Macmania 111 - setembro de 2003
Finalmente! Depois de uma espera que parecia sem fim, está nas lojas o QuarkXPress 6, há 16 anos o software líder para editoração proíssional de publicações. A nova versão traz novos recursos, mantém a essência do que o torna simples de usar e eficiente (ao menos para os que estão acostumados a ele de longa data), mas o verdadeiro grande feature é a compatibilidade com o Mac OS X Jaguar.
A demora em atualizar o programa foi apontada pela mídia macmaníaca como um fator decisivo na demora do público ligado ao DTP em migrar para o novo sistema. O próprio Steve Jobs disse isso, no lançamento do software, em junho. E aí, agora vai ou racha? Saiba a opinião de alguns dos melhores pro?ssionais de DTP brasileiros.
Mais novo, mais lento
A minha máquina atual para diagramar é um iMac Indigo de 500 MHz. Nada que possa ser chamado de "bólido" no ano corrente de 2003; porém, similar ao equipamento de um número significativo dos leitores desta revista. Assim sendo, se você tem uma máquina G3, esteja avisado: a velocidade da versão 6 no OS X é claramente inferior à da versão 5 (ou 4) rodando no ambiente Classic na mesma máquina! O mais irritante é a edição de texto: digito uma frase e vejo as letras aparecendo na tela pachorrentamente, uma a uma. Mesmo num G4! Ainda bem que essa lentidão não acontece nas operações de edição de layout.
Mesmo com a perda na velocidade, mantém-se a grande vantagem histórica do Quark sobre o rival InDesign, que sozinha foi decisiva para nós aqui não querermos migrar de programa quando surgiu a chance. A saber: a capacidade de o Quark rodar em qualquer pedaço de pau velho, incluindo computadores muito mais antigos que o meu iMac. Se o seu pedaço de pau tem condições de aguentar o Mac OS X, é garantido que ele vai rodar o Quark 6.
Cadê as novidades?
Quem pular direto do Quark 4 para o 6 descobrirá várias novidades legais, sendo as principais o editor de tabelas, os menus contextuais, os layers e a exportação em XML. Quem vier da versão 5 não vai notar muita coisa de diferente: basicamente, melhorias nas tabelas (ainda bem inferiores em sofisticação às do InDesign) e nos layers. Os recursos inéditos são os layouts sincronizados, a exportação direta para PDF e uma interface (mais ou menos) "debugada".
Outra adição bacana é a inclusão das fontes no Collect for Output (mas, não, você ainda não pode exportar EPS contendo fontes).
O programa continua sem ter a menor idéia do que sejam objetos transparentes - recurso imensamente popular na concorrência, seja direta pelo InDesign ou indireta, via programas de ilustração e Photoshop. Faz muita falta.
A festa dos layouts
O formato básico de arquivo foi upgradeado para "Project", que pode incluir diversos layouts inter-relacionados. Cada um corresponde a uma aba no pé da janela do documento, e você pode pular entre eles e compartilhar os dados. A razão de isso ser melhor do que manter vários arquivos separados é a possibilidade de sincronizar automaticamente os textos entre os diversos layouts, através de uma nova paleta que inter-relaciona os blocos de texto a serem sincronizados. Há possibilidade de melhorias: só um layout pode ser visto de cada vez na janela do documento, o que obriga a ficar pulando entre um e outro. Seria uma boa poder repartir a janela entre os layouts.
Outra aplicação interessante do sistema de layouts múltiplos é desenvolver um website juntamente com a publicação correspondente. Features relacionados à Internet foram recebidos por muitos com frieza: "Queremos um Undo de verdade, não um 'Save For Web'!" O novo recurso de múltiplos layouts por documento torna factível a conversão automatizada entre páginas de papel e da Web com aparências diferenciadas e otimizadas.
Restam algumas esquisitices: o Quark 6 não sabe abrir HTML, mesmo o exportado por ele próprio, e também não imprime páginas Web diretamente, obrigando a abri-las num browser.
Layers úteis
O recurso dos layers (camadas) apareceu na versão 5. O esquema é similar ao da conconcorrência; ícones de olho e cadeado ativam, respectivamente, a visibilidade (agora há uma opção separada de disponibilidade para impressão) e o travamento de cada layer. Para mudar a ordem deles, [Option]-arraste-os na lista. Cada objeto na página traz uma bandeirinha colorida indicando o layer a que pertence.
Para mudar um objeto de um layer para outro, clique no botão "Move to Layer" e escolha o layer desejado
num menu. (Isso bem que poderia ser um pouco mais simples...)
Você não pode editar os layers numa página mestra, nem copiá-los entre layouts do mesmo projeto, o que é inexplicável e broxante.
O lance na prática é acostumar-se a pensar em três dimensões e criar layers específicos para acomodar os vários tipos de objetos: fotos, textos, legendas, fios, caixas, números de página, texturas bregas de fundo e títulos.
