
Por
onde anda
Bem
longe de Menina Veneno
O roqueiro e compositor inglês Ritchie, que liderou as paradas de
sucesso na década de 80, trabalha hoje como sonorizador de sites
da internet
Rosângela
Honor
André
Durão |
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“Não
tenho mais idade para ficar pulando no programa de televisão
da Xuxa”, diz Richard David Court, o Ritchie |
Há
17 anos, o inglês Richard David Court fazia uma média de cinco shows
por semana, participava de todos os programas de televisão e liderava
as paradas de sucesso com a música “Menina Veneno”. Hoje, o roqueiro
franzino que se tornou conhecido como Ritchie vive uma rotina que
não lembra em nada a de um artista que experimentou o auge da fama.
O compositor se transformou num especialista em sonorização de sites.
Recentemente, foi contratado para fazer esse tipo de trabalho para
a página do portal Yahoo! e a do poeta Carlos Drummond de Andrade
na internet.
Embora
o cotidiano de Ritchie tenha mudado radicalmente, ele mantém, aos
48 anos, a mesma imagem do roqueiro que, em 1983, vendeu um milhão
de discos – patamar que até então só fora alcançado por Roberto
Carlos. Mesmo com alguns fios brancos à mostra, mantém corte de
cabelo semelhante ao do tempo em que fazia sucesso. A paixão pela
música também continua inabalável. Apesar das evidências, o cantor
garante que não existe qualquer ponta de nostalgia. “Não me sinto
frustrado como artista”, diz. “Fiz sucesso aos 30 anos, quando já
me achava velho e sabia que era descartável.”
Além
dos projetos de sonorização, Ritchie sobrevive de direitos autorais
– tem seis discos gravados – e eventualmente trabalha como produtor
musical. O cantor não revela cifras, mas afirma que seus rendimentos
lhe garantem uma vida financeira confortável. Por isso, tem recusado
convites de gravadoras para voltar a cantar, afastando qualquer
possibilidade de voltar ao estúdio para preparar um disco com seus
maiores sucessos. Ele não descarta a possibilidade de voltar a fazer
um disco com novas composições, em inglês. Mas quer passar ao largo
das gravadoras. “Eu me decepcionei muito”, confessa. “Não preciso
de gravadoras, elas são as maiores piratas”, diz ele, que está pensando
em lançar um CD, em inglês, para ser vendido através da internet.
“Prefiro que as pessoas se lembrem de mim naquela época, e não como
um artista grisalho e decadente”, diz. “Não quero voltar cantando
‘Menina Veneno’.”
Mesmo
sem cantar há dez anos – seu último disco foi Sexto Sentido
– suas músicas são lembradas constantemente. A dupla sertaneja Zezé
Di Camargo e Luciano, por exemplo, gravou “Menina Veneno”, enquanto
Fábio Júnior já incluiu a música “Transas” em seu próximo CD. Ritchie
conta que, apesar de passar uma média de oito horas diárias na frente
do computador, ainda encontra tempo para compor, sempre em inglês.
Ele
garante que não sente saudade da época em que tinha as roupas rasgadas
pelas fãs. Tranqüilo e caseiro, mora com a mulher, a artista plástica
Leda Zucarelli, com quem está casado há 29 anos. O casal vive com
as duas filhas, Mary, 20 anos, e Lynn, 16, na cobertura que Ritchie
comprou na Lagoa, zona sul do Rio, na época em que fazia sucesso.
Gosta de ser lembrado pelo público, mas acredita que sua fase como
roqueiro já acabou. “Não tenho mais idade para ficar pulando no
programa de televisão da Xuxa”, constata, debruçado sobre seu computador
enquanto prepara novos trabalhos.
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