Pela primeira vez em toda a sua história, a Apple colocou nas mãos de seus usuários um sistema operacional antes de ele estar finalizado. Sim, porque, apesar de o termo "beta" ter sido totalmente distorcido depois do advento da Internet - graças a programas eternamente betas, como o ICQ - esse significado original ainda persiste: beta é algo que ainda não é o produto final.
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Essa é a primeira coisa a se levar em conta ao analisar (ou instalar) o Mac OS X Public Beta. Ainda falta muita coisa: funções básicas como entrada de áudio e drivers de impressão ainda não estão implementados; o sistema pede 128 MB de RAM para funcionar, e mesmo assim se arrasta em determinadas máquinas. Mas tudo isso deve ser solucionado (esperamos) nos meses que separam o beta da versão oficial.
Promover um beta público de um sistema operacional é uma atitude corajosa. A Apple correu o risco de se ver às voltas com uma enxurrada de reclamações sobre como o novo sistema é contraproducente, "bugado" e não correspondente às expectativas dos usuários. Mas no caso do Mac OS X, esse beta era imprescindível.
O sistema traz mudanças muito radicais em relação ao Mac OS como o conhecemos. Nem mesmo a passagem para o System 7 (1991), nem a transição para o chip PowerPC (1994) abalaram tão expressivamente a maneira como o macmaníaco está acostumado a interagir com seu equipamento.
Leve em conta tudo isso antes de entrar em pânico só porque o Mac OS X Beta não é vendido no Brasil. É realmente uma pena, mas se estivesse, você não poderia fazer muita coisa com ele além de instalar, brincar um pouco e depois voltar para o Mac OS 9 para trabalhar de verdade. Ainda não existem muitos programas "carbonizados" (adaptados para rodar nativamente dentro do X e também no 9). Os programas tradicionais, relegados ao ambiente "Classic" (o Mac OS 9 dentro do X) não usufruem da estabilidade e do gerenciamento de memória mais avançado do novo sistema.
É claro que tudo isso não impediu que 60 mil curiosos comprassem o CD de instalação do beta do Mac OS X, direto da AppleStore americana, em seu mês de lançamento. Não há como negar que a nova interface Aqua e a promessa de um novo mundo baseado em Unix, o respeitável Rei dos Sistemas Operacionais, com multitarefa preemptiva e memória protegida, são suficientes para qualquer um querer pular nesse trem o mais rápido possível. Mas vamos com calma: quem esperou mais de dez anos por um sistema operacional verdadeiramente moderno pode esperar mais alguns meses.
Infelizmente, a Apple ainda não tem uma política definida para a venda do beta em outros países, Brasil incluso. Ou seja: o único meio de botar a mão no beta aqui é pedindo para alguém comprá-lo nos EUA e trazê-lo para cá, já que ele não está disponível para download. Mas antes de mandar um email pro seu tio que mora em Boca Raton, dê uma lida nesta matéria. Tentamos transmitir aqui a real experiência de conviver com a nova obra inacabada da Apple. Leia e decida se vale a pena esperar. O sistema final deve começar a ser vendido no início de 2001.
Instalação
A instalação do Mac OS X é tão simples quanto a do Mac OS 9. Na verdade, bem mais simples, pois existem apenas três opções de instalação no "Custom Install", todas obrigatórias (!). Os 800 MB necessários para a instalação estão divididos em Base System (250 MB), Essential System Software (446 MB) e BSD Subsystem (103 MB). Como todas essas "opções" são necessárias para o X funcionar, acaba dando na mesma usar a instalação Custom ou a Easy. Você ainda pode escolher entre instalar o sistema em inglês, francês, alemão ou japonês.
A instalação leva de 15 a 20 minutos, caso você não tenha nenhum problema de incompatibilidade de hardware. Ao final da instalação, basta dar um restart para ver o Mac feliz de sempre aparecer. Você só percebe que há algo diferente no ar pelo novo cursor de espera, em forma de uma bolinha irisada rodando no alto da tela - o mesmo do Mac OS X Server (Rhapsody).
Ao entrar pela primeira vez no Mac OS X, você vai se deparar com um Setup Assistant - muito parecido com o do Mac OS 9.
