Home Page





Pergunte aos Pros




Macmania
Resenhas


A Apple é uma empresa da qual é sempre bom esperar o inesperado. Depois de quase três anos de reinado do PowerBook G3 preto básico, com suas formas curvilíneas, todos estavam aguardando alguma coisa para lá de revolucionária, com formas e texturas nunca vistas. E então surgiu o PowerBook G4. Sem curvas, sem cores, sem plástico translúcido. Um retângulo de titânio; simples e sóbrio para uns, sem imaginação nem sabor para outros. Alguns macmaníacos chegaram ao nível da heresia: "é feio!" Gosto se discute, e é isso que pretendemos fazer com este misto de matéria e ensaio fotográfico que apresenta o novo portátil. A discussão sobre o design do PowerBook G4 foi grande entre os colaboradores da Macmania, mas ao final, a grande maioria concordou com Steve Jobs: ele é sexy (alguns acharam o termo "sexy" meio "pervo", preferindo dizer que ele é "lindão", o que dá no mesmo). Pode parecer fútil perder tempo discutindo o design de um produto em vez de seu desempenho ou especificações técnicas, mas a culpa toda é da Apple. Foi ela quem transformou seus usuários em críticos de arte, que não se contentam com nada menos que a harmonia perfeita entre a forma e a função das suas máquinas.




Forma e Função

O PowerBook de titânio atesta mais uma vez que a Apple não faz design pelo design. Tudo nele tem uma razão de ser. Quais são os grandes atrativos do PowerBook G4? Ele é fino, leve, tem uma tela widescreen matadora e é o primeiro laptop com gabinete de titânio puro. Seu design procura ressaltar essas qualidades, e é fruto delas. Não tem curvas porque elas só serviriam para deixá-lo maior ou mais grosso. Não tem cores porque o titânio é um metal que não "segura" nenhuma tinta convencional e também não é facilmente anodizável. Cada detalhe - a maçã na tampa sem nenhuma saliência, o trackpad na mesma cor do gabinete, a bateria discretamente integrada ao fundo, o CD-ROM do tipo slot-loaded, a sutil luz branca do modo sleep - tudo foi pensado para lhe dar um ar sólido, robusto, profissional. Nada que tire a atenção de sua tela espetacular.
O resultado? Mais um Macintosh clássico.



O PowerBook G4 dá a impressão de que vai durar por toda a sua vida. Seu design é retrô sem ser ultrapassado, remetendo a aparelhos de som da década de 70, como o chiquésimo e lendário Bang & Olufsen. Ou seja, até tem algo em comum com os novos iMacs floridos e de bolinhas. Nada está mais na moda hoje que os anos 70, como atestam o vestuário, o cinema, os seriados de TV e agora, os computadores.

Abrindo e Fechando

O titânio tem um toque muito bom: não é frio como outros metais, nem poroso como plástico. Apertando o botão frontal, o PowerBook abre em uma pequena fresta. Ao levantar a tampa, percebe-se que as dobradiças que seguram a tela são bem mais resistentes do que as de modelos anteriores. O teclado, à primeira vista, pode parecer igual ao do PowerBook G3, mas tem uma notável diferença: em vez de ser montado sobre uma placa de metal, ele é todo feito de plástico e traz alguns ímãs que aderem a conectores, deixando o conjunto muito mais firme. Ele também foi rebaixado, ficando exatamente no nível da superfície da base. Essas duas mudanças, se não eliminam, reduzem consideravelmente a possibilidade de o teclado marcar a tela, como ocorria no modelo anterior, ou de uma tecla ser pressionada quando ele está sendo fechado e interromper o sono, como algumas vezes acontece no iBook.



Mas eis que surge a primeira decepção com o PowerBook G4. O trackpad fica numa posição desconfortável, muito na frente, mais junto ao teclado do que à borda frontal. Quem está acostumado com o botão anatômico do PowerBook preto ou do iBook, posicionado na borda abaulada, sente a diferença na hora.

DVD para Viagem

A bateria até dura as cinco horas proclamadas pela Apple, mas apenas em condições mínimas de uso. Em condições normais, a autonomia fica entre duas e meia e três horas. Dá para assistir a um DVD inteiro e trabalhar mais um pouquinho. Os dois modelos trazem o sistema PowerStep, que reduz o clock do processador em 100 MHz em momentos de pouca atividade, para poupar a bateria. O mecanismo para a troca da bateria é o mais prático possível: basta deslizar um botão que ela sai na sua mão.



