Foi
numa conversa com o pintor Di Cavalcanti, no bar do hotel
Glória, no Rio, que Joel Silveira teve a idéia
de observar e contar os hábitos da elite paulistana,
que vivia seu auge, enriquecida pela indústria durante
a guerra. “Os Grã-Finos em São Paulo”
saiu em 1943 na revista Diretrizes, de Samuel Wainer,
causou alvoroço e irritou muitos. Em A Milésima
Segunda Noite da Avenida Paulista (Companhia das Letras,
216 págs., R$ 31), a reportagem volta à tona,
assim como outros textos do jornalista, hoje com 85 anos.
Quando
estava fazendo a reportagem, tinha idéia do rebuliço
que causaria?
Jamais poderia calcular. Foi uma explosão. Um grupo
de grã-finos levou uns capangas para a saída
do meu hotel.
Mas fui prevenido e chamei o pessoal do Grêmio 11
de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Uns 40 estudantes vieram me defender, entre eles, um quarto-anista
chamado Jânio Quadros.
Tinha
vontade de ver a reportagem publicada novamente?
A idéia foi da editora.
Depois de tanto tempo, não imaginei que fossem republicar.
Como o material era grande, vai sair um segundo livro, no
ano que vem.
Qual
a diferença entre a alta sociedade de 1943
e a de hoje?
Hoje não há grã-finos,
prevalece quem tem dinheiro.
E as classes estão todas misturadas. Antes, havia
os tradicionais quatrocentões e a colônia italiana,
chefiada
pelo conde Matarazzo, que, aliás, conseguiu o título
porque era amigo de Mussolini.
Assis
Chateaubriand apelidou o sr. de víbora. Por quê?
Não sou víbora,
nunca ataquei ninguém. Sempre levei tudo
para o lado do bom humor, da malícia, do sarcasmo.
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