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Wanderley
Luxemburgo na marca do pênalti
O técnico da seleção brasileira é acusado de sonegar impostos pela
ex-amante Renata Carla Alves, que ficou grávida dele, sofreu aborto
espontâneo e agora o processa na Justiça
Luís
Edmundo Araújo com colaboração de Cecília Maia,
de Brasília, e Cesar Guerrero, de São Paulo
André
Durão |
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Wanderley
Luxemburgo tem dívidas com o Leão e é acusado por Renata Carla
Alves (destaque), sua ex-secretária e ex-amante. Ela diz ter
sido manipulada pelo atual técnico da seleção brasileira |
A cena
que aproximou o técnico da seleção brasileira
Wanderley Luxemburgo de sua ex-secretária, Renata Carla Moura
Alves, 32 anos, teve requintes tão cinematográficos
quanto um comercial de xampu que vem sendo veiculado na tevê
pelo galã global Reynaldo Gianecchini e uma bela morena.
Interessado na morena que dirigia seu carro pelo Elevado da Perimetral,
no centro do Rio de Janeiro, Wanderley a seguiu por quase 20 quilômetros,
até um sinal fechado da Estrada do Galeão, na Ilha
do Governador, zona norte da cidade. Renata morava lá. Aproveitando
o trânsito congestionado, o técnico saiu de seu carro
vestindo um agasalho esportivo. Não jogou um celular no carro
da moça, como Gianecchini faz no comercial. Até porque
em 1989 não havia celular no País. Mas na versão
de Renata, houve o seguinte diálogo:
-
Oi, sou Wanderley, técnico de futebol.
- O que você quer?
- Não posso ficar sem o telefone de uma morena bonita como
você.
O
encontro ocorreu quando o técnico começava a despontar
no comando do modesto Bragantino. Onze anos depois, na terça-feira
29, a ex-secretária do treinador relembrou a cena. Foi o
ponto de partida para um relacionamento profissional e amoroso só
desfeito em 1996. Pivô das denúncias de sonegação
fiscal contra Wanderley Luxemburgo, a quem também acusa de
tirar proveito financeiro na escalação de jogadores
para a seleção, Renata se auto-exilou desde que as
acusações que colocaram o cargo do treinador em risco
vieram à tona, na quarta-feira 23. A partir daí vem
usando disfarces, não tem endereço fixo e não
vê o filho de 6 anos. Perdi meu direito de ir e vir,
disse Renata. Ela garante já ter sido ameaçada de
morte. Meu erro foi saber demais, desabafou.
A
briga de hoje contrasta com a intimidade e o alto grau de confiança
que técnico e secretária mantiveram, segundo ela,
durante os anos em que se relacionaram. No período em que
foi amante de Luxemburgo, Renata morou em dois apartamentos cujos
aluguéis eram pagos pelo técnico, um em Jacarepaguá
e outro na Barra da Tijuca, no Rio. Ele assinava vários
cheques de uma conta conjunta com a mulher dele, a Josefa, e me
dava, afirma. Eu só tinha o trabalho de preencher.
Quando
conheceu Luxemburgo, Renata começou a pôr em prática
os ensinamentos que adquiriu num curso de maquiagem, no Rio. Ela
chegou a ser proprietária de um centro de estética
na Ilha do Governador, mas o negócio durou apenas um ano.
O interesse pela estética, porém, serviu para que
a ex-maquiadora desse algumas dicas a Luxemburgo. Meu primeiro
ato como namorada foi banir o Azarro (perfume francês masculino)
da vida dele.
Outra
mania de Luxemburgo que irritava Renata era a de se apresentar sempre
como técnico de futebol, depois de dizer seu nome. Pedia
que ele diminuísse o número de vezes que se identificava
pela profissão. Dizia: Menos, Wan, menos,
mas não adiantava, conta, revelando o apelido pelo
qual o chamava. A ex-secretária garante que os ternos impecáveis
que hoje vestem o treinador da seleção também
são decorrentes de sua assessoria. Introduzi
o terno no guarda-roupa dele e dava outras dicas, como não
usar sobretudo aqui no Brasil.
