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“É
fácil imaginar o avanço que terá,
um dia, o comércio em toda essa imensa
e rica bacia, sem rival no mundo. Todavia, para
essa medalha do futuro existe o reverso. O progresso
só se faz em detrimento das raças
indígenas. Sim, no Alto Amazonas, muitas
raças de índios já desapareceram
(...). No Putumayo, embora ainda possam ser
encontrados alguns yuris, os yahuas abandonaram-no
para refugiar-se em afluentes longínquos” |
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Conhecido
como um escritor visionário, Júlio Verne (1828-1905)
assinou alguns dos mais famosos clássicos da literatura
infanto-ju-
venil, como Viagem ao Centro da Terra e Vinte Mil
Léguas Submarinas. Entre os mais de 80 romances
escritos por ele, há uma incursão
por terras brasileiras que acaba de
ser lançada no País, A Jangada (Planeta,
372 págs., R$ 38).
Verne narra a surpreendente viagem do fazendeiro Joam Garral,
de Iquitos até Belém do Pará, para
casar sua filha, Minha, com um amigo do irmão dela,
Manoel. Na verdade, trata-se de um pretexto para reparar
uma injustiça da juventude, quando Joam foi condenado
à morte por ter roubado um diamante.Para isso, Joam
manda construir uma enorme jangada, a partir da derrubada
de “uma floresta inteira”, na qual há
espaço para a Casa Grande, a capela, tabas para os
índios e senzalas para os negros. É o componente
fantasioso, combustível sem o qual os romances de
Verne não poderiam ser reconhecidos como dele.
O escritor jamais colocou seus pés no Brasil, mas
conheceu a família real brasileira. Estudou tudo
o que podia sobre a geografia, a fauna e a flora da região,
além das estruturas sócio-econômicas.
Se há algo que pode ser criticado, é um certo
didatismo, a moral colonialista do final do século
19 e o exagero de algumas descrições. Fora
isso, A Jangada pode ser uma leitura altamente instrutiva
e divertida.
A Amazônia segundo Júlio Verne
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