Ficamos um pouco preocupados com os relatos que apareceram na Web de discos presos dentro do drive do PowerBook G4. Pelo que foi dito, isso é decorrência da espessura mínima do equipamento. Qualquer desvio de fração de milímetro pode desalinhar a entrada do drive em relação à fenda no gabinete, prendendo DVDs e CDs lá dentro. Isso pode ocorrer após o PowerBook ser desmontado para a instalação do AirPort; por isso, todo cuidado é pouco. O equipamento testado pela Macmania realmente "agarrava" os CDs com uma força maior do que a normal, mas nada preocupante. É provável que, como os sapatos, ele acabe "amaciando" com o tempo. Mais intrigante é o longo tempo que CDs e DVDs demoravam para montar no desktop. Outro cuidado a ser tomado é que, quando estiver girando um CD ou DVD, não se deve segurar o PowerBook com uma mão só pelo lado direito, nem incliná-lo bruscamente. Apesar de não causar nenhum dano, o ruído feito pelo drive é assustador.

Tela de Cinema

Chegamos finalmente ao prato principal: a tela de LCD. São 15 polegadas a 1152 por 768 pixels - apenas uma polegada e 128 pixels a mais do que a tela do PowerBook G3. Mas que diferença essa polegada faz, principalmente para quem precisa trabalhar no Photoshop, Final Cut ou qualquer programa com muitas paletes e timelines! Mas é óbvio que a melhor aplicação para uma tela dessas é assistir a filminhos em DVD.



Nisso, o PowerBook G4 mostra a que veio. Sua tela não é estritamente widescreen: ela tem o formato 3:2 em vez do 1,66:1 dos DVDs widescreen. Portanto, você ainda vai ver duas faixas pretas em cima e embaixo da tela, ou duas faixas laterais quando a imagem estiver em formato de TV (4:3). Mas a tela é tão nítida e brilhante (graças à função Theater Mode, que já existe nos iMacs e nos monitores Cinema Display) que provavelmente você vai preferir assistir a seus filmes nela a ligar o PowerBook na TV.

Mas se você preferir assistir seus filmes na TV, não tem problema. Basta ligar o portátil nela pela saída S-Video (ou usar o adaptador RCA, se sua TV não tiver esse conector).



Aqui, existe uma troca de compensações. É muito mais difícil ligar um PowerBook a uma TV que um iBook DV, com sua porta de vídeo composto. Enquanto basta plugar um iBook na TV para começar a assistir seus filmes, no PowerBook é preciso desligar o Video Mirroring, abrir o painel Monitors, ajustar a resolução, arrastar a barra de menu do primeiro para o segundo monitor e rezar para que tudo dê certo. Em compensação, o PowerBook permite usar a TV como um prolongamento da sua tela principal, coisa que o iBook não faz. Uma curiosidade: você pode ver seus DVDs na TV com o PowerBook fechado (desde que ele tenha teclado e mouse ligados na porta USB), fazendo dele o DVD player mais fino do mercado.

Quanto ao som, sem comentários. As caixinhas do PowerBook de titânio, como as de qualquer portátil, seja lá de que metal for feito, têm um som de lata. Ainda bem que a saída para fones está na lateral, bem à mão.

A boa surpresa ficou por conta do microfone embutido, escondido dentro da cavidade do falante esquerdo. Talvez para compensar a falta de uma entrada de áudio, esse microfone tem qualidade de captação e sensibilidade muito superiores às de qualquer outro feito pela Apple nos últimos tempos. Com um software apropriado, dá tranquilamente para gravar reuniões e entrevistas com um resultado nítido e forte. Fora esse microfone invisível, a única maneira de gravar sons no PowerBook é por microfones USB (que estão começando a aparecer) ou FireWire (que ainda não existem).

A fonte de alimentação "ioiô" dos iBooks e PowerBooks G3 foi mantida. Só que o pino que pluga no computador é diferente, pois o G4 tem especificações de energia diferentes. O círculo luminoso ao redor da entrada de força, que demonstrava o estado da bateria, também foi "limado".

A conexão Ethernet traz o sistema AutoSense, disponível também nos novos Power Macs, que reconhece automaticamente se do outro lado do cabo de par trançado está um hub ou um computador, dispensando o cabo crossover. É só plugar um cabo Ethernet comum entre o PowerBook G4 e outro Mac para ter instantaneamente uma rede de 100 megabits. Cool!

Quem Corre Mais, o G3 ou o G4?

Quem é mais veloz: um PowerBook G3, um Power Mac G4 de mesa ou um PowerBook de titânio? A resposta é meio óbvia, mas algumas explicações são necessárias. Fora o chip, a placa lógica do PowerBook G4 é praticamente a mesma do PowerBook G3. Os dois usam o mesmo sistema gráfico, baseado no chip ATI RAGE Mobility, e têm os mesmos 8 MB de memória de vídeo (SDRAM). Isso quer dizer que, em tarefas em que as instruções do AltiVec (ou melhor, Velocity Engine) não são utilizadas, o desempenho do PowerBook de titânio fica cerca de 10% superior ao do seu antecessor. Já em programas que utilizam o AltiVec intensivamente, como Photoshop, After Effects, Logic Audio ou Final Cut, o desempenho pode ficar de 30 a 50% maior, dependendo da tarefa realizada. Nada mau.

