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A personagem da musa espanhola é a síntese da magia do cinema
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ABRAÇOS PARTIDOS pode não ter a originalidade de Fale com Ela, nem a pulsante sensualidade de Carne Trêmula, mas um filme do espanhol Pedro Almodóvar nunca é menos que intrigante. O cineasta acaba de completar 60 anos, 30 deles dedicados ao cinema, e homenageia a sétima arte com uma história multifacetada, no estilo "filme dentro do filme". Na trama, o anúncio da morte de um famoso industrial e a visita de um jovem documentarista abalam a rotina de um roteirista cego chamado Harry Caine (Lluís Homar).
Há um mistério ligado a essa gente que envolve a estrela de cinema Lena (Penélope Cruz). A partir daí, a narrativa corre livre pelo tempo e revela que ninguém ali é o que parece. Almodóvar tem fascinação pelo dúbio e faz um instigante jogo de espelhos. Como a musa capaz de tirar os homens do sério, a personagem de Penélope é a síntese da magia do cinema. Ela se traveste de ícones como Marilyn Monroe e Audrey Hepburn.
A obsessão e a perversidade, tão presentes em Matador, também se fazem notar aqui e rendem a memorável cena da escada. Sempre ligado ao universo feminino, desta vez o cineasta inova ao privilegiar o protagonista. E ao final, quando Caine exibe a "versão do diretor" do filme estrelado por Lena, Almodóvar sutilmente brinda a própria genialidade. Nada mais justo.
(14 anos) Suzana Uchôa Itiberê