Quase duas semanas
depois do término das filmagens de Cazuza O Tempo
Não Pára, Daniel Oliveira, de 26 anos, já
não exibe a semelhança física com o cantor
que levou às lágrimas a mãe do músico,
Lucinha Araújo. Recuperou cinco dos 11 quilos perdidos para
viver Cazuza em seus últimos meses de vida. Os efeitos do
bronzeamento artificial e do relaxamento nos cabelos também
não existem mais. Porém, muito da personalidade do
compositor ficou: o jeito sacana, muitas vezes irônico, os
palavrões e o cigarro. São características
do Cazuza, ele que me soprou, diz o ator.
O jeito
Cazuza de Daniel impressionou de cara os diretores do longa,
Sandra Werneck e Walter Carvalho, ainda nos testes para o papel.
Numa das etapas, os candidatos se viam diante do resultado positivo
de um exame de aids. A maioria ficava triste e chorava. O
Daniel se emocionou, amassou o papel e o colocou na boca como se
fosse engoli-lo, conta Sandra. Foi um dos únicos
que mostrou uma atitude Cazuza. Durante a preparação
para o filme, o ator também surpreendeu a fonoaudióloga
Marise Müller, encarregada de dar a ele, um ator mineiro, um
sotaque mais carioca. Professora de Cazuza e até hoje amiga
da família, Marise se emocionou ao notar que Daniel chegava
a seu consultório da mesma maneira que o antigo aluno: subindo
os degraus de dois em dois, correndo. Ouvindo histórias contadas
por ela e também por Lucinha, o ator se espantava com a espontaneidade
de Cazuza. Ele falava o que vinha na cabeça e vivia
abertamente seus desejos.
Daniel
adianta que isso estará bem claro no filme, como numa cena
de amor com o ator Eduardo Pires, que vive um namorado do músico.
Ando nu até a cozinha, onde a gente começa a
se agarrar e a se beijar, de verdade. Acabamos no sofá,
conta ele, que se prepara para os comentários que virão.
Mas o pior já passou: enfrentar aquela saliva de macho,
brinca. A única mulher com quem Cazuza se relaciona no longa
é vivida por Débora Falabella, namorada de Daniel
há quase três anos. É urucubaca dela,
diz. Na tevê fiz um padre, agora faço um gay.
Quando vou beijar uma garota, é ela?, diverte-se. Brincadeiras
à parte, ele assegura que foi a melhor escolha. Débora
também. Somos tão íntimos que isso transparece
na tela.
O
casal deverá voltar a trabalhar junto em breve, na minissérie
Um Só Coração. Será o terceiro
trabalho do ator na Globo, depois de A Padroeira (2001) e
Malhação (2000). Os dois têm planos ainda
de encenar uma peça juntos. Imagina poder viajar pelo
Brasil com um espetáculo ao lado dele, exclama Débora,
que convidou o namorado para passar parte de suas férias
com ela no Nordeste, onde está a trabalho. Antes de se juntar
a ela, Daniel visita outras duas paixões em Belo Horizonte:
a mãe Aurora e a irmã Iolanda. Seu pai, Geraldo, faleceu
há sete anos. O ator lembra dele com carinho. Principalmente
do que viveu a seu lado no Iraque, em razão de um emprego
de almoxarife que Geraldo conseguira numa empresa brasileira. Tinha
oito anos, mas não esqueço das vezes em que ele levava
a família toda para um piquenique à beira do Rio Eufrates.
Daniel
nunca abriu mão de seus sonhos. Aos 21 anos, deixou a família
em Minas Gerais e mudou-se para o Rio de Janeiro sozinho e sem dinheiro.
Tinha convite para atuar em Brida,
na extinta TV Manchete, mas a emissora faliu antes mesmo de a produção
ir ao ar. Pegava água num museu próximo de casa
e com o que economizava comprava miojo, cenoura e ovo, lembra
ele, que hoje, com seu trabalho, consegue ajudar a mãe e
a irmã.
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