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O escritor pernambucano escreve prosa como se fizesse poesia |
VENCEDOR DO PRÊMIO JABUTI em 2006, o pernambucano Marcelino Freire lança novo livro de contos, Rasif: Mar que Arrebenta (Record, 136 págs., R$ 26) que remete, no título, às origens do autor. Como é logo explicado, Pernambuco vem do tupi-guarani e significa "onde o mar arrebenta". Já a rasif, que soa tão similar a Recife, é uma palavra árabe cuja tradução é "terreno pavimentado com lajes, estrada pavimentada com rochedos".
E se o Nordeste brasileiro serve de cenário e inspiração para alguns textos - principalmente aqueles em que o personagem é criança -, o mundo árabe, um homembomba, a violência urbana e a destruição da natureza também estão presentes nas histórias de Marcelino.
O autor tem um estilo marcante e agradável de brincar com as palavras, de escrever prosa como se fizesse poesia. E desse exercício, do qual virou mestre, saem pérolas, com teor de crítica social e até humor, como no conto "Da Paz": "A paz é muito organizada. Muito certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até jogador..." ou em "Para Iemanjá": "Oferenda não são os crioulos da Guiné. Os negros de Cuba. Na luta. Cruzando a nado. Caçados e fisgados. Náufragos. Minha Rainha."
Como diz o escritor Santiago Nazarian na apresentação da obra: "Marcelino é um ator que permanece. E precisa ser lido agora". Marina Monzillo