
Família
Em
nome do pai
Nelson Rodrigues Filho estréia como diretor de teatro e lança a
filha atriz, com textos do pai dramaturgo
Luís
Edmundo Araújo
Leandro
Pimentel |
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“Meu
pai dizia que defloramento é o primeiro beijo na boca”, diz
Nelson, ao lado da filha Cristiane e da máquina de escrever
do pai |
No
início dos anos 70, em plena ditadura militar, o militante do MR-8
conhecido como Prancha via televisão com um companheiro em um dos
muitos “aparelhos”, gíria usada para designar os esconderijos usados
por quem vivia na clandestinidade no Brasil na era da ditadura militar.
Na tevê, o dramaturgo Nelson Rodrigues desfiava comentários num
debate esportivo. Consciente de que assistia a um notório reacionário,
o colega de Prancha esqueceu qualquer ideologia e exclamou: “Esse
filho da p.... é inteligente demais”.
Na
época, Prancha, que tinha o apelido graças ao tamanho avantajado
do pé, tamanho 45, preferiu não revelar ao companheiro que era filho
do polêmico jornalista, escritor e dramaturgo. Hoje, Nelson Rodrigues,
o filho, 55 anos, acaba de estrear como diretor teatral da peça
Momentos- Beijos de Nelson Rodrigues, uma coletânea de textos
do pai, que entrou em cartaz quarta-feira 23, no Rio. No palco,
dirige Cristiane, 21 anos, sua única filha, que está debutando na
carreira de atriz.
O período
na prisão, de 1972 a 1979, quando foi libertado pela Lei da Anistia,
serviu para que Nelsinho se aproximasse mais da obra do pai, principalmente
das crônicas de A Vida Como Ela É, nas quais o espetáculo
foi baseado. Depois de participar da adaptação das histórias para
a tevê, no Brasil e em Portugal, ele se uniu a Braz Chediak para
selecionar os textos em que o beijo era o tema central. “Meu pai
já dizia que o verdadeiro defloramento é o primeiro beijo na boca”,
afirma.
O diretor
também levou para o palco objetos pessoais de Nelson Rodrigues,
como a velha máquina de escrever. Achar as relíquias não foi problema.
Ele mora com a filha e a mãe, Elza, no apartamento da Avenida Atlântica,
em Copacabana, onde o pai morou até morrer, em 1980. Além deles,
Cristiane, apaixonada por gatos, se encarregou de abrigar outros
moradores. Na casa da família de Nelson Rodrigues, o número de bichanos
não poderia ser outro. “Temos sete gatinhos”, diz a neta do dramaturgo.
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