Em um dos sets de gravação de Dois Filhos
de Francisco – filme que narrará sua história
ao lado do irmão Zezé Di Camargo – o cantor
Luciano (Welson David, de batismo) faz os técnicos
gargalharem, especialmente quando imita uma garota aspirante
a Wanessa Camargo. “Eu sou Uaaaanessa! Uanessa Camargo”,
brincava, com voz de menina adolescente, e emendava sob o
olhar atento de Zezé. “Vou ficar famosa, ter
minha melissinha, meu batom!”. Sob uma das tendas do
set (que simulava uma arena de rodeio), o cantor
que já vendeu mais de 20 milhões de discos relembrou
momentos difíceis e reconheceu alguns erros. Hoje,
aos 31 anos, está feliz ao lado de Flávia Fonseca
Camargo, 25, com quem está casado há um ano.
Vivendo o terceiro casamento e pai de Wesley, 15, Natan, 9,
e da filha adotiva Talita, 29, Luciano planeja reverter a
vasectomia feita em 1998 na clínica Roger Abdelmassih,
onde também mantém sêmen congelado. Se
a reversão não der certo, o cantor planeja um
bebê de proveta.
Por
que contar a história da dupla no cinema?
Nossa história é a de muitos brasileiros, mas
nem todos
podem fazer um filme. É uma história de muita
batalha, exemplo de dois heróis verdadeiros.
No
filme, a atriz Natália Lage interpreta Cleu, sua primeira
mulher (Antônia Cleurileide, que se casou grávida,
aos 14 anos, com Luciano, que tinha 15).
Como foi esse flash back?
Quando me casei, aquilo foi um presente de Deus. Depois que
me separei, um ano depois, minha relação com
a Cleu virou um inferno. A carga negativa era muito grande.
Nunca respondi à altura as ofensas dela, nem aquelas
que ela fez na televisão, quando foi ao Programa
do Ratinho dizer que eu tinha me negado a dar um teclado
ao Wesley – e ele nunca tinha me pedido um. Hoje ela
é madura, podemos conversar. Até porque temos
um filho de 15 anos e ele, como todo adolescente, tem problemas
e precisa de apoio.
Vocês
conversam, sem problemas?
Conversamos! Não falo e não cumprimento os pais
dela.
Ele (o pai) brigava comigo por coisas banais, me culpava
pela gravidez. Pedi para o pessoal (os roteiristas do filme)
não mostrar minha relação com eles, porque
moramos todos juntos e sofri muito. Era uma relação
conturbada.
Você
cresceu em Goiânia, longe do Zezé, que já
batalhava pela carreira em São Paulo. Como você
via essa luta dele?
Sempre fui fã do Zezé e acreditava que ele era
famoso em São Paulo, o maior sucesso! Via ele chegando
de Maverick para visitar a gente naquele nosso mundinho, na
periferia de Goiânia, ficava encantado! Só entendi
quando me mudei pra São Paulo (para formar a dupla,
em 1990) e vi as dificuldades.
Quais
dificuldades?
Muitas vezes, vi faltar coisas para comer em casa. Ele ganhava
pouco como compositor. Mas tudo bem, eu não desanimei,
porque sentia que eu estava lá para somar e fazer sucesso,
sabia que aquele período seria curto. E foi mesmo.
Em cerca de um ano começamos a fazer sucesso.
Já
se sentiu à sombra do Zezé?
Já, isso é natural. Em algumas entrevistas,
o Zezé fala e eu fico observando. Muitas pessoas já
falaram que eu sempre estive à margem do Zezé,
mas isso nunca me incomodou. Somos como uma empresa, que pode
ter mais de um conselheiro, mas só um presidente. Eu
dou a minha opinião, mas ele decide.
Como
foi despontar para a fama aos 18 anos e ter
muitas mulheres querendo sair com você?
(Enfático) Foi horrível! Hoje, olho para trás
e vejo que,
como pessoa, foi ruim, porque me veio a arrogância.
Hoje, eu entendo que o que me faz bonito é a música
e não o meu corpo.
O
sucesso o deixou arrogante?
Nossa Senhora! Com todo mundo, com as fãs... Eu era
metido demaaais!! Me achava o bonitão, a bola da vez.
Eu queria estar cada dia, cada show com uma mulher diferente.
Mas isso nem foi o pior, o ruim era o jeito que eu tratava
as pessoas. Depois de três anos de carreira, veio o
equilíbrio. Você viaja o Brasil e o ser humano
vai ensinando muita coisa. Você vê o contraste
do País. Via gente me pedindo ajuda e pensava: eu,
que um dia sonhei ser alguém e conquistei isso, estou
aqui com uma pessoa que se sente um ninguém tendo em
mim uma esperança.
Você
é muito emotivo?
Quando eu conheci o Thiago (Mendonça, que interpreta
no filme Luciano no início da carreira) me emocionei
muito. Eu me vi nele. A gente se abraçou forte e chorou
muito. As pessoas tinham me falado: “Esse menino é
como você, é pura emoção”.
Quando vejo meus pais contando nossas histórias, por
exemplo, me emociono. Se vejo um cachorro sofrendo na rua, eu
choro, cuido dele. Sempre me questiono: será que o ser
humano foi dotado desde o princípio dos tempos de inteligência
e razão? Será que a emoção não
foi fabricando a razão?
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