
por
Marcelo Zanini
Barbosa
Lima Sobrinho, 103 anos
Jornalista, político, advogado e acadêmico, ele
participou de todos os capítulos da luta pela democracia no Brasil
Prensa
Três
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O pernambucano
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho morreu no domingo 16
de falência orgânica generalizada, provocada por uma
septicemia. Ele estava internado desde a quinta-feira 13 na Casa
de Saúde São José, no Rio, com dificuldades
de respiração. Em seus 103 anos de vida, o jornalista,
advogado, político e escritor protagonizou e testemunhou
momentos cruciais do País.
Não
abria mão da liberdade de expressão e dos direitos
da cidadania. Prodígio, aos 13 anos já escrevia os
primeiros textos para o jornal A Província, de Recife.
Costumava dizer que já havia perdido a conta de quantos livros
escrevera ao longo da vida. Ao todo, foram cerca de 50 publicações,
a mais importante delas Japão, Capital se Faz em Casa,
no qual defendia o nacionalismo, sua principal bandeira. Em 1917,
formou-se advogado em Pernambuco.
Quatro
anos mais tarde, mudou-se para o Rio e passou a trabalhar como jornalista.
Dizia que uma de suas maiores qualidades era a boa memória
e, por isso, fazia questão de não anotar nenhuma entrevista.
Só depois de realizá-las é que as transcrevia
à mão. Em 1926, foi eleito pela primeira vez presidente
da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Em 1937,
aos 41 anos, passou a ocupar a cadeira de número 6 da Academia
Brasileira de Letras (ABL), da qual tornou-se presidente em 1953.
Também na década de 30, elegeu-se pela primeira vez
deputado federal pelo PSD de Pernambuco. Foi ainda governador do
Estado entre 1948 e 1951. Em 1974, em plena ditadura militar, lançou-se
anti-candidato à vice-presidência na então chapa
de oposição, o MDB, de Ulysses Guimarães. Do
outro lado, estava a Aliança Renovadora Nacional, a Arena,
liderada pelo general Ernesto Geisel. Fomos dois dom Quixotes
sem o Sancho Pança, brincava ele. Dez anos depois,
participou como orador da campanha das Diretas-Já, que exigia
o restabelecimento das eleições diretas para a escolha
do sucessor do presidente João Figueiredo. Patriota, defendeu
a criação e, depois, com a chegada do neoliberalismo,
a manutenção do monopólio estatal do petróleo.
Em
1992, então com 95 anos, foi o primeiro cidadão a
assinar o pedido de impeachment do ex-presidente Fernando Collor
de Mello. Barbosa Lima Sobrinho fez questão de ir pessoalmente
ao Congresso Nacional entregar o documento. Em 1964 sofreu um enfarte,
creditado ao golpe militar, mas apesar disso tinha saúde
de ferro. Ao completar 100 anos, dispensava os óculos. Apenas
utilizava uma lupa para o olho direito, afetado por um glaucoma.
Ainda assim, escrevia semanalmente no Jornal do Brasil, onde
foi articulista por 79 anos.
Seu
último artigo A exclusão da classe média
foi publicado no domingo 16, mesmo dia de sua morte. Trezentas pessoas
acompanharam o enterro na terça-feira 18, no cemitério
São João Batista, no Rio. Casado havia 68 anos com
Maria José, 93, deixa três filhos, cinco netos e três
bisnetos.
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