OS RECENTES trabalhos de Luis Melo no teatro têm resultado de pesquisas desenvolvidas no Ateliê de Criação Teatral (ACT), iniciativa que o ator vem conseguindo manter nos últimos anos. O que Eu Gostaria de Dizer, encenação assinada por Marcio Abreu, é um projeto criado a partir da mescla entre textos dos envolvidos (diretor e atores) e trechos de O Homem ou É Tonto ou É Mulher, livro de Gonçalo M. Tavares.
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Luis Melo (ao centro) encena projeto do seu Ateliê de Criação Teatral |
Certamente, O que Eu Gostaria de Dizer pode crescer ao longo do tempo. No estágio atual, o saldo é bastante desigual. Os atores ainda estão à procura do tom certo para os seus personagens – um homem experiente que parece revelar uma postura mais conceitual em relação aos dramas do cotidiano e um jovem casal em eterno estado de desentendimento. Luis Melo revela presença segura, mas gesticula em excesso com o possível intuito de conferir uma concretude às palavras que diz. Bianca Ramoneda e Márcio Vito apóiam as intermináveis discussões do casal num naturalismo pouco refinado. Ele fica mais prejudicado pelo fato de tentar sustentar sua atuação numa chave única – no caso, procurando extrair humor de um quase descontrole físico. Mas não seria justo deixar de chamar atenção para os ótimos e breves solos de Ramoneda, nos quais sinaliza uma permanente sensação de inadequação e uma necessidade de entrar em contato com instâncias pessoais desconhecidas.
Daniel Schenker Wajnberg
Espaço Sesc (Teatro de Arena) – r. Domingos Ferreira, 160, Rio, tel. (21) 2547-0156. Até 3/8