No meu DVD ou no seu?
Crie os seus filmes sem sair de casa
Por Mateus de Paula Santos
e Márcio Nigro
"Devedê" é a palavra de ordem do momento. Não ter um tocador de DVD em casa ou no computador é quase tão "out" quanto não possuir email (se você não tem nem um nem outro, talvez até esteja lendo esta revista por engano). Não é para menos.
O DVD representa para a velha fita VHS o mesmo que o surgimento do CD significou para os quase esquecidos LPs: uma revolução. Mas toda essa euforia em torno do DVD é apenas o começo da revolução em andamento. Depois de fincar o pé nas lojas de eletrodomésticos e locadoras de vídeo, o DVD está começando a dominar os computadores; e não apenas com leitores, mas também com gravadores de DVD. Assim como hoje você pode criar um CD-ROM ou um disco de áudio sem sair de casa, também é possível fazer o mesmo com o DVD. Basta ter um G4 com o SuperDrive e um programa de autoria (alguns falam em "autoração", mas a gente acha esse termo feio demais para ser publicado). Ou melhor: isso pode bastar - ou não.
A grande verdade é que o assunto ainda é um terreno inexplorado - e até intimidador - para a maioria dos mortais. Por isso, antes de sair dizendo que você pode criar DVDs no Mac, é preciso compreender melhor do que estamos falando.
Power Mac G4 com SuperDrive não é uma solução para autoria de Home Video em DVD. Para isso, existem soluções muito mais profissionais (e muito mais caras). Mas ele atende muito bem as necessidades de produtoras de vídeo e motion graphics no que se refere a portfólios e apresentações. O acesso à tecnologia digital causou um grande problema para os profissionais da área de vídeo: a exigência dos clientes aumentou, mas nem todo mundo tem uma Beta Digital para assistir a demos e apresentações com qualidade total. O DVD seria uma alternativa bacana, mas o custo para implementar uma solução dessas era inviável sem vender o carro, a mãe e uns três rins; e mandar prensar DVDs era uma saída impossível para a maioria. A única saída para pequenas e médias empresas era continuar com previews e portfólios em VHS ou QuickTime de 320x240 pixels. Isso até a chegada do G4 com o SuperDrive.
No nosso caso, precisávamos de algumas cópias em DVD de uma apresentação para clientes; então, a convite da Macmania, aproveitamos para testar o DVD Studio Pro. A instalação segue o padrão Apple de facilidade de uso; ou seja, quem sabe encontrar um ícone no Desktop não terá maiores dificuldades para instalar o programa. O processo também instala um encoder que torna o QuickTime do seu computador capaz de gerar ou transformar vídeos para o formato MPEG-2. Com ele, qualquer programa que use os codecs do QuickTime (como o Final Cut, o QuickTime Player Pro e o próprio DVD Studio Pro) ganham a capacidade de "entender" perfeitamente o MPEG-2. Esse é o verdadeiro pulo-do-gato que permite ao seu Mac gravar DVDs.
Primeiro passo
Colocar todo o seu material de vídeo no HD
O vídeo que você vai gravar no seu DVD deve ser passado para seu disco rígido. A maneira mais simples é pela porta FireWire do Mac, principalmente se o material original estiver no formato DV. Se o seu material estiver em algum formato profissional, como Betacam SP ou Beta Digital, o ideal é fazê-lo através de uma placa de digitalização sem compressão, pois ao usar o FireWire você estará comprimindo o vídeo duas vezes: quando importa para o Mac e quando codifica para MPEG-2. Se o seu vídeo original está num formato superior ao DV, o ideal é usar uma placa de captura de vídeo sem compressão - como a Digital Voodoo (www.digitalvoodoo.net), a Igniter Studio (www.auroravideosys.com) ou a CinéWave (www.pinnaclesys.com) - e depois fazer o encoding para MPEG-2. Uma vez digitalizado, o material pode ser montado em algum programa de edição (como o Final Cut ou o Adobe Premiere) até ficar no formato desejado. No nosso caso, apenas juntamos cada um dos vídeos do portfólio em um único arquivo.
Segundo passo
Exportar para MPEG-2
Quando tudo estiver pronto, é só converter o filme para MPEG-2, usando o encoder. Aqui é que a brincadeira realmente começa. E no nosso caso, houve um pequeno problema ao exportar o filme direto do Final Cut: o filme perdia o sincronismo de áudio e vídeo. Solucionamos o problema desta forma: exportamos o filme em QuickTime sem compressão, abrimos no QuickTime Player Pro e exportamos daí para MPEG-2.
Nas opções do encoder não há nenhum fantasma para quem já está acostumado com vídeo digital. Padrão (NTSC/PAL), formato de tela, ordem dos fields, qualidade e uma opção para salvar o áudio separado, o que deve ser feito, por razões descritas no quarto passo.
Um detalhe importante: a Apple otimizou o código da transcodificação de MPEG-2 para os Macs G4. Apesar de Steve Jobs ter afirmado na Macworld de San Francisco que em um G4 de 733 MHz o tempo de conversão seria de dois para um, não conseguimos reproduzir essa taxa - mas chegamos perto. No nosso projeto, demoramos uma hora para converter vinte minutos de portfólio. Três para um, tudo por software, sem hardware adicional; um tempo bastante razoável para quem está acostumado a trabalhar com compressão de vídeo.