É reconfortante dar de cara com algo que você conhece em um sistema que promete mudar tudo. No Assistant você escolhe o layout de teclado, coloca seu nome (que funciona como login tanto na forma extensa como na abreviada) e senha, determina o tipo de rede e acesso à Internet que você possui, configura seu email e ajusta a data e a hora.
Confira todos os ajustes, dê OK e outro restart para entrar em contato com o primeiro sinal de que você não está mais no Kansas: uma janela de login. Pode parecer estranho o sistema pedir seu login e senha logo depois de você tê-los definidos na janela do Setup Assistant (ainda mais sendo você o único usuário da máquina), mas é isso mesmo que acontece. Aparentemente, a Apple quer deixar bem claro que o Mac OS X é um sistema multiusuário. Não aquela "gambiarra" dos Multiple Users do Mac OS 9, mas um verdadeiro sistema multiusuário, onde cada um tem seus arquivos, preferências e limites, separados e protegidos dos olhares alheios. Existe a opção de desabilitar a janela de login, mas ela não é o default do sistema. Qualquer mudança nos painéis de controle do sistema também só podem ser feitas após você "destrancar" o painel com seu login e senha.
Planeta Aqua
Depois de anos usando um sistema operacional que a cada versão trazia apenas novas variações de tons de cinza para menus e janelas, só é possível dizer uma coisa ao ver o Aqua em um Mac: Uau!
Sabemos que a interface desenvolvida pela Apple para seu novo sistema é apenas a cereja na ponta do sorvete,
mas que cereja! Menus e janelas brancos, texturizados e translúcidos. Ícones que podem ser ampliados até tamanhos gigantes e reduzidos até tornarem-se incompreensíveis. Textos perfeitamente desenhados em qualquer tamanho de fonte. Visualmente, um banho em qualquer outro sistema operacional.
Devo confessar que os ícones eram o meu maior medo. Sempre achei os ícones de 128 x 128 pixels que vêm com o X, com seu pseudo-realismo fotográfico, de gosto duvidoso. Mas aí começaram a aparecer as primeiras coleções do IconFactory, com desenhos maravilhosos e um uso muito bem pensado da transparência. Simplesmente de cair o queixo.
A Apple até fez uma concessão aos que acham a interface Aqua "alegre" demais. Escolhendo a aparência Graphite, os botões e as gotas multicoloridas do sistema mudam para tons de cinza variados. Há gosto para tudo.
É claro que o que mais chama atenção na nova interface é o Dock, a barra inferior que tenta substituir o Apple Menu e o Program Switcher do Mac OS 9. O Dock é bonitinho e funciona - até certo ponto.
Traz algumas animações eficazes, como o efeito Genie, no qual a janela escorre para fora do Dock como um gênio saindo da garrafa (erroneamente chamada por aqui de "Jeannie", em alusão ao velho seriado), e também quando um item é arrastado para fora do Dock para ser deletado e vira uma nuvinha de fumaça (igual ao efeito visual de apagar do Newton). Mas o melhor é o "ícone saltitante". Toda vez que você abre um programa, o seu ícone fica pulando até ele carregar completamente. É uma boa maneira de fazer um benchmark rápido do sistema.
É claro que toda essa beleza não sai de graça. As transparências, sombrinhas e animações do Aqua são possíveis graças ao Quartz, o código responsável pelo desenho de tudo que aparece na tela, que substitui o atual QuickDraw. A principal diferença entre os dois é que o Quartz é baseado no PDF (Portable Document Format), da Adobe. Isso permite toda essa exuberância gráfica, mas também exige mais poder de processamento. Mas é um preço a se pagar para ter o primeiro sistema realmente WYSIWYG da história. Com o próprio desenho de tela baseado em PostScript, não há como o resultado de uma impressora não sair igual ao que está no monitor.
Se achando no Finder
Recuperado do choque de entrar em um sistema aquoso e fofinho, vamos navegar. Aparentemente, ainda estamos no Mac OS. Fora o Dock e alguns itens diferentes no menu, a sensação é de apenas estar em um Mac OS com coisas um pouco fora de lugar, mas ainda no Mac OS. Ledo engano.
A Apple fez um trabalho brilhante em esconder do usuário final um sistema de arquivos baseado em Unix. Todos os diretórios que não são fundamentais para o uso normal do sistema estão escondidos. Mas eles ainda estão lá: basta olhar pela interface de linha de comando (com a presença de um adulto responsável).
