
Sindicalismo
A
vez do professor
João Felício quebra um tabu de 17 anos ao ser eleito para a presidência
da CUT sem passar pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Cesar
Guerrero
Leandro
Pimentel |
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“Eu
não sou um sindicalista de gabinete”, diz Felício, em frente
à sede da CUT |
Ele
nunca trabalhou numa indústria. Nem bateu ponto em fábrica.
Suas mãos são suaves, sem calo algum. Na sua profissão,
ele mexe com tintas, pincéis, argila. Esse profissional é
agora o homem forte da maior central sindical do Brasil, que representa
3 mil sindicatos e 20 milhões de trabalhadores. João
Felício, 49 anos, foi eleito presidente da Central Única
dos Trabalhadores. Com 17 anos de existência, a CUT elegeu
pela primeira vez um professor de educação artística.
Eu não sou um sindicalista de gabinete, garante.
Como
presidente da Associação dos Professores do Ensino
Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Felício
organizou uma greve que durou 82 dias, em 1989. O resultado foi
um reajuste salarial entre 51% e 126% para a categoria. Deu
certo porque havia unidade, lembra. A partir daí, ele
se fortaleceu no meio sindical. Entrou para a CUT como diretor e
permaneceu durante seis anos.
Antes
de ser professor, Felício atendia a fregueses no balcão
do açougue de seu pai em Jaú, no interior de São
Paulo. À noite, quando baixava a porta de ferro, ele passava
a mão nos cadernos e pegava o ônibus até a escola.
Essa rotina seguiu até concluir a Faculdade de Educação
Artística, em Bauru.
Formado,
começou a dar aulas em 1973 numa escola na zona oeste de
São Paulo. Na sala dos professores, além de interessar-se
pelos debates sobre as condições de salário,
conheceu Léa Francisconi, que lecionava geografia. Do romance
que dura 20 anos, nasceram, Bruno, 18 anos, e Marília, 14.
Hoje ela ganha mais do que eu, conta Felício,
explicando que a mulher dá aula da Universidade de São
Paulo.
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