip G3 de 600 MHz não é pouca porcaria. Se o seu uso se limita à Internet, fotos e trabalhinhos eventuais, dá e sobra. Você pode até brincar de editar vídeo, mas se for trabalhar profissionalmente com isso, o PowerBook G4 vai poupar um bom tempo.

Apesar dos pesares, o iBook de 14" é legal e faz uma bela presença na mesa. Tem gente que vai chamar ele de "barca". Mas, se você acha que as suas janelas precisam de muito espaço, esse pode ser o seu portátil.

Sérgio Miranda
Foi um dos únicos na redação que não ofendeu o iBook de 14" com termos como "barcaça" e "feioso".