Mesmo assim, muito da flexibilidade do Mac OS foi perdido. Em estrutura de arquivos, o X ainda não passa de um "Unix com skin de Mac OS". Segue uma convenção rígida, com um lugar certo para cada coisa e cada coisa em seu lugar. Não é recomendável instalar programas fora da pasta Applications, por exemplo; coisas estranhas podem acontecer.
Você também não consegue tirar programas da pasta Applications, apenas copiá-los. E somente os seus arquivos que estão na pasta Public podem ser compartilhados.
O desktop também não é mais aquela "mesa da Mãe Joana". Na verdade, ele nem é mais uma abstração do sistema, mas sim uma pasta como qualquer outra, localizada dentro de user/library. Cada usuário tem seu próprio desktop.
É sempre bom lembrar que estamos vendo uma versão beta, que mostrou avanços notáveis em relação à última versão distribuída aos desenvolvedores (DP4, ou Developers Preview 4). É natural esperar que o sistema seja ainda mais refinado até o seu lançamento oficial. Um exemplo disso é o modo de Janela Única. Até o DP4 havia um botão do lado direito de cada janela do Finder que ligava e desligava o modo que permitia navegar pelo sistema e usar todos os programas com apenas uma janela aberta o tempo todo. Ao clicar em uma pasta no Finder, seu conteúdo era mostrado na mesma janela que a continha. Só que alguém na Apple deve ter se tocado que essa função já existe no Mac OS 9, bastando segurar a tecla Option ao abrir uma pasta. No X beta, essa função foi invertida. Clicar com Option faz abrir uma nova janela. Para nós, heavy users, é mais prático assim; mas se você quiser, pode deixar no estilo do Mac OS 9.
Incoerência
Tudo indica que a Apple está seriamente empenhada em fazer do X o Unix mais intuitivo da história desse sistema operacional feito por geeks para os geeks. Mas isso não é tão fácil quanto clonar ovelhas. A tentativa de conciliar a estrutura de um sistema seguro e multiusuário com uma interface conhecida e intuitiva pode gerar algo imprevisível. O próprio beta é um exemplo disso. Você pode abrir várias janelas com o mesmo nome, ou criar um loop infinito na visão por coluna colocando um alias de uma pasta dentro de outra que a contém. Você pode trocar ícones de pastas a seu bel-prazer, mas só pode trocar o ícone do HD se entrar no login como Root, que é o nome do super-usuário ou administrador da máquina.
As próprias janelas do Finder são um exemplo de que tentar agradar a gregos e troianos pode levar à esquizofrenia. Muita gente não gostou dos botões à la Sherlock em todas as janelas; então, foi acrescentada a opção de poder eliminar os botões e deixar a janela do jeito "tradicional". Só que (tcharam!) essa janela tem um tamanho mínimo na largura e na altura, como se a barra de botões estivesse ali, invisível.
Também não é mais possível ajeitar uma janela em certo tamanho, local, com os ícones dispostos do jeito que você quer, fechá-la e depois reabri-la do mesmo jeito. E o pior - sacrilégio dos sacrilégios! - dar Command-N no Finder não cria uma nova pasta, mas uma nova janela, quebrando uma tradição de 16 anos de sistema (para criar uma pasta nova, você precisa dar Command-Shift-N).
Se isso não bastou, agora prepare-se para experimentar o mais absoluto horror: nem sinal dos Labels. Pô, logo a única coisa do Finder clássico que o Windows não lembrou de copiar?
Classic
O ambiente Classic é um dos grandes truques do OS X, fundamental para garantir uma transição suave do sistema atual para o próximo. Em poucas palavras: o Mac OS 9 roda como se fosse apenas mais um programa dentro do OS X, permitindo o acesso a todos os aplicativos que você utiliza hoje.
Ou quase todos, já que aqueles que acessam diretamente o hardware e algumas extensões não funcionam.
Programas rodando dentro do Classic se comportam relativamente bem, apesar de na média geral ficarem um pouco mais lentos do que quando rodam no Mac OS 9. Ter que esperar o Classic abrir (com a entrada do Mac OS 9 e todas as suas extensões) também pode ser exasperante, principalmente se sua máquina não é das mais rápidas ou se você não tem memória sobrando. Sim, porque apesar do gerenciamento de memória avançado, o X não faz mágica. Se toda a memória estiver sendo usada, abrir novos programas fará tudo ficar mais lento. E o Classic consome um bocado de memória.
