
Comédia
O
Auto da Compadecida
Guel Arraes leva minissérie da Rede Globo para a tela grande
Alessandro
Giannini
Divulgação
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Nachtergaele
(à dir.), com Mello:
ator toma a tela por inteiro |
Escrita
por Ariano Suassuna em 1955, O Auto da Compadecida nasceu
como peça de teatro e teve duas adaptações para o cinema – A
Compadecida (1969), de George Jonas, e Os Trapalhões e a
Compadecida (1987), de Roberto Farias.
Para a televisão, nas mãos de Guel Arraes, as aventuras de João
Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) receberam tratamento
de minissérie em quatro capítulos, em uma produção de nível cinematográfico.
O luxo compensou: uma versão reduzida das duas horas e quarenta
minutos do programa chega aos cinemas na sexta-feira 15.
Na primeira adaptação, do teatro para a televisão, Arraes teve o
trabalho de aumentar participações de personagens que já existiam
na peça e inserir elementos de outros textos clássicos na trama.
Na segunda, da televisão para o cinema, teve de enxugar excessos.
Nos dois casos, o diretor soube como ninguém manter o ritmo e a
agilidade da narrativa picaresca.
Discípulo do documentarista francês Jean Rouch, Arraes aplica o
rigor da produção cinematográfica aos seus trabalhos na televisão.
Antes de chegar à locação para filmar, ele ensaia exaustivamente
com os atores. Isso contribui para o entrosamento na interpretação
e uma fluência narrativa que não é muito comum no cinema brasileiro.
Um dos grandes méritos de Arraes foi ter mantido intacta a essência
da peça, que faz um paralelo entre o Nordeste dos anos 30 e a Idade
Média, com seus narradores (bobos da corte), coronéis (senhores
feudais), comerciantes (nobres), religiosos (clero) e cangaceiros
(bárbaros).
Na pele do matuto João Grilo, Matheus Nachtergaele toma a tela por
inteiro. Como o mentiroso Chicó, Selton Mello faz muito bem o seu
papel, embora não esteja brilhante. Entre os coadjuvantes, não há
como deixar de notar a participação de Marco Nanini como o cangaceiro
Severino. E a boa interação entre Diogo Vilela e Denise Fraga, respectivamente
o padeiro e Dona Dora, e Rogério Cardoso e Lima Duarte, como o pároco
e o bispo.
Melhor a cada adaptação
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