
Passarelas
Pintando
no set
A modelo Liria Varne, estrela de filmes publicitários, faz quadros
em acrílico, exporta seu trabalho para a Europa e já recebeu R$
2,5 mil para ter os pés fotografados
Rodrigo
Cardoso
Piti
Reali |
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Liria
trocou com Arnaldo Antunes (abaixo) o quadro “Eu vou te dar
alegria”, por um ingresso de seu show: “Eu pinto, mas não tenho
a sua música. Você tem a música, mas não os meus quadros” |
Há
dois anos, num shopping de São Paulo, o cantor Arnaldo Antunes,
ex-integrante do grupo Titãs, realizava uma sessão
de autógrafos. Entre as fãs que se acotovelavam no
dia, uma o abordou com um discurso pitoresco. Eu pinto, mas
não tenho a sua música. Você tem a música,
mas não os meus quadros. Vamos fazer um escambo? Ele
aceitou sem hesitar. A proposta foi feita pela paulista Liria Varne,
24 anos, modelo e artista plástica. Vou colocá-la
na lista VIP do show que farei semana que vem, prometeu-lhe
o músico. A troca foi feita. Fui a primeira da fila
e levei uma tela pintada a tinta acrílica para ele,
diz Liria.
Arnaldo
Antunes aplaudiu o talento da artista. A Rosa, minha filha
de 11 anos, adora o quadro, diz ele. Ela o pendurou
no quarto. Formada em design gráfico e estrela de campanhas
da Fiat e Telesp Celular, a modelo produziu 40 telas em três
anos. Enquanto pinta, é acompanhada pelo som do cantor. Duas
das telas foram exportadas uma para a Alemanha e outra para
a Itália. Elas têm um colorido sujo, muito esgoto
e muita lama, conta Liria. Ser contemporânea não
é estar na moda, mas sim em contato com toda a desgraça
que vejo.
Julio
Vilela |
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BONS
CACHÊS Liria terminou o curso de artes em quatro anos.
Por conta dos estudos não viajou pelo mundo atrás
de desfiles e flashes de fotógrafos para capas internacionais.
Mas, no Brasil, conseguiu trabalhos com cachês na casa dos
R$ 20 mil. Certa vez, descobriram que meus pés eram
bonitos e ganhei R$ 2,5 mil só para fotografá-los
para uma marca de lingeries, conta. Seu mais recente trabalho
de peso foi uma viagem ao Canadá para gravar um comercial
de shampoo da marca americana Clairol. O filme publicitário
está sendo veiculado nos Estados Unidos, Canadá e
Inglaterra. No Brasil, a campanha será fotográfica.
Com a grana, vou comprar um apartamento, festeja. No
dia-a-dia de trabalho, sua agenda é cheia de rabiscos. Enquanto
espera sua participação nos sets de gravação
ou nos estúdios, faz esboços de telas, baseando-se
na expressão de pessoas e em lugares. Gravei um comercial
do Honda Civic, no Largo do Arouche. Comecei então a esboçar
portões e detalhes da região, conta.
Mas
carreira de modelo é curta. Por isso, há dois anos
ela faz cursos de teatro. A verve teatral teve início na
adolescência. No colégio, fazia performances de roqueiros
em cima das carteiras. Joe Ramone, Axl Rose e Fred Mercury eram
seus preferidos. Certa vez foi flagrada pelo diretor da escola e
como castigo dançou para todos os alunos do colégio.
O diretor me falou: Não sei se você é
um heavy-metal ou um débil-metal, lembra.
Sua energia agora está direcionada para conseguiu um patrocinador
para sua primeira exposição como artista plástica.
Não sai de casa sem ter quadros debaixo do braço.
Nem hesita em exibir seus trabalhos em restaurantes e bares. Sei
sorrir. Isso ajuda, diz ela. Com Arnaldo Antunes, pelo menos,
deu certo.
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