Compatibilidade parcial
O novo Quark só exporta documentos para a versão 5, o que é péssimo; inúmeros profissionais de DTP (incluindo eu mesmo) mantinham-se confortáveis na versão 4 até hoje. Além disso, os documentos salvos por um Quark Passport (como o que testamos) não podem abrir num Quark não-Passport.
Para quem está boiando, é o seguinte: a versão Passport do QuarkXPress inclui suporte a diversos idiomas além do inglês. Essa divisão geográfica soa meio sem sentido no atual mundo globalizado, e ainda mais no Brasil, já que simplesmente não existe suporte nativo ao português brasileiro no Quark. Para a hifenização em português é preciso adquirir a extensão Dashes XT, desenvolvida pela Compusense (www.compusense.net), que já possui versão para o Quark 6, vendida pela Woodlands (representante da Quark no Brasil; fone 11-3885-7688) por US$ 200.
Segundo a Woodlands, a Quark está analisando a possibilidade de criar uma versão do Quark Passport para a a América Latina, que já venha com dicionário e hifenização em inglês, espanhol e português do Brasil.
Por fim, é curioso notar que, no press-release do lançamento, a Quark proclama que existem "mais de 500 XTensions" (plug-ins) disponíveis, mas esquece de mencionar o pequenino detalhe de que toda e cada uma delas terá obrigatoriamente de ser portada para a versão 6. Pegadinha...
Eu quero é PDF!
Até que enfim, o Quark 6 salva direto em PDF. Ou então, permite que você salve o arquivo PostScript "cru" para ser "destilado" pelo Adobe Acrobat, como já ocorria na versão 5. A tecnologia PDF da Quark é defasada em relação à da Adobe e não oferece todos os recursos e opções disponíveis no Acrobat 5, nem permite criar estilos de exportação (Job Options) para aplicações diversas. Talvez fosse o caso de haver um nível de opções básico e um avançado, a fim de confundir menos o usuário, como a Adobe faz nos seus programas quando tem boa vontade.
Me ajude, Help!
Tudo bem, mas como se faz tudo isso? O Help do Quark 6 é complexo e portentoso; sugere um livro bem biteludo. "Sugere", apenas, porque não vem junto o manual correspondente impresso em papel. Além disso, o Help aparentemente foi escrito por um nerd deslocado no departamento de Marketing. Não ensina a fazer nada numa abordagem linear: apenas explica incessantemente porque as ferramentas novas são a coisa mais sensacional desde a invenção do Ice Cream Soda.
Ou é isso, ou eu sou burro demais. De toda forma, prepare-se para a possibilidade de ter que ler vinte seções do Help de enfiada, ou desistir e comprar um livro passo-a-passo, antes de conseguir fazer alguma coisa mais diferentona.
Pesa quanto vale?
Pesados os prós e contras, resta a questão do custo. O QuarkXPress nunca foi lá muito barato, e continua um tanto mais caro que o InDesign. O preço oficial no Brasil é US$ 1.190 (o preço em reais depende da cotação do Dólar Turismo para venda do dia), contra US$ 853 pelo InDesign 2.0.
Quem tem o Quark 5 pagará pelo upgrade apenas US$ 241, enquanto os usuários da versão 3 e 4 desembolsarão US$ 642 e US$ 370, respectivamente. Ainda é preciso adicionar o custo do Dashes para hifenar em português: US$ 200 (O InDesign já vem com dicionário e hifenação em português).
Mas a grande pegadinha mesmo é que você não pode instalar o mesmo exemplar do Quark 6 em computadores diferentes, mesmo que estejam em redes separadas. Não pode nem colocar o mesmo Quark na máquina do trabalho e em casa. Nem sequer instalar por um usuário e usar logado por outro no mesmo Mac!A Quark exige que se adquira uma licença individual por máquina, fazendo via Internet o registro do computador onde o programa foi instalado. Sem o registro, você fica sem a badalada XTension que permite o preview de imagem em alta resolução. Independentemente do direito legítimo da Quark de proteger suas vendas, isso não é simpático com os usuários e tem causado protestos nos EUA; é até possível que a empresa ceda à pressão e abrande a sua política comercial.
Para os indecisos, há versões demo dos dois programas rivais nos sites das respectivas empresas:
QuarkXPress 6 Passport Demo - www.quark.com/service/desktop/downloads
Adobe InDesign 2.0 Tryout - www.adobe.com/products/tryadobe
QuarkXPress 6
Requisitos:
Mac OS X v10.2 (Jaguar)
128 MB de RAM (total)
230 MB de HD livre
Drive de CD para instalação
Rede TCP/IP para obter a licença via Internet (Quark License Administrator) |
Mario AV
www.marioav.com
É Zen. Mas já xingou muitos softwares na vida...
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