Resumo
do capítulo 1 e 2:
Depois de conhecer o cinema na infância, nas
sessões do Cine Colombo, e o comunismo na juventude,
no Colégio do Estado, onde conheceu a futura mulher,
Nelson interrompeu a faculdade de Direito para ir à
França. Lá, foi apresentado ao cineasta que
lhe deu o primeiro emprego. Premiado pelo primeiro filme,
Rio 40 Graus, que gerou uma campanha nacional contra
sua proibição, o cineasta foi à antiga
Tchecoslováquia e voltou desiludido com o PCB. Na
casa da mãe de Glauber Rocha, preparou-se para filmar
Vidas Secas, que terminou virando outro filme.
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Ele
era chamado de pai do Cinema Novo, que teve como expoentes
Glauber Rocha e Cacá Diegues: Não
sei por que inventaram essa história. Todo mundo
bebeu da mesma
fonte do neo-realismo italiano, diz |
Ao
achar a solução para evitar o desperdício
de toda a estrutura montada em Juazeiro, na Bahia, para
a filmagem de Vidas Secas, impossibilitada devido às
chuvas que assolaram a região, Nelson Pereira dos
Santos acabou criando um outro problema. Escrito pelo cineasta,
o roteiro de Mandacaru Vermelho, uma trama romântica
com ares de faroeste, previa um número bem maior
de personagens. O jeito foi completar o elenco com a equipe
mobilizada para o projeto original.
Os assistentes de direção Luís Paulino
dos Santos e Ivan de Souza aceitaram o desafio, mas ainda
faltava alguém para interpretar o mocinho da história.
O diretor pensou em Geraldo Del Rey, que dois anos depois
se consagraria em Deus e o Diabo na Terra do Sol,
de Glauber Rocha, mas desistiu por questões financeiras.
Sobrou então para o próprio Nelson. Entrei
fazendo um canastrão. Foi horrível, mas tinha
que fazer alguma coisa, justifica o cineasta.
O
sonho de filmar Vidas Secas seria realizado dois
anos depois da estada em Juazeiro. Em 1962, mesmo
ano do nascimento de sua filha caçula, Márcia,
Nelson partiu para Palmeira dos Índios, em Alagoas.
Lançado em 1963, o filme conquistou diversos prêmios
internacionais e representou o Brasil no Festival de Cannes
do ano seguinte, onde foi muito bem recebido. Porém,
ninguém no elenco
fez tanto sucesso quanto Baleia, a cadela vira-lata da história
de Graciliano Ramos.
Comprada numa feira de Palmeira dos Índios, a cadela
fez história logo na sua aquisição.
Ao vê-la embaixo de uma barraca, Nelson acertou a
compra do animal com o homem que estava atrás do
balcão, que exigiu uma condição: que
seu sobrinho, um menino que também estava ao lado
da barraca, trabalhasse no filme. Já durante as filmagens,
o diretor ficou sabendo de toda a verdade. O menino
me disse que não era sobrinho do homem e que a cadela
também não era dele. Estava ali embaixo da
barraca por acaso, se protegendo do sol, conta, sem
conter o riso, o cineasta.
Em Cannes, Baleia também deu o que falar. Um dos
pontos altos de Vidas Secas é a cena da morte
da
cadela. De tão realista, gerou protestos de associações
de proteção aos animais, que condenaram os
realizadores do filme pelo assassinato da cadela. Diante
de toda a polêmica, a Air France acabou oferecendo
uma passagem para que Baleia, que estava no Rio de Janeiro,
na casa de Luís Carlos Barreto, diretor de fotografia
do filme, fosse a Cannes. Ligaram para a Lucy (Barreto)
oferecendo a passagem e a Baleia embarcou. Fomos pegá-la
no aeroporto e ela foi a grande vedete do festival,
lembra o hoje produtor cinematográfico Luís
Carlos Barreto, que acompanhava Nelson naquela viagem.
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