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“Não
tenho a menor vergonha de dizer que quero ser gostado’, diz
Moacyr Góes, que está em cartaz com Dom
e lança Maria, Mãe do Filho de Deus,
Xuxa Abracadabra e Show de Verão até
janeiro de 2004’
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É
noite de 19 de agosto, no Palácio dos Festivais, na cidade
gaúcha de Gramado. Moacyr Góes está prestes
a assistir à primeira exibição pública
de Dom e descobrir a diferença fundamental entre teatro
e cinema: “É que cinema não tem coxia para eu
me esconder na estréia. Tive que ficar na platéia
e foi horrível”. Diretor teatral premiado com três
Shell e dois Molière, Moacyr debuta no cinema com uma homenagem
a Dom Casmurro, de Machado de Assis, com Maria Fernanda Cândido
e Marcos Palmeira. Nos palcos e nas telas, o diretor garante não
ter medo da crítica, mas da platéia. “Não
tenho a menor vergonha de dizer que quero ser gostado. Não
aprecio vaias”, diz o diretor, que já passou por isso
quando recebeu o Prêmio Shell por Antígona em
1993.
A busca pelo público pode explicar por que Moacyr Góes
será o único diretor brasileiro a estrear três
filmes neste ano. Além de Dom, em cartaz nos cinemas,
ele rodou Maria, Mãe do Filho de Deus, produção
com o Padre Marcelo Rossi que estréia dia 10 de outubro,
está filmando Xuxa Abracadabra, que chega no final
do ano, e em seguida faz Show de Verão, com Angélica,
que será lançado em janeiro de 2004. Por conta disso,
2003 foi o primeiro em 20 anos de carreira em que o diretor não
esteve no teatro. “Preciso muito fazer uma peça no
ano que vem, porque o teatro é a minha casa”, diz.
Todos os filmes são resultado da parceria com o produtor
Diler Trindade. “Chamei porque
o Moacyr é um excelente diretor de atores. E percebi que
ele não tinha preconceito com
o popular”, afirma o produtor. “Ele é o sonho
de todo produtor, respeita prazos e orçamentos”, completa
Diler. Moacyr não hesitou em aceitar os projetos comerciais
para
os quais foi convidado. “É fundamental que eu me exercite
na linguagem cinematográfica
se quiser continuar, até porque tenho certeza de que não
serei aquele cineasta de um
filme a cada cinco anos. Se for assim, fico no teatro”, diz.
Não que não tenha existido dúvida quando Diler
ofereceu o longa-metragem de Xuxa. “Acho a Xuxa legal, mas
fiquei pensando no que aquilo poderia trazer de bom”, conta
o diretor. “E vi que não poderia deixar de passar por
essa experiência. É mais um filme, é mais um
momento. Não é o momento definitivo”, afirma.
Os doze anos de análise foram fundamentais para ele ver as
coisas sem grilos, como costuma dizer. A terapia, inclusive, o ajudou
a decidir enfrentar a paternidade, aos 38 anos. “Miguel é
meu melhor espetáculo”, derrete-se Moacyr sobre o menino
de 5 anos. Tanta relutância tinha apenas um culpado: o trabalho.
“Achava que um filho poderia cortar minha liberdade, porque
sou um workaholic praticante. Quando saquei que poderia continuar
pensando em trabalho 24 horas por dia e num filho 48 horas por dia,
vi que não podia me privar da experiência”, conta
ele, casado com a atriz Flávia Guimarães. O diretor
torce para que Miguel não queira seguir sua profissão.
“É muita exposição. Não tenho
herança, preciso trabalhar. Mas já pensei em largar
tudo”, conta. É o que explica o esconderijo na coxia
cada vez que estréia uma peça. Só que, com
tantos filmes para lançar, Moacyr Góes ainda vai sofrer
muito na platéia. 
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