Terceiro passo
Converter o áudio
Durante o processo de montagem do CD, o MPEG-2 trabalha com vídeo e áudio separados até a fase final. O DVD Studio Pro traz de brinde o A.Pack, um programa específico para conversão de AIFF para Dolby Digital AC3. Nele, você pode até fazer projetos com Dolby 5.1, com cinco canais separados mais o canal para subwoofer. Mas para isso o som deve ser captado especificamente com esse intuito.
Aqui também deve ser trabalhada a trilha incidental do seu DVD, se você não quiser um silêncio retumbante nos menus.
Agora é que entram aqueles áudios separados do vídeo no passo 2. É só arrastar para o programa; umas poucas opções e seu áudio está pronto.
Quarto passo
Botar tudo em ordem e funcionando: o authoring propriamente dito
Com o áudio e o vídeo prontos, vamos para a programação do DVD em si. Montar o DVD é simples. As janelas básicas são três: Graphical View, Property Inspector e Project View. Além delas, ainda temos uma janela de preview e mais alguns editores e afins. Você constrói seus menus e botões no Photoshop e importa para o DVD Studio Pro seus arquivos PSD, com layers e tudo. Com isso e os seus filmes em MPEG-2 e arquivos de áudio devidamente empoleirados no Project View é que você vai trabalhar.
Com uma boa interface, à la Final Cut, o programa permite uma fácil visualização de como está ficando o seu projeto. Você define uma tela, organiza os botões dela e em que telas ou movies eles estão ligados, diz o que entra depois de cada movie... Cada arquivo é representado por uma pequena janela; você as posiciona na tela da forma que for mais prática e começa a definir as ligações entre elas. Fácil. Para quem já mexeu em Director, então, é bem básico.
Para as pessoas que querem levar o programa um pouco além, existem opções desde as mais simples (como um slide show) até alguns scripts que podem ser editados (com uma pequena ajuda do manual de instruções) para se conseguir interações mais rebuscadas em seu DVD envolvendo os menus, os movies, as trilhas e cenários. Uma das funções disponíveis, por exemplo, possibilita a programação randômica (aleatória) da trilha musical nos menus.
Além do DVD Studio Pro e do A.PACK, completa o pacote um editor de legendas para você legendar, traduzir, inserir comentários e observações opcionais para quem assiste ao seu vídeo.
Para dar um exemplo das soluções simples que dão resultado no DVD Studio Pro: no caso do nosso portfólio, como não queríamos que as transições de um menu para o outro fossem em corte-seco, optamos pela produção de animações em After Effects. Uma delas, a abertura do DVD, termina igual ao PSD do menu principal. Trabalhando sempre dessa forma - pegando o PSD de uma tela e criando no After Effects a animação que a transformaria na tela seguinte - criamos as vinhetas de transição entre um menu e outro.
Você também pode montar um menu completamente em movimento usando como base um vídeo em MPEG ao invés de um arquivo de Photoshop. Aqui há algumas limitações em relação ao uso de layers: além de alguns blocos coloridos com transparência na forma dos botões, a única maneira de diferenciar botões selecionados ou ativados é com um overlay montado num arquivo de Photoshop em grayscale. Mas os filminhos mexendo no cenário compensam esse problema.
Para ter um preview do que você está fazendo, é só pedir via menu. O programa dá um preview em tela cheia e tempo real. Na base da tela, botões fazem o papel de controle remoto. É só clicar nesses botões e sair navegando. E o procedimento de teste é igual ao de quem acabou de fazer um site para a Internet: clicar em todos os botões e ver se eles puxam tudo o que devem. Quando estiver tudo OK... Rume para o último passo.
Quinto passo
Queime, baby, queime!
É hora de queimar o DVD. Dê o comando de menu Build and Format; escolha se você vai gravar direto ou executar uma simulação de gravação antes (sempre recomendado, pois, embora gaste mais tempo, poupa mídias); selecione o seu gravador de DVD e dê um OK.
A simulação pode ser testada no Apple DVD Player, que tem um comando especial para ler esses previews, mais ou menos como se tratasse de um Disc Image do seu DVD.
O que fazer depois disso tudo?
Cópias: quantas você precisar.
Voce comprou seu G4 733 MHz, mas não sabe onde encontrar mídia virgem de DVD-R. Realmente, ainda são poucos os lugares que a vendem no Brasil. A primeira opção é a própria Apple Brasil. É possível encomendar em qualquer revenda Apple (ver anúncios nesta edicão) o pacote oficial com cinco DVD-Rs certificados pela Apple, por R$ 290. Outra empresa que está trazendo DVD-R para cá é a Optical Memory. Ela está trazendo mídias da Pioneer, por US$ 25 cada DVD.
Optical Memory: 11-255-2616
Mateus de Paula Santos
É designer e diretor de criação da Lobo.
Colaboraram: Adriano Vannucchi e Alexandre Boëchat
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