AO GANHAR FORMA DEFINITIVA nos anos 20, a canção norte-americana deu ao mundo pérolas de fino acabamento musical e poético.
O que passou despercebido é que a maioria dos grandes compositores projetados nos EUA - Richard Rodgers, Lorenz Hart, Irving Berlin, Jerome Kern e os irmãos George & Ira Gershwin, para citar somente alguns - tinha origem judaica.
É essa expressiva contribuição dos judeus à música norte-americana, feita sob influência da produção negra que vinha se desenvolvendo desde o século 19, que o disco Nego enfatiza. Produzido por Carlos Rennó, Jaques Morelenbaum e Moogie Canazio, o álbum traz 14 versões de canções norte-americanas em gravações inéditas feitas por nomes como Gal Costa, Maria Rita, Seu Jorge, Erasmo Carlos e João Bosco, entre outros. Sem exibir fidelidade absoluta aos versos originais, as letras em português de Rennó conservam a essência do significado deles e, sobretudo, preservam o teor poético.
Qualidade atestada pela simples confrontação da letra de "Bewitched, Bothered and Bewildered" (de Richard Rodgers, Lorenz Hart) com os versos de "Encantada", entoados com desenvoltura por Maria Rita.
A diferença está no sotaque brasileiro. Há toques de bossa nova em "Verão" ("Summertime"), faixa defendida por Erasmo. Da mesma forma, a música-título, "Nego" ("Lover"), ganha a batida do samba e a voz de Paula Morelenbaum. Como o samba também tem origem negra, fica tudo em casa.
Mauro Ferreira