Dava dor
de cabeça para sua mãe na adolescência?
Muito, coitada da minha mãe. Hoje
eu venero ela. Deve ter sido difícil lidar com uma
adolescente que sabia muito o que queria, mesmo que parecesse
completamente absurdo. O fato de eu não ouvir os conselhos,
ou de olhar para ela naquele momento e dizer “o que
é isso, coroa, você não sabe p. nenhuma,
eu que sei”. Para ela deve ter sido muito decepcionante,
muito angustiante lidar com isso. Ela achava que eu devia
estudar, fazer faculdade – e, quando eu fui fazer faculdade,
fiz música. Aparecia todo dia com uma tattoo diferente
e ela “ai, meu Deus, você não vai arrumar
emprego em lugar nenhum”. Fui meio camicase, podia ter
realmente quebrado a cara do jeito que ela imaginava.
E hoje, é sua fã?
Vai aos shows?
Minha mãe
é mais bicho do mato do que eu. Odeia badalação,
odeia pessoas, odeia o mundo. Ela gosta dela, da casinha dela
e dos livros dela – é muito parecida comigo nesses
aspectos. Mas ela vai aos shows quando pode, e dá valor.
Hoje a gente tem uma relação bem bacana, e isso
foi uma grande vitória porque a gente passou a vida
inteira como cão e gato. Minha mãe era minha
maior inimiga e eu a dela, provavelmente.
Continua sem falar com seu pai?
Não tenho contato com ele. Acho que
faz uns 10 anos.
Por quê?
Um dia parou, e parou.
Sente vontade de procurá-lo?
Não, se rolasse uma vontade muito
grande já teria acontecido. Acho
que ele não precisa de mim, eu não preciso dele
e está tudo certo.
Você fez 29 anos. Está
preocupada com as mudanças no corpo?
Que nem toda mulher, que às vezes
acorda e fala “essa m. dessa bunda flácida”.
Mas também no outro dia já estou “ah,
quer saber? Estou aqui, estou bombando”. Não
tenho muito problema com isso talvez por causa da genética.
Amadureci muito tarde. Na adolescência isso era um problema,
eu com 18 anos parecia 12. Magrelinha, não tinha corpo,
todas as minhas amigas já eram peitudas, bundudas,
gostosas. Hoje isso é uma vantagem porque minhas amigas
que estavam gostosas com 18 hoje estão umas mocréias.
E eu tô tipo com 20 anos, adorando.
Você já pensa em
ter filhos?
Até nisso ainda estou dez anos atrás.
Ainda não bateu essa onda, não. Nem penso, não
tem como. Quero pegar a mochila, botar nas costas e me picar
para algum lugar que acabei de decidir. E com filho isso muda,
você tem que ter toda uma programação.
Gosto de ser muito livre e não ter nenhum laço.
As cantoras baianas sempre fizeram
sucesso, mas com estilos diferentes do seu. O que pensa da
música de Daniela Mercury?
Ela teve uma importância muito grande
na história da música baiana, dessa música
regional, e conseguiu fazer coisas fora também. Com
certeza a obra dela é relevante para muita gente. Para
mim, não tanto.
E da Ivete Sangalo?
Não consigo assimilar a música
dela, mas respeito a Ivete pela pessoa que ela é. Não
estou nem aí se ela quer fazer uma música falando
de amor, se curte axé, rumba ou salsa. E ela provavelmente
não está nem aí se o meu rock tem guitarra
demais ou se é barulhento demais. O importante é
quando a gente olhou uma para a cara da outra, a gente conseguiu
se olhar no olho e dizer “p., negona, beleza, faça
o seu aí que eu tô fazendo o meu aqui, boa sorte”.
É uma pessoa autêntica.
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