★★★ COMÉDIA DRAMÁTICA
AS ÚLTIMAS IMAGENS de Michael Douglas mostram o astro visivelmente abatido pelo tratamento do câncer de garganta a que tem se submetido. Enquanto ele luta pela vida, os fãs podem vê-lo nos cinemas na pele de dois personagens com muito em comum. Uma das questões centrais de Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme é a capacidade de uma pessoa aprender com os próprios erros. O picareta das finanças Gordon Gekko endireitou com a prisão ou apenas se prepara para dar novo bote? A mesma dúvida paira sobre Ben Kalmen, o vendedor de carros cheio de manha que Douglas vive em O Solteirão, e que também passou temporada atrás das grades por dar golpe em clientes. E não se engane com o título bem-humorado, porque por trás da fachada de imponência e ironia há um protagonista em profunda crise existencial.
Kalmen se recusa a tratar um problema cardíaco e passa a se comportar como a bomba-relógio que leva no peito. Trai a esposa (Susan Sarandon), decepciona a filha e o neto, e age como um Don Juan desavergonhado capaz de passar a namorada para trás com a filha dela. O próprio Douglas aprontou antes de acalmar ao lado de Catherine Zeta-Jones – lembram a internação por vício em sexo? É como se a vida cobrasse seu preço na tela e fora dela, pois se Kalmen amarga uma melancólica decadência no filme, os médicos debitam o tipo de tumor que acomete o astro ao excesso de cigarro e bebida. Sabe-se lá o quanto o ator viu de si mesmo nesses homens complexos, que marcam suas últimas aparições no cinema antes da doença. Acima de tudo, porém, o que Douglas imprime aqui é o talento incontestável e um magnetismo que faz o público admirar até mesmo os tipos desprezíveis que por vezes interpreta.
12 anos