Quem
pensa que o caminho dos tijolos amarelos só existe no mundo
mágico de Oz está enganado. Para policiais de vários
países, ele tem um endereço bem real: Quantico, no
estado americano de Virginia, dentro de uma base militar que se
estende por cerca de 1.550 km2 e na qual funciona a academia do
FBI, a Polícia Federal norte-americana. Em junho, a delegada
brasileira Fernanda Herbella percorreu os 15 km da Yellow Brick
Road, escondida na mata densa. Acompanhada por 11 policiais
americanos, ela correu em labirintos, saltou obstáculos,
rastejou em poços de lama sob arame farpado e escalou cordas.
Eu apenas pensava: Sou mulher, vou vencer. Sou brasileira
e vou fazer bonito para o meu país. Não posso ficar
para trás, recorda-se Fernanda, que conseguiu chegar
ao final.
A
recompensa não estava no Palácio de Esmeraldas, mas
nas mãos de Robert S. Mueller, diretor do FBI. A Yellow
Brick Road era a última prova de um curso que durou dez
semanas e contou com 230 alunos 205 americanos e 25 estrangeiros.
A mais jovem, Fernanda Herbella, 25, entrou para a história
da polícia brasileira ao ser a primeira delegada do País
a receber um diploma do FBI. Além de aulas diárias,
das 8h às 17h, e palestras semanais, o treinamento da delegada
incluiu o estágio de um fim de semana na polícia de
Nova York, acompanhando policiais em patrulhas. Dentro daquelas
viaturas modernas, com computador de bordo e toda a tecnologia,
parecia que eu fazia parte de um filme, diz Fernanda, que
não larga sua pistola 380 nem quando vai ao cinema com o
noivo, que é juiz. O policial não descansa nenhum
dia. Eu indicio e prendo muita gente e, por isso, corro perigo a
todo momento.
De
volta ao Brasil no início do mês, a delegada assumiu
seu posto na delegacia da polícia civil, no aeroporto de
Congonhas, decidida a usar a experiência adquirida para desvendar
fraudes em caixas eletrônicos e nos sistemas informatizados
das companhias aéreas, além dos golpes
de estelionatários as ocorrências mais comuns
em Congonhas. Entre as disciplinas do curso oferecido pelo
FBI, escolheu técnicas de interrogatório, antiterrorismo
e investigação de homicídio e crime sexual.
Optei por ma-
térias que posso aplicar na polícia paulista. Mas
não posso revelar o que aprendi, diz a delegada.
Acostumada
ao ambiente de delegacia desde pequena o pai é delegado
e a mãe policial , Fernanda nunca teve dúvidas
quanto à profissão. Sempre quis ser delegada,
diz ela, que começou a carreira como investigadora de polícia,
em 1997. Fluente em inglês e alemão, Fernanda era muito
requisitada no meio policial para auxiliar em congressos internacionais,
convidando palestrantes americanos e organizando os serviços
de apoio, como escolta e reservas de hotel.
Foi
assim que estreitou o relacionamento com policiais americanos e
traçou sua rota até a Yellow Brick Road. Havia menos
de um ano que ela era delegada quando recebeu uma ligação
misteriosa da embaixada americana. Um padrinho secreto a indicara
para fazer o curso no FBI e em menos de um mês ela embarcou
rumo ao sonho americano. É o desejo de todo policial
fazer esse curso no FBI. Eu não pude fazê-lo, mas a
Fernanda realizou o sonho por ela e por mim, diz o pai Pedro
Herbella, 64, delegado da classe especial.
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