A
literatura de Chico Buarque sempre se diferenciou em estilo
de sua música e até mesmo de seu teatro. Adepto
dos temas populares, do carnavalesco, do lírico e
até do humorístico em letras e melodias, o
cantor lançou mão de narrativas angustiantes
e difíceis de digerir em seus dois romances, Estorvo
(1991) e Benjamim (1995).
Com seu novo e esperado livro, Budapeste (Companhia
das Letras, 176 págs., R$ 29,50), o Chico escritor
se aproxima do compositor. A história, que sorveu
dois anos da criatividade do artista, é poética,
cômica e tem tudo para se tornar best-seller –
não apenas porque o marketing (campanha publicitária
na internet, display exclusivo e banners) em torno do lançamento
está sendo excepcional ou porque o autor possui o
Brasil inteiro de fãs, mas também porque se
trata de uma deliciosa leitura.
Chico nunca esteve na capital da Hungria, mas é lá
que seu protagonista José Costa faz uma escala forçada
durante o vôo Istambul-Frankfurt, voltando do encontro
anual de autores anônimos. Em Budapeste, o ghost-writer
carioca de monografias, cartas de amor, reportagens e até
de um best-seller se descobre obcecado pelo incompreensível
idioma local, “única língua do mundo
que, segundo as más línguas, o diabo respeita”.
Com idéia fixa de aprender o húngaro, ele
passa a viver entre o Rio e Budapeste, entre Vanda, sua
esposa, e Kriska, sua professora de húngaro, entre
prosa e poesia, e entre ser José Costa e Zsoze Kósta.
Identidade dupla
|