Desempenho
De maneira geral, mesmo consumindo 128 MB de RAM, o Mac OS X Beta geralmente parece mais devagar que o Mac OS 9 instalado na mesma máquina. Algumas ações, como redimensionar janelas, ainda estão ridiculamente lentas (os programadores da Apple já avisaram que essa parte do sistema ainda não está otimizada), e os filmes QuickTime perdem frames em qualquer resolução.
É provável que a Apple esteja concentrando esforços na otimização do QuickTime 5 para o OS X. Mais provável ainda é a versão final ter um requisito menor de memória e um desempenho (muito) melhor que a do que acompanha o Beta.
Por outro lado, a estabilidade do sistema é tudo aquilo que o macmaníaco sempre sonhou. Programas "bombam" e o X continua ali de pé, firme. Pela primeira vez, é possível fazer qualquer tipo de operação no computador sem medo de que a música que está rolando no seu tocador de MP3 em background comece a engasgar. Você arrasta janelas e o seu conteúdo - movies, barras de progresso - continua rodando, sem tomar conhecimento. Isso é o resultado da tal multitarefa preemptiva e da memória protegida, funções sine qua non para um sistema operacional ser considerado moderno. A Apple vem tentando implementar isso no Mac OS há muito, muito tempo mesmo. Mas agora finalmente conseguiu.
Conclusão
Enquanto aquele programa que você usa a maior parte do tempo que fica em frente ao computador não for "carbonizado", o melhor é continuar no Mac OS 9. Mesmo você sendo encantado pelas sereias de Aqua, cedo ou tarde vai se cansar das idiossincrasias do beta e vai acabar voltando ao velho Mac OS de guerra. No pé em que está hoje, o beta só é útil para desenvolvedores de software, administradores de rede, consultores e esses desocupados que passam o tempo todo surfando na Web e gostam de botar banca dizendo que só usam "o Xis"'. E mesmo esses não perderiam por esperar pelo menos a chegada de um "ICQ for Mac OS X" ou, pelo menos, um clone.
É difícil crer que versões X de programas realmente importantes, como Photoshop, Quark ou Microsoft Office, sejam lançados antes da chegada da versão final do sistema. No máximo, eles poderão ser demonstrados na Macworld de San Francisco, em janeiro. Mas nada impede que empresas menores lancem programas fantásticos aproveitando as novas capacidades do sistema. Por isso, é bom ficar de olho nos lançamentos.
Com certeza, o Mac OS X vai causar polêmica, principalmente por abalar aquela que é considerada a principal vantagem do Mac OS: a intuitividade e a consistência de sua interface. Mas, se levarmos em conta o que ele dá em troca, veremos que a balança pende a favor.
A Apple não fez um beta público do sistema por puro marketing ou para ganhar um troco em cima dos mais afoitos. Ela realmente está interessada em saber o que os usuários pensam. A esta altura do campeonato, o número de mensagens de feedback já deve estar na casa dos milhões. Se tudo correr bem, no começo de 2001 estaremos com um sistema novo, que vai deixar nossos Macs mais estáveis e mais rápidos. É um futuro promissor.
Macs que podem rodar o Mac OS X Beta
· iMacs
· iBooks
· Power Macs G3
· Power Macs G4 (incluindo o Cubo)
· PowerBooks fabricados a partir de setembro de 1998
A máquina tem que ter um mínimo de 128 MB de RAM e o Mac OS 9.0.4 instalado. É possível instalar o Mac OS X "sobre" o Mac OS 9 que está rodando no seu disco. Mas isso não é recomendável. O jeito certo é reformatar o disco e dividi-lo em duas partições HFS+, a primeira para o 9 e a segunda para o X. Ou então, instalá-lo em outro HD.
Arraste o painel de controle System Disk para a partição que contém o Mac OS 9. Às vezes, é preciso instalar o System Disk (que fica na pasta Utilities do CD do Mac OS X) e selecionar o CD de instalação para conseguir dar o boot pelo CD do X.
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Heinar Maracy
Teme que a Apple pegue gosto pelos numerais romanos e chame os
próximos sistemas de XI e (pior) XII...
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