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Diogo Vilela e Luciano Quirino, que interpreta o papel-título do clássico shakespeariano |
A BUSCA por um certo formato espetacular prejudica o resultado desta nova versão de Otelo, de William Shakespeare, assinada em parceria por Diogo Vilela e Marcus Alvisi. Algumas opções, como a tentativa de estabelecer uma conexão com a gramática cinematográfica e com a dimensão épica por meio da projeção de imagens, sobrecarregam o espetáculo. A trilha sonora (a cargo dos próprios diretores) também é utilizada de forma excessiva em cena.
Otelo ainda perde pontos com o fraco rendimento de boa
parte do elenco. Diogo Vilela projeta a maledicência de Iago, mas apresenta um trabalho de construção à mostra, como se explicitasse com freqüência a musicalidade da fala e valorizasse de modo um pouco didático as intenções do personagem. Luciano Quirino não alcança a força trágica de Otelo. Sua interpretação fica marcada por uma intensidade emocional postiça. Completando o trio de protagonistas, Marcella Rica se revela imatura na criação de Desdêmona.
Os problemas esboçados no primeiro ato aumentam a partir
do início do segundo, quando toda a montagem passa a sofrer de maneira mais evidente com os exageros da direção.
No entanto, mesmo que tenha faltado um senso de medida ao espetáculo de Vilela e Alvisi, há soluções apreciáveis na iluminação de Jorginho de Carvalho e na cenografia de Ronald Teixeira, que ambienta a ação numa espécie de palco suspenso cujos elementos são descortinados diante do espectador ao longo da encenação. Daniel Schenker Wajnberg

A DIVERSIDADE DE VILELA
O genérico termo diversidade pode ser aplicado a Diogo Vilela. O ator tem se dedicado a empreitadas como interpretar Hamlet e, agora, Otelo. Mas também fez escolhas muito diferentes no decorrer do tempo.
No ramo dos musicais, se “transformou” em Nelson Gonçalves, em Metralha, e em Cauby Peixoto, em Cauby! Cauby!, valorizando sempre a composição minuciosa, a reprodução detalhada de uma construção física não limitada tão-somente à cristalizintegrou o elenco da montagem de Aderbal Freire-Filho para Tio Vânia, de Tchekhov. Anos antes havia agradado com Solidão, A Comédia, de Vicente Pereira, dirigido por Marcus Alvisi, parceiro habitual em muitas viagens teatrais. Talvez Diogo Vilela seja um ator acostumado a formar vínculos. Vale evocar sua ligação com Henriette Morineau, bastante lembrada pela contracena em Ensina-me a Viver. O encontro com Gloria Menezes também foi surpreendente, a julgar pelo entrosamento de ambos em Jornada de um Poema, marcado por elogiada direção do ator. (D.S.W.) |
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