De onde veio a idéia
de Seja o Que Deus Quiser?
Seja o Que Deus Quiser! é um aprofundamento de Como
Nascem os Anjos, meu filme anterior. Mas Anjos ainda
era moralista. Neste, não se salva ninguém. Há
uma suspensão, por isso ninguém se identifica com
os personagens. Quis fazer assim porque o Brasil é um país
difícil de analisar. A racionalidade não dá
conta do Brasil. É um país complexo.
Você fala da
desigualdade social brasileira, mas não numa chave realista,
como Cidade de Deus.
Quis trabalhar na chave shakesperiana da ironia. Acho que é
uma forma eficaz
de pensar o Brasil, pelo riso, pela sátira. E não
há conclusão nenhuma, o filme
deixa um espaço de incômodo.
Mas acha que as pessoas
vão se ver no filme?
A proposta não é essa. Não é de identificação.
A idéia é criar um estado de suspensão irônico
para levar à reflexão. O filme não pretende
ser sociológico. Mas mostra que o Brasil não pode
ser levado a sério. Se você levar, enlouquece.
Os personagens paulistas
não são muito simpáticos. Tem medo da reação
do público de São Paulo?
Mas o mais bobo é o carioca! Seja o Que Deus Quiser!
não é contra São Paulo, os paulistas não
vão se sentir representados, porque o filme não é
sociológico. O filme fala de certas pessoas, não do
paulista. No Rio também tem gente com alergia a pagode. A
maior parte do Brasil dá graças a Deus que São
Paulo existe.