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O
Skank, que lança o disco Cosmotron: “Ultimamente só eu
tenho dado festas lá em casa, porque sou o menos pão-duro”,
diz o vocalista Samuel Rosa (em primeiro plano) |
- É
o pé da Ana?, – pergunta Lelo.
–
Você já a levou ao médico?, – indaga Henrique.
–
Não é picada de mosquito?, – sugere Haroldo.
O
pé em questão é o da filha de um ano de idade
do vocalista e guitarrista do Skank Samuel Rosa, que aparecera inchado
dois dias antes. Assim como faz parte da rotina
do Skank se reunir para a divulgação do novo disco,
Cosmotron, trocar informações
sobre a intimidade também tem vez a cada intervalo na agenda
da banda mineira.
Juntos há 12 anos, Samuel, 35 anos, o baixista Lelo Zaneti,
35, o tecladista Henrique Portugal, 37, e o baterista Haroldo Ferreti,
34, se vêem como uma família. “A gente encontra
conforto um no outro para suportar ficar longe de casa e viajar
o tempo todo”, explica Samuel, o mais falante. Fora a incompatibilidade
no futebol – o vocalista e
Henrique são cruzeirenses e Lelo e Haroldo torcem para o
rival, Atlético Mineiro –,
não há motivos para brigas. As mulheres de cada um
são amigas, os filhos idem e
os integrantes têm quase a mesma idade. Portanto, qualquer
reclamação soa como provocação. “Ultimamente
só eu tenho dado festas lá em casa, porque sou o menos
pão-duro”, instiga Samuel, para protesto geral.
A
união é uma das fórmulas de sucesso do grupo.
O que começou como uma brincadeira virou uma mina de ouro.
Amigos desde que tocavam em festivais em Belo Horizonte, os quatro
se juntaram em 1991 para ganhar uns trocados acompanhando um cantor
canastrão que imitava Elvis Presley. Um ano depois lançaram
o primeiro disco, o independente Skank, que vendeu 250 mil
cópias, e em 1993 já estavam contratados pela gravadora
Sony. Hoje, seus seis discos somam a marca de cinco milhões.
Um resultado surpreendente, como alerta Henrique, o único
divorciado: “A gente teoricamente não era para dar
certo. Uma banda de reggae em Belo Horizonte?”.
O
deslumbramento com a rápida virada na vida e na carreira
foi natural. Eles passaram a participar de programas de tevê
e tiveram seus discos lançados em países da Europa.
“Achamos que tudo era um conto de fadas. A não ser
o cansaço, tudo era bom”, conta Samuel. O encantamento
acabou em 1998, quando lançaram Siderado. “Houve
um patrulhamento exagerado. Ficou parecendo que a última
banda que podia soar Skank era
o próprio, porque o nosso estilo de fazer música deu
certo comercialmente”, afirma o vocalista. “Era como
se soasse meio aproveitador”, conclui ele, que afirma não
fazer concessões à indústria fonográfica,
e sim negociações, como se apresentar em playback
na tevê. “A gente não quer fazer música
para o umbigo”, diz.
Siderado
simbolizou o início de uma nova etapa. Além do velho
estilo, ali estavam também músicas que fugiam um pouco
do formato. A venda de 600 mil cópias injetou ânimo
para uma guinada que seria sentida no disco seguinte, Maquinarama,
e em Cosmotron, cuja influência não é
mais o reggae, mas os Beatles e o Clube da Esquina. “Não
faria o menor sentido compor como se tivéssemos 26 anos.
Amadurecemos”, ressalta Samuel. A aproximação
com o movimento de Milton Nascimento e Lô Borges, entre outros,
se deu por iniciativa de Lô, quando gravou a canção
“Te Ver”. “Foi um espanto mútuo quando
nos encontramos e descobrimos que eles gostavam do Clube da Esquina,
e eu gostava do Skank”, conta Lô, justificando sua surpresa
pelo fato de ter visto bandas mineiras rechaçarem o Clube
para evitar comparações. Hoje, freqüentam a casa
um do outro, e ele e Samuel montaram um show no qual cantam músicas
dos dois.
O
Skank continua fiel às suas raízes, apesar do sucesso.
Todos moram em BH e, para ficarem mais tempo com suas famílias,
construíram um estúdio na cidade. “A ameaça
de ter de mudar de cidade sempre foi um fantasma”, diz Samuel.
Lá, vivem uma rotina
que em nada lembra a de astros. Enfrentam fila de banco e buscam
os filhos no colé-
gio. “É uma maneira de ver que não existe só
o mundo do show business e não levar
isso muito a sério”, explica o vocalista. 
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