Arte
Matisse
e Picasso
A
velada relação de disputa e reverência entre os dois pintores
Paula
Alzugaray
Reprodução |
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Diálogo:
Vestido Violeta com Ranúnculos, de Matisse, e Mulher
Sentada num Jardim, de Picasso |
Henri
Matisse e Pablo Picasso viveram na mesma Paris efervescente dos
anos 20 e 30, compartilharam amigos e marchands, mas nunca foram
muito chegados. Apesar do aparente desdém com que os dois grandes
pintores trataram-se durante quase cinco décadas, suas obras travaram
um dos mais assíduos diálogos do século 20. Debate artístico ou
disputa territorial? Essa questão é cuidadosamente investigada pelo
crítico francês Yve-Alain Bois no livro Matisse e Picasso
(Melhoramentos, 272 págs., R$ 89).
Originalmente
publicado em inglês como catálogo da exposicão organizada no início
de 1999 no Kimbell Art Museum de Forth Worth, Texas, o livro mostra
que, mais que uma troca de influências, Picasso e Matisse se desafiaram,
se menosprezaram, se revenciaram e se superaram mutuamente. “Só
existe uma pessoa com direito a criticar-me: Picasso”, disse Matisse
certa vez.
Mesmo
com uma diferença de 12 anos de idade, Picasso jamais assumiu Matisse
como um mestre. No entanto, há obras de semelhança desconcertante,
como Natureza-Morta com Colocíntidas (Matisse, 1916) e Natureza-Morta;
Busto, Fruteira e Paleta (Picasso, 1932). Em outras, o espírito
provocativo do espanhol falava mais alto e ele então apropriava-se
das poses lânguidas das mulheres de Matisse, desconstruindo-as e
atirando-as em um contexto cubista ou surrealista.
O Minotauro,
o grande tema de Picasso, surgiu em sua pintura um ano após Matisse
ter começado a pintar O Rapto de Europa (1927) com a figura
do homem com cabeça de touro. Matisse, por sua parte, flertava com
o cubismo à revelia de seu estilo decorativo, por conta dos desafios
impostos por Picasso. O que fica para o leitor é a evidência de
um ritual antropofágico. Matisse prova do cubismo de Picasso, que
digere e transforma os motivos ornamentais de Matisse, que saboreia
a agressividade do desenho de Picasso e assim por diante. Até a
série “As Mulheres de Argel”, que Picasso começou a pintar seis
semanas depois da morte de Matisse, em janeiro de 1955. “Quando
Matisse morreu, ele me legou suas odaliscas”, disse ele. Banquete
antropofágico
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