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Macmania
Resenhas

Macmania 117 - março de 2004

Demorou, mas apareceu o que estava faltando no pacote iLife da Apple. O tal "Hub Digital" de Steve Jobs incluía programas para fazer filmes, editar fotos, criar DVD e escutar música. Porém, faltava um software para criar música. Não mais: chegou o GarageBand.

Quando a Apple comprou a Emagic, criadora do famoso programa de produção musical Logic Audio, ficou claro que a empresa pretendia preencher uma lacuna existente em sua linha de produtos. O Soundtrack até veio antes, mas como parte do Final Cut Pro e só trabalhando com loops de áudio. Ainda estava faltando o tal "iMix", o aplicativo que tornaria a tarefa de fazer música tão fácil como editar vídeo com o iMovie ou criar um DVD no iDVD.

Agora, finalmente, a Apple lançou o tão esperado programa de produção musical, mas batizado com um nome certamente mais apropriado do que "iMix" ou algo do gênero. "GarageBand" define perfeitamente o espírito do produto. Afinal, ele é direcionado para músicos e bandas que criam suas obras na garagem (banheiro, quarto, cozinha etc.) de suas casas. A distância entre o GarageBand e um programa como o Logic, por exemplo, é a mesma existente entre o iMovie e o Final Cut Pro. Ou seja, profissionais de áudio verão o GarageBand como bastante limitado, ainda que divertido, enquanto os diletantes provavelmente vão achar o máximo, ou algo próximo disso.


É baba, baby

Seguindo o espírito e a interface de todos os programas do iLife, o GarageBand é muito intuitivo, de modo que qualquer babuíno paraplégico lobotomizado pode criar sequências MIDI, gravar instrumentos e vozes, adicionar loops e ainda adicionar efeitos sem qualquer dificuldade.

Quando você cria um novo canal (track), o GarageBand mostra uma caixa de diálogo onde deve-se optar por um instrumento de software (loop) ou um real (áudio gravado). A Apple incluiu uma boa variedade de instrumentos virtuais - cordas, guitarras, metais, baixos, pianos, teclados e órgãos -, que, de modo geral, impressionam muito bem. Você também pode utilizar qualquer instrumento de outros fabricantes que estejam instalados no seu Mac, desde que eles sejam compatíveis com AudioUnits - o formato de plug-in nativo do OS X. Com isso, é possível utilizar todos os produtos da Native Instuments e PlugSound, por exemplo, o que torna o GarageBand e ainda mais interessante e versátil.

O GarageBand permite editar sequências MIDI incluindo ou movimentando livremente as notas, aplicando quantização (alinhamento com a grande de tempo), alterando sua intensidade ou até mesmo mexendo em parâmetros como Pitch Bend, modulação ou sustentação. Qualquer teclado ou interface reconhecida pelo utilitário Audio MIDI Setup pode ser utilizada por ele.

A edição de áudio, por sua vez, é bem básica, possibilitando picotar o arquivo para criar várias regiões que podem ser movimentadas ou copiadas para outros pontos da música. E você pode optar por ouvir ou não o metrônomo durante a gravação ou playback.

Se você optar por criar um novo canal para instrumentos reais, encontrará uma lista de opções com presets de equalização e efeitos, canais de entrada, mono ou estéreo e ainda a opção de monitorar o sinal que entra, permitindo ouvir o seu som, com ou sem os efeitos eventualmente selecionados.

Testado com em um G4 Dual 450 MHz com interface de áudio Digi 001, da Digidesign, o GarageBand não apresentou problema perceptível de latência (tempo que leva para o sinal que entra no computador ser processado e sair nos alto-falantes), o que foi reconfortante. No entanto, é possível que a latência possa ser notada em Mac mais lentos, como os G3.

