A partir
de agosto, chova ou faça sol na difícil questão
agrária do País, Miguel Rosseto, 43 anos, começa
sua tradicional plantação de uva. É assim desde
que seus avós chegaram da Itália no fim do século
19 e se instalaram na Serra Gaúcha. Tinham uma área
de 25 hectares onde plantavam o sustento e a uva para fazer o vinho.
O neto, agora ministro do Desenvolvimento Agrário, tem apenas
meio hectare num condomínio rural perto de Porto Alegre,
mas, usando as mesmas técnicas dos avós, consegue
feitos consideráveis. “Produzi 200 litros de vinho
no ano passado”, orgulha-se o ministro, que participa até
da artesanal separação de grãos. No ano passado
ele e um amigo passaram a noite inteira separando grão por
grão da fruta para selecionar as melhores, que seriam colocadas
no tonel.
A
uva que plantar agora Rosseto só vai colher daqui a três
anos, assim como o trabalho que está desenvolvendo no Ministério
só renderá frutos mais à frente. “Não
se faz reforma agrária do dia para a noite”, diz. “É
preciso ter dinheiro, desapropriar e indenizar num processo que
leva de 9 a 14 meses para ser concluído.” Mesmo assim
o governo espera assentar 60 mil famílias até o fim
do ano, meta considerada baixíssima pelo MST, e ilusória
para os ruralistas. “O governo está andando a passos
lentos”, reclamou o coordenador do MST, Gilmar Mauro. “O
governo está omisso e quando fala está estimulando
ainda mais as invasões de terra”, grita do outro lado
uma das líderes ruralistas do Congresso Nacional, a deputada
Kátia Abreu (PFL-TO).
No
meio dessa disputa cada vez mais acirrada, Rosseto tenta manter
a calma. E parece tranqüilo, apesar de fumar um cigarro atrás
do outro e de não se importar muito com as vitórias
de seu time, o Internacional. “Minha experiência na
vida pública me ensinou a separar o cargo da referência
partidária”, rebate ele a crítica de que estaria
do lado dos sem terra. As acusações pioraram depois
que o presidente Lula pôs na cabeça o boné do
MST. “Supervalorizaram esse fato por maldade. Por que ninguém
disse nada quando ele usou o boné afro?”, questiona.
“A surpresa nisso é que a reação revela
a opinião conservadora de alguns setores reacionários
que não querem a reforma agrária”, ataca.
Natural
da cidade de São Leopoldo, Rosseto começou cedo a
gostar da política. Tinha 18 anos e já trabalhava
numa metalúrgica quando passou a integrar assembléias
e reuniões do sindicato. “Só pensava no movimento
dos trabalhadores e por isso perdi várias namoradas”,
conta. Tornou-se dirigente sindical, ajudou a fundar a CUT e o PT
de seu Estado, e não pensava em se profissionalizar na política
até o dia que colocaram seu nome para completar as vagas
do PT para deputado federal. Foi eleito. “Foi uma surpresa,
minha vida mudou radicalmente”, contou. Não parou mais.
Em 1998 foi candidato a vice na chapa vitoriosa com o ex-governador
Olívio Dutra, mas não foi feliz na tentativa de reeleição.
Acabou sendo indicado ministro no governo. “Dessa vez vim
com a família e estamos bem adaptados à cidade”,
conta. Os dois filhos mais velhos, que fazem faculdade, ficaram
no Sul. Vieram apenas Marina, 7 anos, e Eduardo, 8 anos, filho de
seu segundo casamento, com Maria Luíza. Alugou uma casa com
piscina num bairro conhecido por Park Way, onde vez por outra recebe
amigos do governo. Invariavelmente serve vinho para as visitas e
começa a conversa contando: “Esse vinho é da
minha produção...”.
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