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Macmania
Resenhas

Premiere 6.0

A ilustração na caixa do software já diz tudo: uma câmera DV projeta um monte de cavalos em direção a um cabo FireWire. No fundo, letras semitransparentes dizem: "http//"... Por trás desse visual claramente "etapista", a Adobe entra de vez no páreo da produção de vídeo da Nova Era.



Após dois anos de espera, o velho Premiere ressurge devidamente adaptado às necessidades do vídeo digital e vai correr atrás do Final Cut Pro da Apple na briga pelo posto de melhor ferramenta de edição de vídeo de baixo custo. O Premiere surgiu junto com a revolução do QuickTime, há dez anos. Trabalhando junto com placas de digitalização de vídeo dos mais diversos portes, sempre foi uma ferramenta de edição semiprofissional bastante popular e eficiente, na prática só se diferenciando dos sistemas de maior porte (como Avid ou Media 100) pelas renderizações intermináveis. Mas nunca alcançou o sucesso "arrasa-quarteirão" do Photoshop, a grande barbada da Adobe. Entretanto, nos últimos anos, o aparecimento do vídeo digital ao alcance de todos e a "carnedevaquização" da Internet mudaram as necessidades em torno dos softwares de edição de vídeo, principalmente os baratos.

A Apple armou tudo para o Final Cut Pro ocupar esse novo espaço, dotando-o de mecanismos específicos para o formato DV. Com o seu sucesso de público e de crítica, a Adobe levou dois anos para reagir e voltar à briga com a versão 6 do Premiere.

As novidades começam pelas óbvias atualizações de interface, que procuram justamente deixar todo o visual padronizado com a família de programas da firma. O software está mais "profissional", com avanços nas janelas de monitor; uma timeline cheia de novos botões e ferramentas com comandos de edição para todos os gostos; uma janela de mixagem de áudio bacana; e um sistema de administração de projeto bastante claro e eficiente. Justamente nessa área temos uma inédita janela de Storyboard, onde pode ser feito um rascunho da edição a partir dos clipes digitalizados, que se integra diretamente a qualquer ponto da timeline. A integração com o maravilhoso mundo da Adobe ainda trouxe para o Premiere os famosos efeitos do After Effects, que substituem parte dos antigos efeitos embutidos no programa. Mas, do ponto de vista estritamente mercadológico, o que tira o atraso do Premiere 6.0 são a adaptação perfeita ao mundo FireWire e a integração com os formatos mais eficientes de video streaming.

A primeira novidade é o total suporte ao formato DV. Através da porta FireWire (conhecida no mundo PC como IEEE 1394 ou i.Link), o Premiere controla a câmera ou player DV conectado ao computador, digitaliza e exporta o vídeo editado para a fita. Além disso, mostra o preview da edição em tela cheia no visor da câmera ou num monitor acoplado ao player. Os presets específicos para DV permitem trabalhar com formato NTSC ou PAL, na proporção de tela de televisão (standard 4:3) ou cinema (widescreen 16:9) e em diferentes qualidades de áudio (32 kHz a 12 bits ou 48 kHz a 16 bits). Exporta e importa arquivos DV em diversos formatos, como QuickTime, AVI e DV Stream (o formato que é a cópia digital dos dados da fita DV - nada a ver com o Internet streaming). Com isso, ele pelo menos já empata com o Final Cut Pro.

A segunda novidade, por enquanto exclusiva, é um amplo espectro de ferramentas de exportação de filmes, principalmente para uso na Internet. O Premiere 6 vem com o Cleaner EZ, uma versão "light" do software compressor Cleaner, da Terran Interactive (vulgo Media 100), e consegue gerar filmes comprimidos em trocentos formatos diferentes, como QuickTime, RealMedia, MPEG e AVI, entre outros, para uso na Internet, CD-ROMs etc. É um "presente" e tanto: além da variedade de formatos, o software ainda tem um esquema que ensina o cidadão a atingir a compressão desejada.

Ainda no mundo interativo, os filmes podem conter marcas na timeline indicando links para HTML ou divisões de capítulos de DVD.

