★★★
O RECÉM-LANÇADO disco em que Caetano Veloso passa o samba pelo filtro do rock, Zii e Zie, é extensão de Cê, o álbum de 2006 em que o cantor se cercou de três músicos jovens – o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes – para abordar o rock indie num de seus trabalhos mais incensados e experimentais. Reunido sob o nome de BandaCê, o trio conduz o velho baiano pela mesma trilha em Zii e Zie (“Tios e tias”, em italiano), mas o foco repousa nos sambas. Ou melhor, “transamba”, termo criado pelo artista e impresso na capa do CD para aludir à Transa, álbum de 1972 também de atmosfera roqueira. “Perdeu”, faixa em que o compositor perfila um garoto nascido na favela, abre o disco e dá seu tom.
Como Cê, Zii e Zie é CD que se impõe mais pela sonoridade do que pela qualidade da safra de inéditas. Entre samba de sotaque baiano (“A Cor Amarela”) e canção sustentada em vigoroso falsete (“Por Quem”), Caetano reafirma sua inquietude e alimenta sua chama criativa. Se letras como as de “Lapa” e “Falso Leblon” são retratos do Rio de Janeiro esboçados ora com ternura ora com lucidez, o som de Zii e Zie se refugia no indie rock produzido no Exterior, mas filtrado pelo viés brasileiro do samba. O que dá ao disco um traço de originalidade e o conecta à parcela mais antenada da obra do artista. (M.F.)
