
Luiz
Thunderbird
“Comprava
droga para não me matar”
O VJ deu “bolo” em José Bonifácio Sobrinho, o Boni, porque não
conseguia parar de cheirar cocaína e diz que só não se suicidou
porque tinha dinheiro para se drogar
Rodrigo
Cardoso
Alexandre Tokitaka |
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“Quando
mudei para o Rio, pensava que fosse parar de cheirar. Mas importava
um traficante de São Paulo. Pagava passagem de avião para ele
vir me fornecer” |
Em
sua estréia na vida artística, o paulista Luiz Fernando
Duarte já fazia apologia às drogas. Cannabis Sativa,
sua primeira banda, criada nos anos 80, não durou muito tempo
porque, segundo ele, acabou o baseado. Em 1986, com
a criação do grupo Devotos de Nossa Senhora, nascia
Thunderbird, copiando o nome do glamouroso Ford dos anos 50. De
lá para cá, Thunder virou VJ da MTV, trabalhou na
Globo e na extinta Manchete. Longe da tevê, conheceu na pele
o submundo das drogas. Hoje, aos 39 anos, o quadro é outro.
Além de apresentar os programas VJ por um Dia e Tempo MTV,
ele corre cinco dias por semana para participar da corrida de São
Silvestre, no final do ano, faz musculação, nada e
joga tênis. Uma vitória sua na São Silvestre
seria a realização de um sonho. Mas se ela não
acontecer, tudo bem. Afinal, ele comemora outra vitória:
Estou há três anos, dois meses e dez dias sem
me drogar, disse Thunder a Gente.
Você
tem medo de altura?
Pavor. Mas participei da corrida dos degraus no prédio do
Banespa. Subi 32 andares, 820 degraus, em 7 minutos. Também
saltei de pára-quedas, com o Jacaré do É o
Tchan acoplado em mim no bom sentido. Lembro que, quando
puxei a cordinha, o Jacaré disse: Ah, que bom, abriu!
Quase dei uma cotovelada nele.
Completa
dez anos de tevê?
Sem dúvida que sim (bordão de Thunder). Quando entrei
na sala do Roger Karman, que era o chefe da MTV na época
da minha contratação, ele falou: Hã,
Thunderbird, não é? Eu prefiro os antigos (referindo-se
aos Ford Thunderbird dos anos 50). Aí, eu respondi: Pois
é, eu sou de 1961, eheheh! Rolou uma empatia.
Você
deixou de ser dentista?
Em 1984 saí viajando pelo Nordeste, vendendo calcinhas pintadas
à mão pela rua. Se não fizesse isso, seria
um dentista gordo, com bico de papagaio, cego do olho esquerdo e
surdo do direito. Também não cobrava dos amigos. Com
o tempo meu consultório só servia para os ensaios
da banda. Aí, pulei fora.
O
que fazia no Nordeste?
Ficava fumando maconha na praia. Vivia de água de coco, caldo
de cana e acarajé sem recheio.
E
sobre seu visual? O que acha de seu queixo saliente?
Na faculdade meu professor de cirurgia, Édio Baesa, queria
me operar. Eu não quis.
Tinha
complexo por isso?
Era conhecido como Garibaldo e O Inevitável Queixada, mas
sempre tive namoradas bonitas. Fernando Vanucci, por exemplo, conseguiu
comer a Regininha Poltergaist e a Marinara? Impossível. Olha
para o cara! Ele é ridículo! Deve ter algum truque.
O
queixo é sua arma na tevê?
Só estou na tevê por causa do queixo.
O
que buscava com as terapias?
Auto-afirmação e autoconhecimento. Fui fazer uma terapia
com uma garota da faculdade e, coitada, ela desistiu de mim. Internei
a médica. A primeira terapia séria que fiz foi em
1989, por causa das drogas.
Como
foi isso?
Na faculdade, aos 18 anos, fui fazer a cabeça de um amigo
para deixar de fumar maconha. Não consegui convencê-lo
e acabei experimentando. Em poucos meses estava fumando muito. Subia
e descia morros para negociar com traficante. Cheguei a viajar para
uma praia com meio quilo de fumo. Se fosse pego, ia direto para
a penitenciária. Só não virei traficante, porque
não conseguia repartir.
Como
vivia nessa época?
Trancado dentro do quarto da casa dos meus pais, dominado pelas
drogas. Ninguém me suportava. Tinham acabado meus empregos.
Ganhava R$ 200 por mês, fazendo matérias para um jornal.
O dinheiro ia direto para os traficantes.
Você
conseguia trabalhar?
Na Globo, eu sabia que o Boni, o Boninho, o Walter Lacet e o Rogério
Gallo me esperavam para gravar o TV Zona (programa que
ficou no ar apenas dois meses). Mas não conseguia parar
de cheirar cocaína no hotel. Eu falava: Vou me f.,
vou me f.! Não me matei porque, sei lá, não
acabava a droga. Tinha muito dinheiro. É isso: para não
me matar comprava droga.
próxima>>
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