Romance
Conquistas
de Tônia Carrero
A atriz, que pediu a Marluce Dias para voltar
à Globo, diz que Rubem Braga ameaçou suicídio
por ela, conta que namorou Paulo Autran e que roubou seu segundo
marido de Cacilda Becker
Viviane Rosalem
Foto: André
Durão |
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Nas ruas de
Paris, em 1947, com o marido, o cenógrafo Carlos Thiré,
a professora de educação física Maria Antonieta
Portocarrero esbarrou com o escritor Rubem Braga. Surpresa, horas
depois soube que o encontro não fora casual. "Ele estava
completamente apaixonado por mim e me seguiu até lá",
conta. Tônia se rendeu ao escritor, com quem teve um romance
por seis meses. "Nos encontrávamos numa garçonniére
de um amigo dele", lembra. Caminhando com ela na praia do Leblon,
Rubem fez um soneto. E ameaçou se suicidar caso ela o abandonasse,
dizendo que se jogaria na frente de um carro. A história,
real, é uma das que a atriz revelou na peça Amigos
para Sempre, que esteve em cartaz em São Paulo até
domingo 6.
Foto:
Prensa Três
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Com o escritor
Rubem Braga, que ameaçou se matar se Tônia o deixasse |
Aos 77 anos,
Tônia só deixou os palcos para retornar à tevê.
Nos próximos dias, ela volta em Esplendor, nova novela das
seis da Globo, como a atriz francesa Mimi Melody. Na emissora, sua
última novela foi Sassaricando, em 1990. Depois, fez Sangue
do Meu Sangue, em 1998, no SBT. Sem trabalho há dois anos,
bateu à porta da Globo e conversou com a diretora-geral,
Marluce Dias da Silva, e o diretor de criação, Daniel
Filho. "Adoro fazer novela", diz. A primeira na Globo
foi Pigmaleão 70, em 1970. Em 1980, brilhou em Água
Viva.
Tônia
começou no teatro, a contragosto do marido Carlos. "Ele
não queria que eu fosse atriz. Quando atendia ao telefone,
dizia que Tônia Carrero não existia", diz. Nos
palcos, conheceu Paulo Autran. Os dois namoraram por quase dois
anos, no início dos anos 50. "Me apaixonei e ainda estava
casada com Thiré. Mas nossa grande paixão foi o teatro",
conta. Autran não detalha o romance, mas exalta a amiga.
"Nos palcos, fazia brincadeiras para o público e nem
sempre me segurava", conta. "Mas Tônia não
ria. Era impossível fazê-la rir. Ela sabia se controlar."
A mãe
da atriz, a dona-de-casa Zilda Portocarrero, também achava
um absurdo a profissão da filha. "Depois que ela morreu,
descobri debaixo da sua cama recortes de jornais e revistas sobre
tudo o que eu fazia", conta. Quando criança, Tônia
nem podia fazer balé. "Ela alegava que eu acabaria no
palco." A paixão pelas artes ficou mais forte quando
Tônia conheceu, através de amigos do marido, os poetas
Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos e Vinícius
de Moraes, que passaram a freqüentar seu apartamento em Ipanema.
"Cantávamos a noite toda com Vinícius, que não
largava o violão", lembra. Deslumbrado com sua beleza,
o poetinha escreveu versos para Tônia, que viraram a música
"Formosa".
Ao contrário
de Vinícius, Drummond virou o rosto ao ser apresentado à
atriz, nos anos 40. "Depois, ele me disse que era difícil
me encarar no auge dos meus 21 anos", conta. O rosto e o corpo
de Tônia, chamada pelos amigos de Mariinha, impressionavam.
Em 1952, seu perfil foi reproduzido nas moedas de dez cruzeiros.
"Tinha 30 anos e fiquei lisonjeada", conta. Tônia
estrelava os filmes da produtora Vera Cruz e encantou o diretor
de teatro Adolfo Celi, seu segundo marido por 11 anos. Apaixonado,
deixou Cacilda Becker, com quem mantinha um caso havia um ano, para
se casar com a atriz. "Cacilda levou a história a sério
e paramos de nos falar", lembra Tônia. Só 11 anos
depois, separada de Celi, se reconciliou com a colega. "Disse
a ela que ficara com Celi porque, no fundo, queria ser ela",
conta Tônia. "E Cacilda disse: 'Sempre soube disso'."
Foto: Reprodução |
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Em 1961,
em Ipanema: musa de poetas e escritores |
Com o terceiro
marido, o engenheiro César Thedim, viveu 15 anos. "Nelson
Rodrigues nem acreditou quando soube que me casaria de novo",
lembra. "Disse que eu era mulher de um amor só."
Com mais de 20 peças no currículo, nos anos 50 Tônia
montou, com o ator Paulo Autran e Adolfo Celi, uma companhia de
teatro. "Após sete anos, Celi e Autran saíram
e eu continuei", diz. Ela ainda mantém a companhia,
TAC - Tônia, Autran e Celi -, da qual o filho Cecil Thiré,
56 anos, é sócio. "Mamãe é uma
mulher exuberante", diz o ator. "Concentrada no trabalho,
não dá papo. Fora isso, é acolhedora e generosa."
Tônia
não quis mais ter filhos. Nem tentou. "O Thiré
não queria e ficou furioso comigo quando soube da minha primeira
gravidez", conta. A atriz escondeu do marido até o terceiro
mês de gestação. "Depois, acabou aceitando",
conta. Hoje, ela se orgulha ao ver o filho e dois de seus quatro
netos, Luíza, 28 anos, e Carlos, 27, seguindo sua carreira.
Eterna vaidosa, Tônia - bisavó de Vítor, 6 anos,
e Juliana, 3, filhos de Luíza - é a favor dos recursos
para cultivar a beleza. "Plástica para mim é
uma questão de higiene, de amar a si próprio",
diz. A atriz se submeteu a três cirurgias para suavizar rugas.
"É mais simples e bonito a pessoa que conserva seu rosto
do que aquela que se entrega."
Ela
mantém a forma com aulas de alongamento três vezes
por dia. Quando jovem, foi sondada para posar nua, mas não
quis. "Minha formação era outra", diz. Recentemente,
concorreu ao título de mais bela do século num concurso
do Fantástico. Sobre a eleita, a atriz Maria Fernanda Cândido,
Tônia faz elogios, mas atribui muitos deles ao sucesso em
Terra Nostra: "Tomara que daqui a 50 anos ela tenha a vontade
de vencer como eu tenho agora."
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