
Ensaio
Figuras
do Feminino na Canção de
Chico Buarque
Textos e ilustrações traduzem as mulheres
de Chico Buarque
Francisco
Viana
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Pintura
de Ismael Nery
para "Folhetim" |
Na
música de Chico Buarque a mulher é a eterna musa.
Cantar com magia a sedução pelo feminino é
a sua grande arte. Ele abarca desde a mulher dionísiaca,
aquela que se oferece à felicidade plena, quase ingênua,
à mulher da raça de Prometeu, racional e trágica
como o próprio deus da civilização, do trabalho,
da cultura e, também, da repressão. E há ainda,
a mulher que encarna, a um só tempo, o papel de amante e
guerrilheira, a exemplo de Bárbara, a amante de Calabar,
que mantém viva a memória do morto cujo nome os portugueses
apagaram de todo e qualquer registro. Ou a mulher de Atenas, prisioneira
do inescapável papel social de serva da espécie.
É uma galeria interminável, modelada às vezes
com suave lirismo, às vezes com dramas de separações
dilacerantes, sempre com jogos de entregas, perdas, ambivalências
e a infinitude da busca de felicidade, de amor. É esse universo
que Adélia Bezerra de Menezes captura em Figuras do Feminino
na Canção de Chico Buarque (Boitempo e Atelier,
180 págs., R$ 36).
É
um livro raro. Nos seis capítulos, ilustrados com reproduções
de Di Cavalcanti, Ismael Nery, Vicente do Rego Monteiro e Volpi,
a mulher surge como uma vigorosa metáfora da confluência
do erótico e do político. Mais do que isso, emerge
como o próprio eros de um povo que parece ambicionar, acima
de tudo, a liberdade no prazer, independente do caos urbano, dos
períodos de ditadura ou dos percalços pessoais. Em
outras palavras, a imagem da mulher se soprepõe a tudo: à
cidade com suas multidões, às classes trabalhadoras,
ao longo ciclo dos governos militares, ao futebol, ao carnaval e,
assim, sucessivamente. Ela só não se sobrepõe
ao próprio homem porque sem o masculino o elemento feminino
se torna incompleto, sem a luz da chama que projeta o desejo para
o infinito.
Daí
a autora, a partir da poesia de Chico Buarque, ampliar a questão
proposta por Freud. Em lugar de o que quer a mulher, ela pergunta:
O que querem a mulher e o homem?.
Para
ler Chico Buarque
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