Claro que um Power Mac G4 de mesmo megahertz será mais rápido que o PowerBook, porque não é apenas a CPU que faz a diferença, mas toda a arquitetura em volta dela. Os novos Power Macs com placas de vídeo RAGE Pro 128 ou nVidia GeForce botam o PowerBook no chinelo quando se fala em games de última geração ou programas 3D. Mas e daí? Tente carregá-los debaixo do braço.

O PowerBook G4 se saiu muito bem em todos os testes feitos com programas de áudio, vídeo e tratamento de imagem. Quem quer um portátil para trabalhar com programas tipo Office, acessar a Web ou outras tarefas que não exigem processamento intensivo, pode se dar ao luxo de ir atrás de um PowerBook G3 (o preço está muito bom, caso você consiga achar um), ou investir em um iBook. Quem depende de programas otimizados para G4 não tem opção: é titânio na cabeça. Qual dos dois comprar, o de 400 ou o de 500 MHz? O fator preço com certeza é o mais importante. A diferença de velocidade entre os dois não é tão expressiva. Mais determinante que isso é o espaço de disco e memória. Os dez gigas e 128 MB de RAM que vêm com o modelo de 400 MHz não fazem o verão de quem trabalha com edição de vídeo. Como a Apple não oferece no Brasil o BTO (Built to Order, o "Monte Sua Máquina" da AppleStore americana), o jeito é se contentar com o modelo básico ou chorar para a sua revenda favorita colocar um disco maior por um precinho camarada. A memória RAM é PC-100, mas só cabem pentes de até 1,5 polegada, mais fininhos do que o PC-100 normalmente encontrado nas lojas de informática. Teoricamente, é possível colocar até 1 GB de RAM, desde que você encontre pentes de 512 MB de 1,5 polegada.

Pontos Fracos

Ninguém é perfeito, nem mesmo os designers da Apple. Além do já citado trackpad incômodo, existem alguns detalhes que não tiram o brilho do titânio, mas que precisam ser citados.

O primeiro é a maneira de se instalar o AirPort. Nisso, a Apple deu vários passos atrás. Em qualquer Mac, instalar a placa AirPort é questão de abrir uma portinha (ou levantar um teclado), "fucar" a placa e sair surfando nas ondas do mar sem fio. No PowerBook de titânio é preciso soltar oito parafusos e retirar todo o fundo do equipamento para se ter acesso ao slot do AirPort. Presume-se que a Apple considera que o usuário deva fazer isso com as próprias mãos, posto que há um diagrama de como fazê-lo impresso sob a bateria e o manual contém instruções mais detalhadas. Mas não é uma tarefa para os fracos de coração. O gabinete de titânio é uma casquinha finíssima e extremamente maleável nos pontos de encaixe, que são vários e precisam estar no lugar exato na hora de colocar o tampo de volta.
Na dúvida, deixe para a assistência técnica.

Outro ponto é o calor relativo do aparelho. Para nossos colegas do hemisfério norte, que estão colocando as mãos no PowerBook em pleno inverno, essa questão passou batida. Mas aqui no Brasil, no verão, a coisa muda de figura. O PowerBook G4 esquenta muito, como nenhum outro portátil antes dele, principalmente no canto superior direito. Chega ao ponto de você não conseguir deixá-lo no colo! Felizmente, isso só ocorre após mais de meia hora de uso intenso, e basta deixá-lo quieto por alguns minutos para que ele volte à temperatura natural. A ruidosa ventoinha do chip só é acionada em casos extremos, geralmente depois de muito tempo de uso ou quando alguma das saídas de ventilação está obstruída. Na maior parte do tempo, você nem nota que ela existe.

A falta de uma entrada de áudio, a existência de apenas uma porta FireWire e o fim das baias removíveis não chegam a causar desapontamento. São mais um exemplo de trade off a que os usuários de PowerBook já estão acostumados. Sempre falta algo no modelo novo que havia no velho e vice-versa.

Quanto Vale o Show?

Mesmo com o preço absurdo que está custando no Brasil (não é ganância da Apple, como provam os preços dos concorrentes, mas impostos altos e dólar caro) não há dúvida de que o PowerBook G4 vai ser um sucesso de vendas. Como primeiro modelo de uma nova linha, ele está muito bem acabado. Uma versão 2.0 com certeza teria que trazer uma reformulação da motherboard, com maior capacidade gráfica, além de reparar os probleminhas aqui citados. Dificilmente veremos isso ainda este ano - no máximo, um incremento de velocidade e algumas pequenas melhorias. Portanto, se você também achou o PowerBook de titânio sexy e lindão, não há muito o que pensar.

Heinar Maracy