Apesar
dos hábitos que a incomodavam, Renata garante que o técnico
era romântico e um ótimo companheiro. Ele fazia
declarações de amor a toda hora. Falava em casamento.
Eu era a menininha dele, afirma. Na quinta-feira 24, diante
das câmeras de tevê de todo o País, Luxemburgo
negou o envolvimento amoroso. Estou casado há 28 anos.
Não admito que minha dignidade seja atacada sem chance de
me defender. Se dependesse dos pais de Renata, o relacionamento
com um homem casado nem teria se iniciado. Eu e a mãe
dela reprovávamos, mas ela era maior de idade e a mais independente
das minhas filhas, diz o pai, o advogado Roberto Carlos Alves.
Renata
é a segunda de seis irmãos cinco mulheres e
um homem. Foi a mais determinada da família, de classe média.
Aos 9 anos, pediu ao pai um conjunto de moldes com figuras de personagens
de Walt Disney. Com o gesso, fabricava os bonecos, pintava e vendia
o material na escola primária Sun-Yat-Sen, na Ilha do Governador,
onde estudava. Ela ganhava um bom dinheiro com isso,
lembra o pai.
Em
1989, aos 21 anos, foi a primeira filha a sair da casa dos pais.
Na época, iniciou o romance com Luxemburgo. Dois anos depois,
a hoje estudante do terceiro período de Direito, viveu um
drama: Engravidei dele, mas perdi o bebê num aborto
espontâneo, com menos de um mês de gestação.
É verdade, diz o pai.
Logo
depois desse episódio, o relacionamento de Renata e Luxemburgo
foi interrompido. Ficaram um ano e meio sem se falar. No fim de
1993, o técnico voltou a procurar a ex-secretária,
que nessa época trabalhava no escritório de advocacia
do pai. Tinha mudado o telefone e ele descobriu o número
novo, não sei como. Foram dois meses trocando telefonemas
até que o casal voltou a se encontrar. Foi quando Renata
recebeu o convite para ser licitante do técnico em leilões
de bens móveis e imóveis. Ela nunca foi minha
funcionária. Fez negócios para mim, alguns maus negócios
por sinal, disse o técnico, ao se defender das acusações
contra ele na sexta-feira 25.
No
período em que esteve separada de Wanderley, a ex-secretária
engravidou de um namorado e decidiu ser mãe solteira. O filho,
hoje com seis anos, está morando com os avós e ultimamente
pouco vê a mãe, que teme por sua vida. Minha
filha recebeu três ameaças de morte, todas na quinta-feira
(dia 24 de agosto), conta o pai. Estamos com medo que
aconteça algo. Separar-se do filho não foi a
única medida de segurança tomada por Renata. Desde
que surgiram as denúncias contra Luxemburgo, ela tem trocado
de telefone regularmente e passou a dormir em casas de amigos e
parentes. Não vejo minha filha desde o Dia dos Pais,
diz Roberto. Assim como os advogados e amigos de Renata, ele só
se comunica com a filha quando recebe uma ligação.
Ela não atende mais o telefone.
Renata
diz não se arrepender de nada até agora, mas não
esconde que sua atual situação beira o limite da resistência.
A verdade é que nem eu sei se vou agüentar,
diz. Ela garante que tudo o que quer, no momento, é restabelecer
a paz em sua rotina, que incluía corridas na praia e compras
em shoppings. Ao que tudo indica, ela está longe de alcançar
seu objetivo. A Polícia Federal quer ouvi-la sexta-feira
1º ou terça-feira 5. Segundo seus advogados, André
Luiz Anet e Marcos Cytrangulo, ela apresentará na ocasião
os documentos que comprovariam o envolvimento de Luxemburgo na compra
e venda de jogadores, valorizados pela convocação
para a seleção brasileira. Apresentaremos as
provas diretamente à polícia, garantiu Anet.
O técnico desafiou Renata publicamente a provar a acusação,
na quinta-feira 24. Meu maior crime foi ter saído do
Bragantino para a seleção brasileira. Quero que provem
que participei de alguma negociata.
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