Exposição - Escultura
Amílcar
de Castro
O maior escultor brasileiro vivo mostra a
arte de domar o ferro
Foto: Sérgio
Amaral/AE
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Ligia Canongia
O artista mineiro
Amílcar de Castro é considerado o maior escultor vivo
do Brasil e, aos 80 anos, demonstra um vigor surpreendente. Sua
obra foi construída nos anos 50 a partir do contato com o
artista suíço Max Bill e, desde então, desenvolve-se
como transformação sensível da geometria.
A unidade original
de trabalho é o plano, justamente o elemento que contradiz
a essência da escultura, que é a tridimensão.
Mas, é a partir do plano, de dobras e cortes nele efetuados,
que Amílcar suspende o objeto, com uma simplicidade genial
- que o escultor romeno Brancusi dizia bastar para captar toda a
complexidade do mundo. A exposição que Amílcar
de Castro está apresentando no Rio de Janeiro divide-se em
dois lugares: esculturas de médio porte e telas no Centro
de Arte Hélio Oiticica, e esculturas monumentais na Praça
Tiradentes.
As esculturas
partem de uma intervenção mínima realizada
na chapa de ferro - o corte, a dobra ou ambos - para fazer nascer
formas de extrema expressividade. Com um único gesto, o artista
tira a matéria de sua inércia e a transforma em um
espaço ativo. Amílcar doma o ferro, retira seu peso
e sua densidade originais, descobrindo nele uma leveza e uma docilidade
inesperadas. Clareza e despojamento são os atributos dessas
peças, que acompanham o esforço moderno de desmaterializar
o volume. São desenhos no espaço.
Quanto às
telas, que o artista não reconhece como pintura, apesar de
usar o linho e a cor, apresentam-se também como desenhos,
só que "pictóricos". É ainda o gesto
direto e a precisão da linha que as orienta. Parece, porém,
que o traçar imediato desse gesto e dos recortes espaciais
no plano não se realiza com a mesma desenvoltura dos desenhos
propriamente ditos. O tempo riscado da tinta é outro e, mesmo
que Amílcar use vassouras para pintar, para que a linha direta
se cumpra mais rápida e integralmente, expondo os rastros
do instrumento, nunca é tão eficaz quanto o movimento
do nanquim sobre o papel. Alguns retoques de tinta, visíveis,
traem a pureza dessa operação.
A alma mineira
do ferro
Até 26 de março - Centro Cultural Hélio Oiticica
- Rua Luís de Camões, 68 - Rio de Janeiro
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