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Integrantes
do corpo de bombeiros transportam o corpo da modelo em 3 de
agosto de 2001 |
Profissionalmente,
a primeira conseqüência da tragédia foi
a licença da função que exerceu durante 23
anos. Myrian não voa desde a morte da filha e deve tirar
o seguro pela perda definitiva da carteira de aeronauta. “Cada
vôo é uma tripulação, são amigos
diferentes. A emoção é complicada
e como chefe de equipe tenho que ter o vôo na mão.
Emocionalmente instável, não posso assumir a responsabilidade”,
explica. Também mudou de endereço. Deixou o sítio
de Itaboraí, no interior do Rio de Janeiro, onde morou desde
que Fernanda tinha 12 anos, e se instalou
num apartamento na zona sul carioca. “Lá tinha a distância
da família, as recordações e os problemas de
cidade pequena. Em qualquer supermercado que entrava tinha um silêncio,
depois um falatório baixo e as cabeças se virando
na minha direção. Era complicado”, diz.
MENSAGEM
ESPÍRITA
Quando começou a se recuperar, Myrian adquiriu o hábito
de navegar pela internet em busca de notícias antigas da
filha, numa forma de reviver os melhores momentos da modelo e de
suprir a própria carência. Foi assim que encontrou,
em março do ano passado, um texto sobre Fernanda que lhe
chamou atenção. Da correspondência com a autora,
Tammy Luciano, surgiu a idéia do livro, do qual Myrian participou
ativamente. “Isso me deu forças para enfrentar minha
perda”, conta a mãe da modelo. Apesar da recobrar o
ânimo, só um ano após começar a trabalhar
no livro conseguiu interromper um hábito adquirido com a
morte da filha: o de ligar para o celular de Fernanda para escutar
o recado da caixa postal que permanecia gravado com a voz da modelo.
“Era absurdo, mas eu tinha a necessidade de ouvir a voz dela”,
justifica.
Outro
alento veio das oito mensagens recebidas de dois centros espíritas
no Rio. Em todas elas, algumas enviadas por uma professora de Fernanda
na época do primário, a modelo dizia estar bem e conformada
com seu destino. A comissária tem absoluta certeza da veracidade
de pelo menos um dos recados, em que a filha se refere às
violetas e margaridas plantadas pela mãe no peitoril da janela
de seu apartamento. “Ninguém do centro tinha ido à
minha casa”, afirma Myrian.
Católica,
a mãe de Fernanda diz não ter coragem de presenciar
as manifestações nos centros, mas as considera reconfortantes.
“É um remédio para a alma. Um alívio
para outros pais que perderam seus filhos, porque mostra que existe
a continuidade”, afirma a comissária. É no livro,
portanto, que Myrian espera passar a idéia de que a filha
está bem. E para escrever a história de Fernanda,
contou com a ajuda dos amigos, colegas e das pessoas mais importantes
da vida da modelo.
Uma
delas, o empresário Ike Cruz, que foi casado com Fernanda,
é quase um filho para a ex-sogra. Desde a morte da ex-mulher,
manteve o hábito de passar todo Natal na casa da família
Vogel. “Me ajuda a superar a perda, saber que fiz, e ainda
faço, parte de uma família. A Fernanda foi importante
pra mim no campo pessoal e profissional. Saí da casa dos
meus pais pra morar com ela. Ver a felicidade da Myrian hoje é
prioridade pra mim”, disse Ike à Gente.
Separada
desde janeiro do segundo marido, Jorge, pai de
seu filho caçula Eduardo, 14, e que cuidou de Fernanda desde
os 6 anos, Myrian ainda faz duas sessões semanais
de terapia e toma remédios para conviver com a dor da
perda da filha. Ela já decidiu que parte da renda do livro
será destinada a uma instituição de caridade.
É uma das maneiras que encontrou para pôr em prática
seus novos objetivos de vida. “Quero agora transformar a dor
em amor. Homenagear a Fernanda e fazer o bem.”
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