
Sucesso
O
outro lado do crime
José Luís Datena comanda o programa líder de audiência na Record,
mostra a violência urbana sem chocar o telespectador e é cobiçado
pela Globo
Gustavo
Maia
Piti
Reali |
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Em
seu apartamento, Datena diz que o problema de um de seus filhos
com drogas o fez repensar a cobertura da violência na tevê:
“É a pior coisa que pode acontecer a uma família”, diz |
Um
programa jornalístico sobre a violência sem imagens
de cadáveres e de tiroteios não está fadado
ao fracasso. José Luís Datena, 43 anos, âncora
do Cidade Alerta, da Rede Record, é um bom exemplo.
Desde que assumiu o comando do noticiário eletrônico
há dois anos, o ex-narrador de futebol alavancou sua audiência
de 10 pontos para 17 em média. E cravou o programa como o
maior ibope da emissora do bispo Edyr Macedo. A receita para o sucesso
é simples: Datena tirou o sangue da tela. Limitou o abuso
de cenas fortes e violentas como gente morta por acidente nas ruas,
pela guerra do narcotráfico ou pelas chacinas da periferia.
Não esperávamos esse sucesso, mas a resposta
do público foi imediata, lembra o âncora. Incluído
na categoria de programas jornalístico-policiais de forte
apelo popular, o Cidade Alerta é uma espécie
de filho do extinto Aqui Agora, do SBT. Hoje Datena concorre com
a novela das seis da rede Globo, O Cravo e a Rosa, de Walcyr
Carrasco. Está em seus calcanhares em audiência. E
já chegou a nocautear a anterior Esplendor, que tinha como
protagonista a escultural Letícia Spiller. Mudamos
a linguagem e coibimos imagens chocantes. No dia do assalto ao ônibus
da linha 174, demos 28 pontos de pico. Deu certo, conta Datena.
Por
conta do sucesso de seu trabalho na televisão, a concorrência
já quer fisgá-lo. A Rede Globo, por exemplo, ofereceu
R$ 150 mil por mês para tê-lo na emissora. Eles
me procuraram. Querem me contratar, confirma. O apresentador
recebe uma quantia estimada em R$ 70 mil por mês e já
deixou claro à diretoria da Record, que pode trocar de casa.
A resposta do programa é ótima, mas tenho que
aproveitar as oportunidades, diz. Datena ainda não
mudou porque esbarrou numa cláusula de contrato que determina
que seu trabalho seja feito até 2003. Só poderia trocar
de emissora, caso a direção da Record topasse liberá-lo,
aceitando a rescisão de contrato estipulada em R$ 3 milhões.
Mas eles não querem me liberar, conta.
A Record
tem seus motivos. Datena passou a ser o campeão de cartas
da emissora desde que assumiu o Cidade Alerta. Recebe cerca
de 100 por dia. Há um mês, numa filmagem da emissora
na Ilha do Caju, no Maranhão, a população local
viajou vários quilômetros em canoas para vê-lo.
Ele não estava lá e, na volta da equipe a São
Paulo, recebeu os presentes e cartas dos fãs maranhenses.
Fico muito feliz com esse tipo de reação. Prova
que o trabalho está sendo bem feito, afirma Datena.
FILHO
DEPENDENTE
A forma de tratar com o crime na televisão sem recorrer ao
apelo do mundo cão reflete experiências pessoais do
apresentador. Pai de três filhos, Datena passou por um grande
problema familiar quando seu filho do meio, Vicente, 19 anos, se
envolveu com drogas e teve que passar por um período de desintoxicação.
Essa é a pior coisa que pode acontecer a uma família.
Envelheci dez anos em dois, diz. Vicente está recuperado
e Datena parou de beber e de fumar no período que acompanhou
a recuperação do filho. Do dilema, restou a revolta
para com os traficantes de drogas. Ela é evidente no apresentador,
que faz questão de enfatizar o problema do narcotráfico
em seu programa. Sou contra a pena de morte, mas o tráfico
deveria dar prisão perpétua, desabafa.
Natural
de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, iniciou
a carreira na Globo regional, em 1982. Cinco anos mais tarde, ganhou
dois prêmios Vladimir Herzog de jornalismo, por matérias
exibidas no Globo Repórter. No mesmo ano, o apresentador
partiu para a área de esportes, sua paixão. Quando
era criança, Datena jogou futebol ao lado de Sócrates
nas categorias de base do Botafogo, principal time da cidade. Era
um zagueiro muito viril, mas pouco eficiente, brinca. De 1990
a 1996, fez parte da equipe de esportes da TV Bandeirantes, no ano
seguinte foi para a Record, participar da equipe de esportes, que
acabou extinta no mesmo ano. Foi nessa época que eu
pleiteei a vaga no Cidade Alerta, lembra Datena.
Enquanto
aguarda a definição de sua situação
profissional, Datena mantém a audiência no Cidade
Alerta e aproveita o tempo livre para descansar. Academia de
ginástica e longas caminhadas não fazem parte do roteiro.
Sou totalmente sedentário, brinca. Quando não
está na Record, Datena aproveita para ler. Compro muitos
livros e leio vários ao mesmo tempo, diz ele. Está
prestes a terminar um de teses de Platão e uma biografia
do líder indiano Gandhi. Gosto de aprender teorias
para utilizá-las no programa, afirma Datena. A maneira
peculiar de apresentar foi aprovada pela opinião pública.
Mas não sensibiliza o apresentador, que se diz um casca grossa.
Gostou? Ótimo. Senão, não dou bola.
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