Todos os canais permitem adicionar loops de áudio e MIDI, isso porque o GarageBand já inclui também sequências MIDI prontas. O browser de loops é organizado de forma bem interessante. Você seleciona o tipo de instrumento - digamos, Drums (bateria) - e então filtra os resultados por estilo (Rock/Blues, World, Electronic etc.) e por características sonoras ("alegre", "acústico", "elétrico", "relaxado" etc.). Para instrumentos harmônicos, você pode, por exemplo, pedir para mostrar apenas os loops que usam escalas maiores ou menores.


Efeitos e defeitos

O GarageBand ainda inclui equalizador, compressor, eco (delay), reverb e vários outros efeitos, incluindo um simulador de amplificador analógico muito bom, permitindo que você plugue sua guitarra ou baixo diretamente no Mac e dê aquela saturada no som.

Embora funcionais, muitos desses componentes são bastante limitados. O compressor é o mais fraco de todos, pois não oferece nenhum parâmetro editável. E como não há compensação de ganho para a compressão, o som sai mais baixo e fica difícil comparar o resultado com o original.

O equalizador gráfico (quatro bandas: baixos, médios, médios altos e agudos) também não oferece controle de ganho e acaba reincidindo no mesmo problema de comparação entre "antes" e "depois".

Já o reverb (mesmo não oferecendo variações de tipos de salas) e o delay são interessantes. Seus parâmetros podem ser modificados globalmente no canal Master, ao qual também é possível aplicar equalização, compressão e mais um efeito.

A boa notícia é que você pode utilizar qualquer plug-in Audio Unit, o que expande as possibilidades de mixagem exponencialmente. No entanto, em muitos casos só é possível alterar os parâmetros enquanto a tecla [Control] é pressionada, o que não só é meio estúpido como é difícil de adivinhar. Em alguns plug-ins da Waves e da TC Works, não foi possível editar nada. Está claro que a integração com plug-ins de terceiros deverá ser melhorada para as próximas versões.

Não há nenhuma opção para determinar com que qualidade o áudio será gravado (24 ou 16 bits, 44, 48 ou 96 kHz), o que tem de ser feito no Áudio MIDI Setup do OS X. Na hora de finalizar sua música e mandar exportá-la para o iTunes, não há caixa de diálogo nenhuma. O GarageBand exporta para a pasta Music no formato AIFF e, pelo menos no meu caso, com qualidade de 16 bits e 44,1 kHz. Poderia pelo menos haver uma opção avançada para quem não é tão pokaprátika em termos de áudio.

Enfim, é claro que, do ponto de vista profissional, o GarageBand possui muitas limitações e nem se compara a um Logic da vida. Mas isso não importa, pois, mesmo com alguns defeitos, ele cumpre muito bem o que se propõe a fazer. Uma ótima estréia da Apple, que agora oficialmente entra para o mundo do áudio digital.

DICAS
  • Se você não tem um teclado MIDI para controlar os instrumentos de software e acha muito complicado usar o teclado virtual do GarageBand, pode instalar o shareware MidiKeys (https://www.manyetas.com/creed/midikeys_beta.html) que transforma o próprio teclado do Mac em um dispositivo MIDI.

  • Um defeito evidente do GarageBand é falta de uma opção para importar arquivos MIDI. Felizmente, já existe o freeware Dent du Midi (https://homepage.mac.com/beryrinaldo/ddm), que converte Standard MIDI Files separados por instrumentos e encapsulados em AIFF para serem usados no programa.


  • Apple GarageBand
    nota 8
    Apple: www.apple.com.br
    11-5503-0030/0800-1-Apple
    Preço: R$ 169 (incluso no pacote iLife)
    Requisitos: G4 600 MHz; 256 MB de RAM; drive DVD; monitor com resolução mínima de 1024x768; 4,3 GB de HD.

    Márcio Nigro
    Previu o GarageBand (não com esse nome, claro) em seu Ombudsmac vidente na Macmania 98.

    Pró nunca foi tão fácil fazer música no Mac

    Contra exige um G4 e muito espaço em disco; janela do Piano Roll pouco escalável