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Resenhas

InDesign 1.5

Adobe corre atrás do prejuízo e melhora seu produto expressivamente

Desde a invenção do PostScript e do fabuloso Photoshop, a Adobe sempre ocupou o nível mais alto da indústria da comunicação visual. Depois, com seus lançamentos na área de desktop video e Web design, foi mais além. Mas sempre teve duas pedras no sapato: o FreeHand e o QuarkXPress. Chegou-se a pensar que esses problemas acabariam com a aquisição, em 1994, da Aldus, dona do PageMaker e do FreeHand. Não deu muito certo. O FreeHand, que pertencia à subsidiária Altsys, acabou não entrando na fusão e foi parar nas mãos da Macromedia, podendo então continuar no páreo contra o Illustrator. Já o PageMaker, o rei do desktop publishing na década de 80, já estava em decadência, após o sucesso fulminante do QuarkXPress no mercado profissional. Os anos passaram e a Quark foi se acomodando em seu monopólio, praticamente sem evoluções. Do seu lado, a Adobe acabou seguindo dois caminhos distintos: o PageMaker, devidamente maquiado nos padrões da empresa, voltou-se para o mercado de home office, e o FrameMaker, outra aquisição na área, acabou indo para o lado corporativo. Quando todos achavam que a corrida estava perdida, surgiu um ás na manga da Adobe: o Adobe InDesign, lançado em 99 para ser o novo paradigma no mercado de impressos.

A versão 1.0 do programa causou muito hype, mas mesmo assim designers e bureaus ficaram com um pé atrás, principalmente devido a relatos de paus de impressão e exigências pantagruélicas de memória e processador.

Agora, a nova versão 1.5, revista e bem melhorada, traz de novo a pergunta que não quer calar: o InDesign pode mesmo substituir o acomodado QuarkXPress?


Uma revolução silenciosa

A grande sacada do InDesign não aparece muito. Sua arquitetura de programação é baseada em um programa-base e dezenas de plug-ins para as mais diversas funções. Esse conceito vinha sendo explorado de forma modesta no Illustrator 8.0, e agora promete ser a nova coqueluche nos softwares da Adobe. Com isso, a empresa pretende criar softwares mais fáceis de programar e de adaptar para as necessidades dos usuários, através da produção de novos plug-ins por outras empresas. Dessa forma, a Adobe consegue uniformizar mais ainda os seus produtos. Hoje, quem usa o Illustrator e o Photoshop consegue se familiarizar com os comandos e a interface do InDesign sem dor nem sofrimento.




Irmãos Coragem

Comandos, ferramentas, atalhos e paletes - com o mesmo estilo empilhável - são semelhantes entre o InDesign e a dupla Photoshop + Illustrator, especialmente com este último. À primeira vista, o InDesign parece uma mistura de PageMaker e Illustrator, com umas pequenas pitadas de QuarkXPress. Algumas ferramentas básicas são muito parecidas, com pequenas e marcantes diferenças. O controle de páginas é um bom exemplo. Como no Quark, ele tem uma palete específica para isso, onde se controla o uso de diversas páginas mestras e sub-mestras e ainda navega-se dentro do documento. A grande diferença aqui é que todas as páginas são "anabolizadas" com o uso dos layers, que permitem a criação de diversos layouts. Entre as outras semelhanças com o Illustrator, você reconhece o Navigator, para visualição e navegação nos documentos; o Swatch, que armazena estilos de contorno e preenchimento de objetos; Gradient Tool, que permite utilizar todos os tipos de degradês; e a palete Transform, para total controle exato de medidas e posições dos objetos.

Isso sem falar nas diversas ferramentas que exercem funções iguais nos dois programas, como por exemplo o Eyedropper (conta-gotas), que copia estilos tipográficos e de objetos; a ferramenta de escrita em curva; o sistema de drag-and-drop de cores; e a ferramenta de transformação livre; entre outras.

O sistema de desenho com curvas Bézier está bem mais avançado, ficando muito mais parecido com o do Illustrator. Isso é uma das grandes vantagens em relação ao QuarkXPress. Para se ter uma idéia, já é possível editar arquivos de Illustrator importados no InDesign. Sem contar, dentro da integração dos mesmos, com a inegável diferença no preview de imagens importadas, tanto do Illustrator como do Photoshop.

Essa integração do InDesign com os outros softwares da Adobe vai mais longe ainda. Utilizando as mesmas tecnologias de administração de cores, gráficos e fontes, ele suporta importação de arquivos nativos de Photoshop, Illustrator e PDF. Para se ter uma idéia, com os arquivos de Photoshop, você pode utilizar as informações de Canal Alfa ou de paths para gerar paths de recorte com a garantia de que não vão ocorrer erros na impressão. No caso do PDF, pode-se ainda gerar arquivos nativos sem precisar passar por outro programa. Isso é bastante útil para publicação de documentos digitais e para a impressão correta com a menor possibilidade de erros. Basicamente, a Adobe incorpora o melhor dos seus principais softwares e, de quebra, ainda se dá ao luxo de apresentar novas características na interface. No InDesign, você pode configurar a Toolbox como uma fileira horizontal ou vertical, ou utilizar o "padrão Adobe".

Pode-se também mudar totalmente a configuração de atalhos de teclado - apresentados inicialmente no padrão dos seus co-irmãos -, ou utilizar um set formatado como os shortcuts do QuarkXPress 4.0. É mais uma facilidade para quem quer mudar de vida. Essa mudança ainda se torna mais agradável quando se percebe que o InDesign importa arquivos do QuarkXPress e do PageMaker sem grandes problemas. Se os arquivos estiverem com as fontes correspondentes e os links de imagem corretos, vai dar tudo certo.

Pequenos detalhes podem mudar, por isso é sempre bom conferir no manual quais são as mudanças que realmente acontecem. Vai facilitar muito a vida de quem quiser mudar. Outro fator bem favorável à mudança é que o InDesign já vem com dicionários necessários para hifenização e correção ortográfica. Quem usa o Quark desde o começo sabe como era complicado ter que comprar um pacote de dicionários separado para cada cópia de software.


Em busca da perfeição



Claro que nada é perfeito. Algumas coisas no InDesign ainda não agradam a todos os usuários acostumados com o Quark e o PageMaker. Para muitos, o programa ainda não pode ser considerado matador. A inexistência de um sistema mais avançado para produção de documentos longos é bem frustrante para uma parcela de potenciais usuários: os diagramadores de livros. Não há uma indexação decente, gerenciador de Table-of-Contents (TOC) e nem um esquema de sincronização de páginação e estilos entre diferentes arquivos - características presentes no Quark - e nem um editor de textos potente como o do PageMaker. Aqueles que trabalham com propaganda já vão ficar satisfeitos, já que produzem arquivos menores, como anúncios e folhetos. Quem sabe a Adobe não resolve estes problemas nas próximas versões? Não custa esperar. As mudanças do InDesign 1.5 foram muito significativas em comparação com a versão 1.0. Isso quer dizer que a empresa está batalhando para melhorar seu produto, enquanto a concorrente praticamente não se mexe ou não quer se mexer para encarar os usuários.

Jean Boëchat
É diretor de arte e limpa as janelas de sua Clarabóia.