
Ping-pong
Szot:
a voz fala mais alto
Regina
Porto
Beto
Tchernobilsky |
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Paulo
Szot: barítono e ex-bailarino recebe o Prêmio Carlos Gomes |
Vaidade
e competitividade são indispensáveis à vida
operística, conforme demonstrado na entrega do V Prêmio
Carlos Gomes na terça-feira 12, na Sala São Paulo,
a duas nervosas categorias líricas. A melhor performance
vocal feminina coube, pela primeira vez e com merecimento, à
consagrada soprano Céline Imbert.
Já
a categoria Vocal Masculino contrariou praxes e deu vitória
não a um tenor, mas a um barítono: Paulo Szot, 31
anos. Com dez anos de estudo na ancestral Polônia e finalista
do prestigioso Concurso Luciano Pavarotti de 1995, Szot é
dono de um timbre excepcional e de uma presença de palco
fulminante.
O barítono
não precisou de mais de três anos de carreira no Brasil
para roubar a cena, mesmo em papéis coadjuvantes, que em
regra são reservados ao seu registro vocal. Recém-saído
de participação especial na peça NxW,
de Gerald Thomas, até o início de 2001 Szot já
terá seduzido novas platéias cantando em Cavalleria
Rusticana, I Pagliacci, Carmen e O Morcego.
A seguir, seu resumo da ópera.
A
voz identifica uma pessoa?
Acredito que sim. A voz reflete o que a pessoa é.
O
barítono sempre compete com o tenor?
Não. Rivaliza com outros barítonos (risos).
Mas pode invejar os tenores, que sempre fazem os mocinhos bom-caráter,
os protagonistas da história. Para barítonos e baixos,
sobram pais, bandidos, carrascos... (risos).
Qual
foi um grande marco na sua carreira?
Minha estréia em São Paulo em 1997 fazendo
O Barbeiro de Sevilha (como Fígaro, papel principal
da ópera de Rossini).
Um
personagem com que você se identifica?
Foi maravilhoso fazer Don Giovanni (o conquistador
Don Juan, na ópera de Mozart), no ano passado.
Como
foi cantar a ária de morte de Isolda (da ópera
Tristão e Isolda, de Wagner) em NxW?
Uma experiência nova e maravilhosa. Acho que ninguém
adaptou essa ária antes para a voz masculina.
Quem
serve de modelo?
Os três tenores, embora Plácido Domingo seja
o mais completo. Dos barítonos, me espelho em Bryn Terfel.
E decidi cantar em 1990 por causa de José Van Dam (barítono
belga), que vi no filme O Mestre da Música.
Você
canta fora do palco?
Sempre. No banheiro, na rua, na academia, na esteira...
Falar
prejudica a voz?
Procuro falar pouco em dia de estréia. Mas acredito
que gastar, não gasta.
O
que fala mais alto: voz ou coração?
A voz. O coração sempre tenta falar mais
alto, mas o que deve dominar é a técnica. No teatro,
o artista pode se emocionar, chorar. Na ópera, não.
É muito perigoso, aperta a garganta, engasga.
O
que você já fez ou deixou de fazer pela voz?
Fui bailarino, tive problema de joelhos, parei de dançar
e um mês depois descobri a voz. Queria continuar a carreira
de bailarino e acabei encontrando todas as formas de expressão
na música.
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