Mais competitivo

Com todas essas mudanças, parece que o Premiere recuperou definitivamente a competitividade. E ao trabalharmos com ele, isso fica ainda mais claro. A primeira impressão é agradável. Graças ao padrão de interface da Adobe, decifrar os comandos é uma tarefa relativamente simples. Tudo parece, de alguma forma, familiar.

Para começar um projeto, devemos antes de tudo escolher um padrão de vídeo para trabalhar o projeto (project settings). O programa oferece um amplo cardápio de opções prontas para as diversas formas de captura, seja pela porta FireWire ou por uma placa digitalizadora.

A interface básica é formada por uma janela de projeto (onde ficam os bins com os clipes de vídeo, áudio ou gráficos digitalizados); uma janela de monitor, onde podemos assistir simultaneamente ao material bruto e ao programa editado; uma timeline com as pistas de vídeo e áudio e as ferramentas de edição; a janela de mixagem; e uma coleção de paletes flutuantes que controlam diversas funções, algumas diretamente ligadas ao processo de edição, como transições, efeitos de vídeo e de áudio, e outras ligadas ao processo "administrativo" do programa, como as paletes Navigator, History e Commands, já conhecidas do velho e bom Photoshop.

O sistema de captura de vídeo, criado especialmente para a nova realidade digital, é simples e eficiente. O controle de máquina mostrou-se impecável; montar uma lista de digitalização é tranquilo. Os parâmetros de digitalização podem ser alterados a qualquer hora. A organização do material digitalizado na janela de projeto é ótima; uma evolução da Adobe em relação ao After Effects, com diversas formas de visualização dos clipes. Montar a edição na timeline também é fácil, com ferramentas de seleção e corte claras. Os clipes podem ser editados tanto na janela de monitor como diretamente na timeline. Aqui senti, entretanto, um certo incômodo com a caixa de ferramentas fixa no corpo da timeline. Talvez se ela pudesse flutuar, a troca de ferramentas seria mais ágil, como é no rival Final Cut Pro.

Colocar efeitos é bico e há previews, mas aqueles velhos tempos de render continuam rolando gostoso. Enquanto não aparecerem placas aceleradoras, é um problema inevitável, mas não insuportável, principalmente se você fuma, toma café ou tem um Game Boy.

Ainda nessa área, os controles de efeitos com keyframes se assemelham bastante ao After Effects, mas não são tão precisos.

Outras virtudes: 99 trilhas de vídeo e 99 de áudio. Variados efeitos e controles de edição de áudio. Entende direitinho os canais alfa (recortes) gerados em outros programas. Aliás, usar letreiros com canal alfa vindos de outro software é mais prático que usar a ferramenta de texto do Premiere, tosca e imprecisa (como costuma ocorrer em programas de edição dos mais diversos portes). Por que não fizeram ainda algo semelhante ao que há no Illustrator ou no Photoshop? Uma vez pronta a edição, as opções se multiplicam: exportar para um dos formatos já citados, gravar na fita ou ainda gerar um EDL (edit decision list) para realizar a pós-produção em outro equipamento.

Concluindo...

O novo Premiere parece, antes de tudo, revigorado. Entrou na nova era do vídeo digital com poder. Tem como virtudes principais uma "interface Adobe" familiar e bastante compreensível, talvez só complicada pelo número de funções, que beira o exagero. Outro problema é a quantidade de menus de preferências, que se multiplicam como as paletes; permitem uma configuração ao gosto do freguês, mas também geram confusão. Mas isso parece ser inerente aos programas profissionais de vídeo.

Como todo software de vídeo, as exigências de funcionamento também não são poucas: os caras recomendam pelo menos 128 MB de RAM para um funcionamento digno. E para usar com DV, um processador de 300 MHz e um HD com taxa de transferência sustentada de pelo menos 5 MB por segundo.

Para fechar com chave de fenda, concluímos que o Premiere 6.0 põe a Adobe brigando pelo menos de igual para igual com o Final Cut Pro pela preferência dos "cineastas de microondas" da era digital. Se o rival mereceu a festa por seu pioneirismo no DV, o Premiere traz a consistência do padrão Adobe de qualidade. Qual é o melhor? A resposta fica, quem sabe, para a próxima Macmania.

Alexandre Boëchat
Ainda sonha com o Mac DV próprio.