Macmania 109 - julho de 2003
Pouca gente sabe, mas quando cai a noite sobre Sampa City, Heinar Maracy e Tony de Marco, pacatos editores desta humilde revista, transformam-se em intrépidos e premiados diretores de videoclipes e desenhos animados pela lendária produtora Keyma Films. Eis aqui o relato de sua mais recente aventura.
No último capítulo, nossos heróis se encontravam prestes a serem esmagados pelo pior de seus arqui-inimigos: o inevitável Deadline! Em uma semana, eles precisavam terminar o videoclipe da música "Se Virar, Virou", da banda de rap De Conceito, para poder concorrer ao Video Music Brasil da MTV. Dadas as condições de produção, as perspectivas não eram muito promissoras (por uma estranha coincidência, a Keyma Films utiliza os mesmos Macs da Editora Bookmakers; por isso, ela só funciona quando cai a noite sobre Sampa City). Mas eis que, de repente, surge uma luz: a assessoria de imprensa da Apple Brasil liga avisando que um PowerBook de 17", um Power Mac Dual de 1,42 GHz e um Cinema Display de 23" chegariam para teste no dia seguinte. Deus ex Mac! Quer melhor jeito de testar um equipamento do que colocá-lo pra valer em um trabalho alucinado, com prazo impossível?
sexta
Chegam as máquinas. Instalamos os softwares que serão utilizados para a produção do clipe: iMovie e After Effects. Os amigos que mexem com vídeo nos olham com uma das sobrancelhas levantadas, em um misto de espanto e comiseração. Eles não sabem nada... A Keyma Films tem uma tradicão de fazer clipes com ferramentas inusitadas. "Chapa o Coco", do rapper Xis, foi feito totalmente em Flash e ganhou o último VMB. Acreditamos no poder democratizante do Macintosh, capaz de permitir a qualquer um realizar seus sonhos criativos. Nós comemos nossa própria comida de cachorro.
Passamos dezenas de fitinhas Mini-DV para o Power Mac 1,42 GHz, carinhosamente apelidado "Fodão". A beleza do iMovie é que até mesmo um nó cego como o Tony consegue executar o tedioso trabalho de digitalizar os melhores trechos de cada fita pra fazer um copião. Exportados os trechos em DV, gravamos um DVD de dados só pra transportar os filminhos pro PB 17" (a mídia tá barata mesmo).
fim de semana
Sábado e domingo são passados na extenuante tarefa de sincronizar vários shows ao vivo com a música do clipe. A sorte é que os manos da banda (Henrique e Berada) cantam sempre exatamente do mesmo jeito, o que é um prodígio em se tratando de um rap com letra quilométrica. Sorte maior é poder trabalhar sem sair da cama, num laptop com tela gigante. No domingo à noite já tínhamos prontinha uma versão pré-alfa do primeiro terço do clipe.
segunda
Mais uns trechos de imagens de viagens, cenas com músicos e DJs que ficaram faltando são acrescentados. A vantagem de fazer tudo no After é que, deixando os filmes originais copiados no PB e no G4, basta passar o arquivo do projeto (que tem uns 500 KB) de uma máquina pra outra pra continuar trabalhando. A idéia do clipe é simples: um círculo virando o tempo todo na tela, fazendo a transição entre cenas de shows diferentes, como os dois lados de uma moeda ("se virar, virou"... pegou? pegou?)
terça
Mesmo sabendo que um Power Mac Dual de 1,4 GHz e um monitor de 23" são muito mais máquina que o PowerBook 17", voltamos a editar em casa, para acelerar o passo. Editar um clipe numa redação ao mesmo tempo em que uma revista é fechada não é tão produtivo quanto fazê-lo na tranquilidade do seu quarto, onde no máximo aparece um gato querendo descansar em cima daquele PowerBookzão quentinho. No final da noite já tínhamos a versão beta pré-final do clipe prontinha, só faltando o fundo. Mas tava ficando da hora.
quarta
Começam a aparecer os sinais de privação de sono no editor. Ele vai para a editora trabalhar e deixa o PB 17" em casa, esquecendo que tinha convocado uma reunião do Conselho Editorial da Macmania para avaliar a máquina. Buscamos o laptop, para deleite dos dois Conselheiros que apareceram. A grande brincadeira era apagar e acender a luz da sala para ver o teclado acender e a tela escurecer.
quinta
Último dia. A sombra maligna de Deadline desce lentamente sobre nós. Lá pelas 9 da noite, colocamos pra render a versão 0.89b quase final, agora com um fundo mutcholôco feito com a repetição das imagens da bolinha acrescidas de alguns filtrinhos básicos aplicados aleatoriamente. Duas horas depois, temos nossos 4 minutos de clipe gerados, provando que as reclamações de que a Adobe não tem se mexido muito para fazer o After tirar proveito dos Macs com dois processadores tem um bom fundo de verdade. Mas era tarde demais pra aprender a mexer no Final Cut... Passamos o resto da madrugada assistindo ao clipe em trechos de dez segundos e consertando os bugs.
sexta
Por volta das 5 da manhã, chegamos à conclusão de que todos os gatos mais escandalosos estavam resolvidos. Bota pra render again e vamos tomar um belo café da manhã. Na volta, assistimos ao clipe final final e o melhor do Carnaval. É... sobraram uns bugs. Mas o negócio é tão confuso que ninguém vai reparar. Qualquer coisa, dizemos que é "linguagem"... Jogamos o clipe rendido no iMovie com 10 segundos de color bar e claquete e exportamos pra mini-DV. Tony pega a fita e leva para o amigo Alê Boëchat fazer uma cópia em Beta. Enquanto isso, aproveito pra fazer um DVDzinho rápido no iDVD pra ver o clipe em casa. Já que tenho que esperar o DVD ser queimado no PB 17", aproveito para matar o tempo exportando no QuickTime Player uma versão em MPEG-4 para a Web, pra mostrar o clipe pros amigos (www.nada.com.br/deconceito). Mas o sono é tanto que não sai nada direito. O PowerBook cospe o DVD antes de eu encontrar uma compressão decente. Pego o DVD, vou para casa e durmo o fim de semana inteiro. The End.
Heinar Maracy
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