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Homem no Escuro O norte-americano Paul Auster aborda o horror da guerra em seu livro mais engajado
  
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Paul Auster: desprezo por George W. Bush |
NÃO É A PRIMEIRA VEZ que Paul Auster usa o artifício do "romance dentro do romance" - basta citar Viagens no Scriptorium. Realidades paralelas e personagens em crise existencial também são comuns na obra do festejado autor de A Trilogia de Nova York. O que nunca se viu, porém, foi o escritor americano levantar a bandeira democrata, e manifestar o desprezo a George W. Bush com tamanha agudez quanto em Homem no Escuro (Companhia das Letras, 168 págs., R$ 38). Os vícios narrativos podem causar decepção, mas a trama é arrebatadora. O narrador, August, é um crítico literário aposentado que convalesce de um acidente na casa da filha. O cenário é lamurioso: de August, pela recente viuvez, da filha, pelo abandono do marido, e da neta, pela morte trágica do namorado. Para distrair a dor, e enfrentar a insônia, ele elabora uma fábula bélica, sobre um sujeito que acorda em uma América alternativa, onde as Torres Gêmeas continuam erguidas e não há conflito no Iraque. A batalha que matou mais de 80 mil pessoas é em solo americano, devastado pela guerra civil entre os federados e os Estados dissidentes, que decretaram independência após a derrota de Al Gore para Bush na eleição presidencial de 2000. Auster emenda as duas realidades com engenhosidade e traça um retrato sombrio, e pouco lisonjeiro, de seu país.
Suzana Uchôa Itiberê
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